Minerais essenciais são necessários na dieta do animal para manter a boa saúde e a produtividade, assegurando também a fertilidade. Dentre os macroelementos, isto é, os elementos minerais necessários em maior quantidade (g/dia), estão cálcio (Ca), magnésio (Mg), fósforo (P), potássio (K), sódio (Na), cloro (Cl) e enxofre (S). Dentre os microelementos, necessários na dieta em pequenas quantidades diárias (mg/dia), temos: cromo (Cr), cobalto (Co), cobre (Cu), iodo (I), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni), selênio (Se) e zinco (Zn). Esses elementos minerais são consumidos nas forrageiras e concentrados, na água de beber e nos suplementos minerais. Os bovinos precisam consumir uma determinada quantidade de minerais de boa qualidade na dieta (exigências nutricionais) para terem saúde e bom desempenho. Se os minerais necessários na dieta estão em pouca quantidade ou estão desequilibrados, a suplementação mineral pode corrigir essa situação.
Para que a mistura seja formulada corretamente, são necessárias informações sobre as características da região, exigências nutricionais, estimativas de consumo e da qualidade da dieta. As fontes de minerais utilizadas devem ser palatáveis, de bom valor biológico e relativamente livres de contaminantes tóxicos, como o flúor. O consumo adequado de mistura mineral de boa qualidade é indispensável para o sucesso da suplementação.
Muitos minerais essenciais estão deficientes nas pastagens nas condições tropicais. Estudos mostraram carências generalizadas de fósforo, sódio, zinco e cobre no Brasil, bem como deficiências de iodo e de cobalto. Existem também indicações de desequilíbrios em regiões específicas, como deficiência de manganês no norte do Mato Grosso e excesso deste no Pantanal Sul-matogrossense. Alguns minerais foram relativamente pouco estudados. O selênio, por exemplo, foi avaliado de maneira sistemática no Estado de São Paulo, e as análises de sangue e de forrageira indicaram ser necessária a sua suplementação nessa região. Outros Estados não dispõem de informações tão completas.
O enxofre também carece de informações mais detalhadas. É possível que regiões arenosas, sujeitas a queimadas periódicas, sejam particularmente propensas a apresentarem concentrações de enxofre no solo relativamente baixas, já que esse elemento está associado principalmente à matéria orgânica do solo. Essa menor disponibilidade de enxofre para o capim poderia resultar em concentrações de enxofre mais baixas na planta. Vale ressaltar, no entanto, que são tantos os fatores que interferem na quantidade de minerais que vão estar disponível para os processos metabólicos do bovino, que existe boa relação entre as concentrações de mineral no solo e a situação nutricional do animal apenas para cobalto e selênio. Na Austrália conseguiu-se também forjar uma boa relação entre as concentrações de fósforo disponível no solo e as chances de resposta dos animais suplementados, mas no Brasil ainda não se encontrou um extrator de fósforo do solo que permitisse chegar a esse resultado.
Apenas para exemplificar a complexidade das interações entre minerais, vale lembrar que encontrou-se deficiência condicionada de cobre na região de Rondonópolis (MT) causada pelo consumo de capim colonião rico em enxofre, presente na proteína. O enxofre pode formar complexos insolúveis com o cobre, que estava em concentrações normais no capim, reduzindo a disponibilidade do cobre para o bovino.
Não é necessário fornecer na mistura mineral todos os minerais essenciais. Procura-se corrigir as deficiências e os desequilíbrios da dieta, lançando-se mão do máximo de informações de que se dispõe sobre a situação do produtor: tipo de rebanho e produtividade (quanto maior o desempenho de um animal, seja em ganho de peso ou na produção de bezerro, maior suas necessidades nutricionais), localização geográfica, histórico do rebanho, etc.
Geralmente procura-se suplementar 100% das exigências de microelementos potencialmente deficientes na região, como zinco, cobre, cobalto e iodo. Dentre os macroelementos, são geralmente suplementados sódio, fósforo, magnésio e enxofre. Apenas uma pequena parte das exigências de macroelementos é suplementada pelas misturas minerais, exceto no caso do sódio. As concentrações de sódio nas forrageiras costumam ser muito baixas (uma exceção é a Brachiaria humidícola) e geralmente suplementa-se 100% do sódio necessário na dieta. A água pode ser uma fonte importante de sódio para bovinos (como nas baías salinas do Pantanal Sul-matogrossense), e nesse caso, o sódio suplementado pela mistura mineral deve ser reduzido.
O sódio é o principal controlador do consumo das misturas minerais. Os bovinos têm apetite específico pelo sódio e, em teoria, vão ingerir sódio até atender suas necessidades desse elemento. Por essa característica, o sódio é usado como veículo para o consumo de outros minerais essenciais. A forma mais comum de suplementar o sódio é por meio do cloreto de sódio, o sal comum. Um bovino adulto precisa de aproximadamente 27g de cloreto de sódio por dia. À fonte de sódio são acrescentadas as fontes de outros elementos minerais essenciais, como óxido de zinco, sulfato de cobalto, iodato de potássio, selenito de sódio, entre outras. Estima-se que uma mistura mineral que tenha pelo menos 30% de cloreto de sódio seja bem consumida. Caso o consumo da mistura mineral esteja muito abaixo do desejado, pode-se utilizar palatabilizantes, como melaço em pó.
A deficiência de fósforo é generalizada no Brasil, e pode levar ao apetite depravado, aumentando os riscos de botulismo. Fêmeas em lactação são a categoria do rebanho mais predisposta ao botulismo. Existe uma relação direta entre deficiência de fósforo e o apetite por ossos. A correta suplementação de fósforo aliada à destinação adequada de carcaças podem contribuir bastante para minimizar a ocorrência dessa doença.
De maneira geral, considera-se que a mistura mineral deva fornecer de quatro a nove g de fósforo/cabeça/dia. A quantidade de fósforo suplementar depende da categoria animal (animais jovens precisam de mais fósforo que animais em acabamento por quilo de ganho de peso, para formação dos ossos) e do nível de produção (um bovino de 200 kg de peso vivo em mantença precisa de 4,7 g de fósforo/dia; esse mesmo animal precisará de 10,2 g de fósforo/dia se estiver ganhando 500 g/dia). Novilhas de primeira cria, com exigências para a formação de feto e seus anexos e para crescimento, precisam de mais fósforo que vacas secas.
As respostas à suplementação mineral são geralmente maiores, no Brasil Central, durante a estação chuvosa. Deficiências de proteína e energia na seca limitam o desempenho dos animais e assim reduzem as necessidades de minerais para ganho de peso. Assim, a concentração de fósforo pode ser reduzida na mistura mineral fornecida a novilhos de recria e de engorda se estão perdendo peso ou apenas em mantença.
No caso de vacas em reprodução, que têm exigências para produção do feto e de leite, a suplementação de fósforo na seca pode ser importante. As vacas parecem responder à suplementação de fósforo durante a lactação, aumentando a digestibilidade e consumo de matéria seca, assim como a produção de leite.
Os animais têm a capacidade de acumular reservas de minerais e utilizá-las em períodos de restrição. Reservas de cobre e vitamina B12 no fígado, selênio no músculo e fígado, cálcio e fósforo nos ossos, reduzem a necessidade de atender aos requisitos desses minerais numa base diária. Assim, apesar da deficiência de minerais na dieta, o animal pode permanecer em bom estado por alguns meses, dependendo da severidade da deficiência e de suas reservas. Outros minerais não são armazenados em quantidade suficiente para darem proteção nos períodos críticos (manganês, zinco, sódio), ou suas reservas não estão suficientemente disponíveis (magnésio), e devem ser fornecidos constantemente aos animais.
Maria Luiza Nicodemo
Embrapa Gado de Corte
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