Poupança (de fósforo no solo) é um bom investimento?
Por Roberto Reis - Eng. Agr., D.Sc. – Wirstchat
No manejo do bicho mineiro, praga de maior importância para o cafeeiro nas regiões de clima quente e seco, é importante aumentar o rol de ferramentas disponíveis para auxiliar na redução populacional deste inseto. Neste sentido, o uso de predadores naturais e a adoção de quebra-ventos, como os constituídos por Leucena e Guandu arbóreo, tem grande potencial para prevenir infestações e ajudar no controle.
O bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Méneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é considerado a praga de maior importância para o cafeeiro nas regiões de clima quente e seco, superando a broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae). É uma praga exótica, que tem como região de origem a África tropical, introduzida no Brasil provavelmente em mudas de cafeeiros (Coffea spp.) atacadas e provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon, em 1851. É praga monófaga, que ataca somente cafeeiro.
O surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix, no início da década de 1970 pode ser considerado um marco para colocar o bicho-mineiro no status de praga. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia, a pleno sol, com o objetivo de controle da doença propiciam ambientes favoráveis para a multiplicação do inseto, que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar.
O inseto adulto é uma pequena mariposa com 6,5 mm de envergadura, de coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso as asas anteriores cobrem as posteriores.
Coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagartinha ao eclodir penetra diretamente para o interior da folha, sem entrar em contato com a parte externa. Nessa fase a lagarta vive dentro da lesão ou minas por ela mesma construída, e quando completamente desenvolvida mede aproximadamente 3,5 mm de comprimento.
A lesão causada pela lagarta apresenta o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções sob a epiderme foliar. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade.
De modo geral, e principalmente nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do terço superior do cafeeiro devido a maior insolação, temperatura e vento, o que retira a umidade das folhas e favorece a praga.
Após o completo desenvolvimento a lagarta abandona a folha pela superfície superior da mina e com o auxílio de um fio de seda desce até as folhas baixeiras para empupar em casulo construído também com fios de seda e no formato da letra X.
O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 dias e 87 dias, sendo o mais curto em temperaturas mais elevadas, daí a severidade da praga em regiões mais quentes. A fase de lagarta, que é a que causa dano, dura de 9 dias a 40 dias, passando por três fases (ecdises) e podem ocorrer de 8 a 12 gerações ao ano.
As lesões ou minas, causadas pelas lagartas, reduzem a capacidade foliar de fotossíntese em função da redução da área foliar. Também, em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo devido à distribuição da praga, e em consequência há redução na produção de café. Lavouras intensamente desfolhadas podem levar até dois anos para se recuperarem.
As pesquisas mostram que o nível de controle para L. coffeella encontra-se entre 26% a 36% de área foliar lesionada, após o que começa a ocorrer prejuízos na produção de café.
No Sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido uma desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993 também foram constatados altos prejuízos, com redução na produção entre 34,3% e 41,5%.
A presença do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores: (1) climáticos - temperatura e chuva principalmente; (2) condições da lavoura - lavouras mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas e (3) presença ou ausência de inimigos naturais - parasitoides, predadores e entomopatógenos (fungos e bactérias).
Épocas do ano com temperaturas mais elevadas e maior déficit hídrico são condições propícias para o desenvolvimento da praga. Lavouras mais arejadas, com maior espaçamento entre plantas estão mais predispostas ao ataque do bicho-mineiro. Em geral, os cafeeiros em locais de maior altitude em uma mesma lavoura de café estão mais sujeitos ao ataque da praga, por esses locais propiciarem condições ideais para a sua ocorrência, como maior exposição aos ventos e consequentemente maior insolação e menor umidade do ar.
As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, com início em junho e pico em outubro, sendo menor antes e após esses meses, geralmente, nas principais regiões cafeeiras do Brasil. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como frequentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga, ao contrário, a temperatura exerce influência positiva.
A predação, ou seja, o controle natural das lagartas do bicho-mineiro feita principalmente por vespas predadoras (Hymenoptera: Vespidae) apresenta aproximadamente 70% de eficiência. Cerca de 18% do controle natural é feito por micro himenópteros parasitoides.
A preservação de áreas de vegetação natural próximas aos cafezais pode desempenhar papel importante na estratégia de conservação e aumento das vespas predadoras e parasitoides. Áreas de vegetação natural, ou regenerada, adjacentes às culturas possibilitam que espécies sensíveis às práticas culturais encontrem refúgio em seu interior. A definição de táticas de manejo dessas plantas próximas da cultura do cafeeiro poderá ser usada como uma das estratégias complementares na regulação populacional de artrópodes-praga, contribuindo para a redução gradual da dependência de produtos de proteção de plantas, promovendo o desenvolvimento sustentável do agroecossistema cafeeiro. A utilização de faixas de leguminosas (Fabaceae) arbóreas (aléias) como quebra-ventos pode reduzir o ataque de pragas em virtude de oferecer barreiras que dificultarão a entrada de insetos que são propagados pelo vento, modificar o microclima tornando-o desfavorável às pragas como o bicho-mineiro e aumentar a incidência de inimigos naturais por oferecer abrigo e alimentos alternativos.
O estudo da influência de aléias de leguminosas (Fabaceae) arbóreas, ou quebra-ventos, na incidência de bicho-mineiro em cafeeiro foi objeto de pesquisa. O trabalho foi realizado na Fazenda Experimental da Epamig, em São Sebastião do Paraíso/Minas Gerais. Foi utilizada a linhagem de cafeeiro Topázio, de porte baixo, no espaçamento adensado na linha (3,4m x 0,5 m). As fabáceas utilizadas como aléias, ou quebra-ventos, foram o Guandu arbóreo (Cajanus cajan), Gliricídea (Gliricidia sepium), Leucena (Leucaena leucocephala) e Acácia (Acacia mangium), plantadas perpendicularmente ao sentido dos ventos predominantes. As avaliações da incidência de bicho-mineiro foram efetuadas mensalmente entre os meses de abril, início da infestação, e outubro, pico da praga na região, por meio da contagem de folhas minadas. A incidência da predação por vespas foi avaliada com a contagem de minas "predadas", pela observação das rasgaduras feitas pela vespa nas lesões. Também foram determinadas quais as espécies de vespas presentes, o que foi feito pela captura de espécimes com armadilhas adesivas de cor amarela (24cm x 9,5cm) distribuídas nas parcelas no mês de outubro de cada ano (pico da praga), colocadas dependuradas no centro de cada parcela e na mesma altura das plantas de cafeeiro.
Estão apresentados e discutidos os resultados obtidos em 2009 após uma poda das aléias na altura dos cafeeiros no ano anterior (2008) e em 2010 com as leguminosas já no seu porte normal.
Em 2009, após uma poda das aléias na altura dos cafeeiros no ano anterior, o nível de controle do bicho-mineiro (NC = 30% de folhas minadas) foi observado desde o mês de maio até final de setembro em todos os tratamentos, ocorrendo a redução de folhas minadas somente em outubro com o início das chuvas na região, quando ocorre o início de um novo enfolhamento nos cafeeiros. Não foi observada, portanto, diferença entre o efeito dos diversos tipos de quebra-ventos e o tratamento controle ou testemunha sem quebra-ventos (Fig. 1).
Em 2010, já com as leguminosas em porte normal, foi observado que os cafeeiros com influência da Acácia e Gliricídia, apresentaram menor infestação da praga até o mês de julho, igualando-se à testemunha, e aqueles sob a influência do Guandu e Leucena até o final do mês de setembro, período em que geralmente começam as chuvas, mostraram que não haveria necessidade da utilização de nenhuma outra medida de controle à praga além daquela naturalmente exercida pelos inimigos naturais e condições de microclima proporcionadas por essas duas leguminosas, Leucena e Guandu (Fig. 2).
As espécies de vespas predadoras (Hymenoptera: Vespidae) mais abundantes na área experimental foram Polybia scutellaris (44,7%), Brachygastra lecheguana (23,8%), Protonectarina sylverae (10,5%) (Fig. 8), Polybia ignobilis (7,9 %), Polybia sericea (2,6%) e Polybia sp. (10,5%).
Os resultados permitem concluir que quebra-ventos, como aqueles constituídos por Leucena e Guandu arbóreo são eficientes na prevenção da infestação do bicho-mineiro, seja por dificultar a entrada dos insetos nos cafezais, constituindo uma barreira física, quer pela conservação de inimigos naturais próximo aos cafeeiros, ou por proporcionarem condições de microclima desfavoráveis à praga no cafezal sob influência dos quebra-ventos. Além desses resultados, do ponto de vista da redução do ataque da praga, as plantas de múltiplo uso que servem de quebra-ventos podem ser utilizadas como lenha para secar o café em secadores mecânicos e de cobertura morta, neste último caso incorporando nutrientes aos cafeeiros, após a decisão de podá-los, tornando a cultura do café mais autossustentável.
Artigo publicado na edição 219 da Cultivar Grandes Culturas, mês agosto, ano 2017.
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Uso de fungicidas é uma importante ferramenta de controle sempre que associada a outras estratégias de manejo; é indispensável direcionar esforços para prevenir a seleção de isolados de fungos menos sensíveis ou resistentes