A cultura de milho representa cerca de 12 milhões de hectares cultivados, sendo que a área plantada sofreu um pequeno decréscimo no decorrer dos últimos anos. Em compensação, ocorreu um aumento da produção de grãos em função de ganhos na produtividade. Este aumento na produtividade pode ser atribuído ao uso de tecnologia, destacando-se em especial um melhor controle de plantas daninhas através do uso de herbicidas.
É bastante conhecida a ação das plantas daninhas, causando enormes prejuízos em relação à qualidade e quantidade de grãos. Não sendo devidamente controladas, as plantas daninhas crescem e se tornam cada vez mais competidoras com a cultura em relação à água, à luz solar e aos nutrientes minerais.
As plantas daninhas depreciam a qualidade do produto, tanto por dificultar seu desenvolvimento e beneficiamento, quanto por alterar suas características, além de encarecerem as práticas agrícolas e servirem de hospedeiras para pragas e doenças. Exemplo desse último caso é o fato de que foram encontrados nematóides em raízes de invasoras como apaga fogo (
), capim pé de galinha (
), anileira (
) e mentrasto (
), o que pode representar um possível potencial de risco para o milho e para outras culturas sucedâneas.
Uma pergunta freqüente dos produtores de milho é com relação à melhor época para a aplicação do herbicida. Segundo Silva & Silva (1987), para se obter maiores níveis de produtividade, a cultura do milho deverá ser mantida no limpo desde a emergência até o pendoamento. Com o advento dos herbicidas de pós-emergência para a cultura do milho, é necessário destacar até que ponto esses produtos podem ser usados sem que ocorram perdas significativas na produtividade da cultura em decorrência da interferência exercida pelas plantas daninhas no período anterior à aplicação.
As informações apresentadas aqui sobre os períodos de matocompetição na cultura do milho foram tiradas de experimentos de campo conduzidos nas seguintes instituições:
• Departamento de Horticultura / ESALQ / USP, Piracicaba, SP, Professores A. L. Fancelli e D. Dourado-Neto
• UEPG, Ponta Grossa, PR, Professor Wilson Store.
• Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, Mestrando Neimar de Freitas Duarte (UFLA – Departamento de Agricultura).
Soma Calórica
No ensaio conduzido em Piracicaba, SP, foi anotado o número de graus dia durante o desenvolvimento da cultura, correlacionando-se a fenologia da cultura com a soma calórica observada nos respectivos períodos (18/12/97 a 8/5/98). Os dados encontrados demonstram que, em relação à emergência, foram necessários seis dias e 100 0C para as plantas de milho atingirem o estádio de duas folhas (pós-emergência precoce), 27 dias e 428 0C para atingir o estádio de sete folhas (pós-emergência tardia), 49 dias e 801 0C para atingir o pendoamento e, finalmente, 122 dias e 1.830 0C para completar o ciclo e atingir a maturidade fisiológica. Em regiões mais frias, dependendo naturalmente do cultivar utilizado, o ciclo poderá ser maior e o número de dias para atingir-se cada fase, poderá ser diferente do que foi observado em Piracicaba, SP.
Plantas daninhas
Em Sete Lagoas, MG, ao lado da fenologia do híbrido duplo BR 205, foi realizada também a fenologia da papuã ou capim marmelada (
) e do leiteiro, também conhecido como amendoim bravo (Euphorbia heterophylla). Os dados obtidos em Sete Lagoas mostram que no estádio de duas folhas do milho (pós-emergência precoce), o leiteiro estava com apenas um par de folhas e o capim marmelada (papuã) não havia perfilhado ainda, indicando que os tratamentos convencionais a base de atrazine seriam adequados para o seu controle. Já no estádio de três folhas do milho (pós-emergência inicial), o capim marmelada (papuã) apresentava o primeiro perfilho, indicando a necessidade do uso de nicosulfuron (Sanson 40 SC) para o seu controle (Silva, 1997). A partir do perfilhamento do capim marmelada (papuã), os tratamentos a base de atrazine precisam da adição de nicosulfuron, em mistura no tanque, para o controle efetivo dessa gramínea.
Perdas de Produtividade
Considerando-se o estádio de duas folhas (pós-emergência precoce) como um estádio de referência, onde em nenhum dos ensaios foi observada uma perda significativa na produção de grãos, foi calculado o percentual de perdas para cada tratamento e em cada local, estabelecendo-se os índices de perda para cada período em que a interferência das plantas daninhas foi permitida.
A interferência das plantas daninhas nos estádios iniciais (de três a cinco folhas do milho, com a lígula visível) foi inconsistente e pouco significativa. Considerando-se a média das três localidades, as perdas percentuais observadas foram 2,07, 2,72 e 4,02, respectivamente para os estádios de três, quatro e cinco folhas do milho, com a lígula visível. Esta observação evidencia a possibilidade de uma maior flexibilidade para o início do controle de plantas daninhas na cultura do milho. Dependendo do tamanho da lavoura, o produtor tem a possibilidade de iniciar a pulverização na pré-emergência, antes do milho nascer, e extender o programa de controle até a pós-emergência normal (milho com seis folhas abertas).
Observadas as condições de um bom preparo do solo (gradagem dentro do período de 24 horas que antecipa o plantio) ou uma dessecação eficiente no sistema de plantio direto, a pulverização de herbicidas pode estender-se até o estádio de seis folhas do milho, com a lígula (bainha) ainda não visível, sem que hajam perdas significativas no rendimento de grãos. Considerando-se o início da pulverização na fase de pré-emergência, o produtor teria cerca de 21 dias para completar sua tarefa de pulverização.
A partir do estádio de seis folhas, com a lígula (bainha) visível(pós-emergência tardia), as perdas percentuais já foram mais consistentes, variando esses índices de 6 a 8,69% quando a capina foi iniciada no estádio de seis folhas e de 5,92 a 11,66% quando foi iniciada no estádio de sete folhas. Considerando-se a média das três localidades, as perdas percentuais foram 7,40% e 9,59%, respectivamente para os estádios de seis e sete folhas. Esta observação demonstra que o controle das plantas daninhas na cultura do milho deve ser realizado o mais cedo possível, evitando-se operações tardias, além do estádio de seis folhas, com a lígula ainda não visível. Na pós-emergência tardia (a partir da sexta folha aberta, já com a lígula visível), as perdas são mais acentuadas e significativas, representando um prejuízo certo para o produtor.
As perdas percentuais verificadas nos tratamentos onde a capina se estendeu até o final do ciclo e naqueles onde a capina foi interrompida no estádio de 11 folhas (Piracicaba, SP) ou no pendoamento (demais locais), não foram diferentes significativamente. Considerando-se a média das três localidades, quando a capina se estendeu até o final do ciclo, os percentuais de perda foram 2,07%, 2,72%, 4,02%, 7,40% e 9,59%, respectivamente para os estádios de três, quatro, cinco, seis e sete folhas. Quando a capina foi realizada até o estádio de 11 folhas ou até o pendoamento, os percentuais foram, respectivamente para os mesmos estádios de início da capina, 1,25%, 4,61%, 7,88%, 8,81% e 12,39%.
As observações acima corroboram a afirmação de Silva e Silva (1987) de que o controle de plantas daninhas na cultura do milho deve ser estendido até o pendoamento, não havendo necessidade de controle após esse estádio. O uso de um herbicida de longo efeito residual, capaz de ultrapassar o estádio do pendoamento do milho, poderia trazer conseqüências danosas para culturas susceptíveis semeadas em sucessão ao milho.
Conclusões Importantes
• Quando a capina foi iniciada nos estádios iniciais (até a abertura da sexta folha), as perdas na produção de grãos em relação à pós-emergência precoce (duas folhas) não foram significativas, atingindo em média 2,94%.
• A partir da sexta folha, com a lígula já visível, a interferência das plantas daninhas foi mais acentuada do que nos estádios anteriores. As perdas percentuais atingiram, na média de três locais, 7,40% para o estádio de seis folhas e 9,59% para o estádio de sete folhas.
• As perdas percentuais verificadas quando a capina foi realizada somente até o pendoamento não foram diferentes significativamente das observadas quando a capina se estendeu até o fim do ciclo.
• Os dados fenológicos da papuã ou capim marmelada observados em Sete Lagoas, MG, demonstram que aos 11 DAE, quando a cultura se encontrava no estádio de três folhas, a gramínea já estava emitindo o primeiro perfilho, evidenciando a necessidade precoce da mistura em tanque com nicosulfuron.
• O controle de plantas daninhas na cultura do milho deve ser realizado o mais cedo possível, não ultrapassando o estádio da abertura da sexta folha do milho e devendo estender-se pelo menos até o pendoamento.
(continua)
João Baptista da Silva
Consultor
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