Manejo correto de plantas daninhas

Ao mesmo tempo em que a agricultura brasileira mudou para enfrentar os desafios impostos por plantas daninhas, observa-se reação da flora tanto na diversidade como na tolerância a herbicidas; neste processo dinâmico ganha força a revitalização de soluções já existentes, como o uso de pré emergentes

28.11.2022 | 16:55 (UTC -3)

Ao mesmo tempo em que a agricultura brasileira mudou para enfrentar os desafios impostos por plantas daninhas, observa-se reação da flora tanto na diversidade como na tolerância a herbicidas. Neste processo dinâmico ganha força a revitalização de soluções já existentes, como o uso de pré emergentes. Contudo é preciso ter em mente que se trata de apenas uma das respostas e não da única solução para o problema.

Nos últimos 20 anos a agricultura brasileira sofreu profundas mudanças no manejo de plantas daninhas. Entre as inúmeras alterações vale destacar o aparecimento de espécies resistentes aos principais herbicidas e a criação e uso de plantas transgênicas resistentes a glifosato e glufosinato de amônio.

Ao mesmo tempo, como resultado de tanta evolução, houve uma reação da flora de plantas daninhas tanto na diversidade como na tolerância aos herbicidas mais frequentes. Trata-se do dinamismo da natureza claramente demonstrando a sua força de reação às tentativas de imposição do homem.

No momento vive-se uma fase de nova transformação. Como ondas que vão e voltam as técnicas de controle de plantas daninhas se assemelham a esses movimentos. O uso de herbicidas pré emergentes teve seu momento de glória no passado em várias culturas como a soja, milho, algodão entre outras. Depois, os herbicidas pós emergentes seletivos como do grupo dos inibidores de ALS e ACCase tiveram um período de prevalência, posteriormente substituídos pelo glifosato com as plantas transgênicas Roundup Ready e GlyTol (soja, milho e algodão).

Alta infestação de capim-amargoso resistente ao glifosato
Alta infestação de capim-amargoso resistente ao glifosato

Como resultado adverso da facilidade de manejo das plantas daninhas proporcionada pela inovação ocorreu uso intensivo destas tecnologias, muitas vezes sem critério. Isso teve como reflexo a seleção de plantas daninhas tolerantes e resistentes a esses herbicidas, algo perfeitamente normal quando se exerce esta pressão de seleção. Assim, a próxima “onda” exige medidas mais difíceis e onerosas para evitar os danos das plantas daninhas.

Como as alterações na flora de plantas daninhas ocorrem de forma tão sutil, nem sempre o agricultor percebe estas mudanças em seu dia a dia. E quando sua lavoura é tomada por uma nova espécie há surpresa, como se houvesse uma explosão destas infestações. Cenário que o torna refém de controles mais drásticos.

A solução nem sempre está nas tecnologias que estão por vir como a tolerância ao herbicida Dicamba, herbicidas a base de 2,4D ou do grupo dos herbicidas HPPD, o que parece mais uma vez a forma mais eficiente e fácil de lidar com as plantas daninhas. É preciso distinguir o que são boas práticas agronômicas dos controles “fáceis” que podem disfarçar a repetição dos mesmos erros.

Uma das respostas (e não única) pode estar na revitalização de herbicidas pré emergentes. Dentro do meio científico este assunto é tema de diversos diálogos entre os especialistas em plantas daninhas, como medida de segurança, suporte e sustentabilidade das novas tecnologias. Cabe a todos os profissionais da área agrícola voltarem seus olhares para os herbicidas pré emergentes agora com uma visão voltada a evitar as falhas do passado e acrescentar os conhecimentos mais recentes.

Herbicidas pré-emergentes aplicados na cultura do algodoeiro 
Herbicidas pré-emergentes aplicados na cultura do algodoeiro 

A convivência entre todas as tecnologias de controle de plantas daninhas e as diferentes culturas pode não ser harmônica, quando não houver o uso adequado de qualquer uma dessas técnicas, sem o devido conhecimento. Como exemplo é possível elencar os riscos de resíduos ou “carry over” dos herbicidas pré emergentes para cultura posterior, quando esta for sensível.

Esta abordagem está cada vez mais frequente na agricultura desenvolvida em países como os Estados Unidos da América. As pesquisas buscam entender melhor todo o mecanismo de degradação do herbicida, o que é essencial para garantir a segurança necessária para as boas práticas agronômicas.

O surgimento de novas tecnologias de informação, com uso de sensores e imagens pode ajudar a identificar com melhor clareza todos os focos de plantas daninhas e no futuro calibrar melhor as quantidades e doses de herbicidas aplicados.

Competição de mestrasto resistente a herbicidas
Competição de mestrasto resistente a herbicidas
Presença de corda-de-viola
Presença de corda-de-viola

Para a revitalização de herbicidas pré emergentes antigos ou ainda apenas para fazer uso de herbicidas pré emergentes novos estão sendo conduzidas pesquisas com compostos capazes de proteger a cultura ou “safeners”. Diante disso há uma grande ampliação dos modelos de controle de plantas daninhas para orientar o agricultor a respeito das melhores ferramentas nesta área. Isso torna essencial a capacidade dos assistentes técnicos na elaboração dos métodos mais adequados para cada agricultor.

O sistema de manejo de plantas daninhas deve ampliar seus paradigmas e para prover a mais eficiente e eficaz solução para o agricultor, tem de buscar a melhor combinação de estratégias de controle de plantas daninhas. Isso inclui, sem dúvida, o uso de todos os recursos, inclusive os herbicidas pré emergentes na forma tradicional antes da semeadura da cultura de interesse ou depois no controle pós colheita (a critério da recomendação de um bom profissional da área agrícola).

Evaldo Kazushi Takizawa, Ceres Consultoria Agronômica

Artigo publicado na edição 231 da Cultivar Grandes Culturas, mês agosto, ano 2018.

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