Controle da mancha-de-ramulária em algodão

Manter a doença sob controle até que as maçãs atinjam a maturidade é medida indispensável para prevenir prejuízos

22.11.2022 | 16:04 (UTC -3)

Com efeitos bastante conhecidos na produtividade, a mancha-de-ramulária tem poder também para interferir na qualidade da fibra de algodão. Por isso manter a doença sob controle até que as maçãs atinjam a maturidade é medida indispensável para prevenir prejuízos.

A mancha-de-ramulária do algodoeiro, causada pelo fungo Ramulariopsis gossypii (sin. Ramularia areola), é a doença mais importante da cultura do algodoeiro na atualidade. A enfermidade pode causar reduções de produtividade de até 75%, dependendo da suscetibilidade da cultivar, inóculo inicial, condições de ambiente e das práticas de manejo empregadas para controle.

Os sintomas da mancha-de-ramulária são bem característicos e aparecem em ambas as faces da folha, inicialmente como manchas branco-azuladas na face adaxial e presença de micélio branco na face abaxial, devido à esporulação abundante. A doença pode causar danos às células do mesófilo, às membranas, ao funcionamento da maquinaria enzimática, na abertura e fechamento dos estômatos, afetando a transpiração, o influxo do CO2 e a taxa fotossintética.

O início do processo infeccioso ocorre a partir de conídios ou ascósporos produzidos sobre restos culturais de algodão ou em plantas de algodão perenizadas, constituindo-se no inóculo primário. O inóculo secundário é formado a partir da infecção das primeiras folhas e então se dissemina através de chuva, irrigação, vento, pessoas e máquinas. Desse modo, áreas com histórico de cultivo com algodão tendem a ter maior severidade da mancha-de-ramulária.

Os efeitos dessa doença sobre a produtividade do algodoeiro são bem conhecidos por cotonicultores e pesquisadores. Entretanto, além de reduzir a quantidade, a mancha-de-ramulária pode prejudicar também a qualidade da fibra de algodão, afetando características tecnológicas como micronaire, comprimento e resistência. Essas características, juntamente com outras determinadas através da análise de HVI (High Volume Instrument), são utilizadas para definir a qualidade do lote de algodão e, consequentemente, se haverá ágio ou deságio sobre o valor da venda.

A análise e classificação das fibras são indispensáveis no mercado do algodão, auxiliando produtores e compradores nas tomadas de decisão a respeito do comércio da pluma. Atualmente, o padrão de classificação oficial do algodão no Brasil é determinado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Instrução Normativa número 24, de 14 de julho de 2016.

A fibra produzida nas lavouras precisa atender aos padrões mínimos estabelecidos pela indústria têxtil e exigidos pelo consumidor final para que o algodão possa ser comercializado e industrializado. A obtenção de uma fibra de qualidade depende de diversos fatores de ordem biótica e abiótica, dentre os quais estão inclusos a genética da cultivar, tipo de solo, nutrição, condições de ambiente e ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas.

Experimentos de Campo

Foi realizado experimento de campo com a cultivar BRS 336 em Cristalina, Goiás, com o objetivo de determinar os danos causados pela mancha-de-ramulária sobre a produtividade e qualidade da fibra do algodão.  Foram avaliados tratamentos com e sem a aplicação de fungicidas e as variáveis mensuradas foram a severidade da doença, produtividade de algodão em caroço e as características tecnológicas da fibra micronaire, comprimento e resistência.

Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que a severidade da mancha-de-ramulária foi maior nas parcelas que não receberam aplicação de fungicida, que por consequência obtiveram menor produtividade (Figura 1). A diferença de produtividade entre a testemunha e o tratamento com aplicação de fungicidas foi de 76 arrobas/ha (24,5%).

Figura 1. Severidade da mancha-ramulária aos 100 dias após emergência do algodão e produtividade do algodoeiro em tratamentos com e sem aplicação de fungicida, em experimento conduzido em Cristalina/Goiás.
Figura 1. Severidade da mancha-ramulária aos 100 dias após emergência do algodão e produtividade do algodoeiro em tratamentos com e sem aplicação de fungicida, em experimento conduzido em Cristalina/Goiás.

A qualidade da fibra obtida, representada no presente trabalho pelas características tecnológicas micronaire, comprimento e resistência, foi afetada negativamente pela mancha-de-ramulária. Os valores obtidos para cada uma dessas características foram menores nas parcelas que não receberam aplicação de fungicida (Figura 2).

Figura 2. Qualidade da fibra do algodão, representada pelas características comprimento, resistência e uniformidade, em experimentos conduzidos em Cristalina/GO com e sem aplicação de fungicida, sob alta severidade da mancha-de-ramulária.
Figura 2. Qualidade da fibra do algodão, representada pelas características comprimento, resistência e uniformidade, em experimentos conduzidos em Cristalina/GO com e sem aplicação de fungicida, sob alta severidade da mancha-de-ramulária.

A fibra de algodão é constituída principalmente por celulose, que representa aproximadamente 90% do seu peso seco. O processo de deposição de celulose, responsável pela formação da fibra, é afetado diretamente pela oferta de carboidratos produzidos através da fotossíntese. A mancha-de-ramulária afeta a capacidade fotossintética da planta e consequentemente as características de qualidade da fibra.

Esses resultados alertam para o fato de que é importante manter o monitoramento das lavouras de algodão e a doença sob controle até que as maçãs atinjam a maturidade, evitando assim redução na qualidade da fibra. O controle da doença tem sido obtido através da rotação de culturas, adubação equilibrada, resistência genética de cultivares, época de semeadura adequada, manejo cultural e aplicação de fungicidas.

Nédio Rodrigo Tormen, Luiz Eduardo Bassay Blum, Ricardo Silveiro Balardin, Instituto Phytus

Artigo publicado na edição 231 da Cultivar Grandes Culturas, mês agosto, ano 2018.

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