Manejo adequado de nematoides na lavoura

Sucessão de culturas, promoção de condições ideias para o bom desenvolvimento das plantas e integração de ferramentas fazem parte do manejo adequado de nematoides

25.11.2021 | 16:10 (UTC -3)

Nematoides parasitas de plantas, presentes em praticamente todos os solos agricultáveis, são fonte de preocupação crescente entre os produtores. Com número amplo de espécies capazes de provocar reduções na produção em cultivos como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, o manejo destes microrganismos demanda sucessão adequada de culturas, promoção de condições ideias para o bom desenvolvimento das plantas e integração de ferramentas químicas, biológicas e genéticas existentes no mercado.     

A relevância de produzir mais alimentos, com menos recursos, em um sistema agrícola intensivo e altamente produtivo, alocados em cenários tropical e subtropical, contrasta também com as condições extremamente favoráveis para ocorrência e incidência de pragas e doenças.  Fatores este que ocorrem durante qualquer fase do ciclo de desenvolvimento das culturas e que culminam na redução de produtividade.

O grupo de microrganismo que tem adquirido status preocupante nos últimos anos são os nematoides parasitas de plantas. Praga de solo, organismos biotróficos (dependem única e exclusivamente das plantas para se alimentar e se reproduzir), possuem alto grau de polifagia (capacidade de parasitar um vasto número de plantas de diferentes famílias botânicas) e está presente praticamente em todos os tipos de solos agricultáveis. Há aproximadamente 20 anos, a problemática envolvendo estes microrganismos era praticamente restrita a duas espécies de importância econômica, ambas pertencentes ao mesmo gênero, quadro já ultrapassado nos dias atuais. Considerados alguns cultivos, como: cana-de-açúcar, milho, soja, algodão, feijão entre outros, o número de espécies capazes de provocar reduções na produção destas culturas é bastante amplo (Figura 1).

Figura 1- Principais espécies de cultivo associados às principais espécies de fitonematoides.
Figura 1- Principais espécies de cultivo associados às principais espécies de fitonematoides.

Os sintomas nas raízes das plantas infectadas por fitonematoides, de modo geral, podem variar desde engrossamentos no sistema radicular (conhecido como galhas), diminuição no volume e crescimento (principalmente em raízes secundarias), e destruição parcial (acompanhada por lesões escuras em vários pontos). Esse complexo de injúrias compromete o funcionamento fisiológico da planta, interferindo diretamente no fluxo de absorção e translocação de água e nutrientes, culminado na redução de produtividade.

Na lavoura, os sintomas na parte aérea das plantas ocorrerão em manchas ou reboleiras, formadas por plantas amarelecidas, seguidas de crescimento irregular e, quando em períodos mais secos, “veranicos”, podem apresentar um quadro de murchamento nas plantas. Porém, não é uma regra para todas as culturas, pois depende dos fitonematoides envolvidos, da sua densidade populacional presente na área e, dos fatores genéticos ligados à suscetibilidade da cultura frente ao parasitismo. A exemplo disso, é possível citar a cultura da cana-de-açúcar e o milho, que são mais tolerantes sobre ataques desses parasitos, podendo ou não apresentar tais sintomas.

Sintomas em raízes de soja atacadas por fitonematoide
Sintomas em raízes de soja atacadas por fitonematoide

Um método de controle amplamente utilizado é a rotação de culturas, prática que consiste na troca ou substituição de uma determinada cultura hospedeira, por uma resistente ao nematoide. No Brasil, considerando os principais sistemas de cultivo intensivo, a adoção desta importante ferramenta quase sempre não é utilizada, devido a questões ligadas a logística de trabalho, limitação de cultivos, entre outras. Em razão disso, a maioria dos produtores adotam o esquema de sucessão de culturas, porém não com o objetivo de controlar nematoides e sim maximizar o uso da terra, podendo proporcionar condições favoráveis para o aumento destes microrganismos no ambiente. Entretanto, é possível utilizar a sucessão de maneira adequada para reduzir o aumento desta praga no solo.

Milho em área infestado por Meloidogyne javanica e Pratylenchus
brachyurus, não apresentando  sintomas na parte aérea e no sistema radicular    
Milho em área infestado por Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus, não apresentando  sintomas na parte aérea e no sistema radicular    
Milho em área infestado por Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus, não apresentando  sintomas na parte aérea e no sistema radicular
Milho em área infestado por Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus, não apresentando sintomas na parte aérea e no sistema radicular

Atualmente, o aumento progressivo deste grupo de parasitos tem sido alertado por muitos pesquisadores e instituições de pesquisa, apontando os inúmeros casos de áreas onde o potencial produtivo já se encontra interligado ao bom convívio com essa praga de solo. Cabe salientar que, a erradicação ou eliminação dessas espécies, quando estabelecidas em áreas de cultivo a níveis de dano, praticamente é impossível, principalmente pela notável capacidade de sobrevivência e competição desses microrganismos no solo, pela questão dos custos e, pelo tempo de operacionalização.

Se analisarmos alguns dos fatores associados ao aumento desta praga de solo, levando em consideração o seu ciclo biológico, pelo menos três importantes eventos estão interligados.

O primeiro ligado ao cultivo contínuo de culturas suscetíveis ao longo de anos, fator que tem contribuído significativamente para o rápido crescimento populacional dessas espécies no solo, bem como sua preservação. O segundo aspecto relaciona-se ao não cuidado com trânsito de máquinas e implementos agrícolas de áreas infestadas, para áreas não infestadas, contribuindo significativamente para sua disseminação. Vale ressaltar aqui que a capacidade de mobilidade deste grupo de microrganismo no solo é muita baixa, próxima a um metro por ano. O terceiro ponto, não menos importante, é o diagnóstico do problema, quando muitos dos prejuízos causados pelos fitonematoides não são creditados pelos produtores. Seja por falta de conhecimento, confundindo-os com outros eventos, como: compactação do solo, encharcamento, deficiência nutricional, e a outros patógenos de solo, ou até mesmo, ao descrédito com a praga que, no início, provoca sutis perdas, um quadro extremamente momentâneo, pois as populações evoluem rapidamente no solo de uma safra para outra.

Fotos aéreas de lavoura comercial de soja infestada por fitonematoides
Fotos aéreas de lavoura comercial de soja infestada por fitonematoides
Fotos aéreas de lavoura comercial de soja infestada por fitonematoides
Fotos aéreas de lavoura comercial de soja infestada por fitonematoides

Nos últimos anos, o Instituto Phytus tem acompanhado diversas lavouras com sérios problemas de nematoides. Contudo, o que chama a atenção é que na maioria das áreas problemáticas, os cenários que se observa são de solos com baixa fertilidade, níveis baixíssimos de matéria orgânica, solos sem cobertura e, em alguns casos, visivelmente compactados. Ao analisar estes pontos é possível entender o quanto é complexa a tarefa de qualquer profissional na mensuração das perdas, advindas do parasitismo destes microrganismos. Além destes pontos fatores climáticos, características intrínsecas de cada espécie, a característica genética das culturas ligadas à resposta de defesa frente ao ataque das diferentes espécies de fitonematoides, bem como a densidade populacional destes microrganismos no solo, podem também determinar o grau de perda na produtividade.

Produtores devem ter cuidado com os diferentes esquemas de rotação e/ou sucessão em áreas infestadas por fitonematoides. É recomendado sempre optar por culturas que não hospedem as espécies, pragas presente na sua lavoura, caso contrário, serão proporcionadas condições favoráveis para aumento populacional no solo. Para isso, é fundamental realizar a identificação e quantificação de qual ou quais espécies estão presentes em sua lavoura, para assim, optar por um esquema (rotação ou sucessão) onde não proporcione tal condições.

A coleta para análise pode ser realizada no estádio de florescimento das culturas ou no período de 50 dias - 70 dias após implantação da lavoura. Para uma análise mais consistente, é necessário a coleta de solo e raiz em diferentes pontos da área afetada (5 pontos por ha – 10 pontos por ha), retirando ao final uma quantidade de 1-2 kg de solo e 50 g de raiz (Figura 2). Após isso, providenciar para que a amostra chegue o mais rápido possível a um laboratório para realização da análise e se possível acondicioná-la em uma caixa de isopor, para evitar qualquer alteração brusca na temperatura.         

Figura 2 – Esquema simples de coleta de solo e raízes para análise.
Figura 2 – Esquema simples de coleta de solo e raízes para análise.

O efeito da rotação ou sucessão com plantas não hospedeiras pode reduzir a densidade populacional do nematoide no solo. A troca da cultura principal quase sempre hospedeira favorável, por uma cultura não hospedeira, impede o contado patogênico do nematoide com as raízes, por um determinado período de tempo. Esse processo interfere diretamente na demanda de alimento dessa praga no solo, culminando na morte por inanição (falta de alimento), reduzindo a população no solo. Em áreas onde ocorre a presença de mais de uma espécie parasita, o cuidado deve ser redobrado, pois as opções de rotação e /ou sucessão acabam ficando limitadas.

Uma das saídas é a rotação com plantas antagonistas, que apresentam altíssima eficiência na redução populacional dos nematoides no solo. Estas plantas possuem características, tanto de imunidade ao parasitismo dos fitonematoides, quanto da liberação de substâncias tóxicas que atuam diretamente na mortalidade dos nematoides e contribuem para a rápida redução populacional no solo. Dependendo da cultura e da espécie do fitonematoide, pode atingir valores que variam de 30% a 70%. As principais espécies deste grupo de plantas são as Crotalarias, Brachiarias, Tagetes, Mucunas entre outras.

Considerações finais

A escolha adequada da cultura, no esquema de rotação e/ou sucessão, é um ponto chave no manejo desta praga de solo, porém é preciso olhar a problemática como um todo, pois não existe uma medida única e isolada capaz de resolver o problema. É necessário uma junção de práticas para otimizar o controle. Pode-se dizer que a presença do nematoide associado à baixa produtividade é o ponto principal. Entretanto, os produtores devem promover condições ideias para o bom desenvolvimento da planta. Feito isto, deve-se integrar as ferramentas químicas, biológica e genéticas existentes no mercado.     

Artigo publicado na edição 215 da Cultivar Grandes Culturas, mês abril, ano 2017. 

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