Mancha de phoma ou mancha de ascochyta do cafeeiro

Por Marcelo Cláudio Pereira e Paulo Rebelles Reis, CropTest

12.09.2024 | 10:46 (UTC -3)

A mancha de phoma, Phoma spp., é uma doença fúngica que ocorre em vários países do mundo onde o cafeeiro é cultivado em áreas de altitudes mais elevadas. A parte aérea do cafeeiro pode abrigar várias espécies do gênero Phoma. O gênero Phoma compreende mais de 2.000 espécies que estão agrupadas em nove seções, e algumas espécies são relacionadas como importantes patógenos da parte aérea do cafeeiro, se constituindo em uma de suas mais importantes doenças fúngicas, pois ocorre desde a formação das mudas no viveiro até a fase de produção do café.

No Brasil, a mancha de phoma tem como agentes etiológicos os fungos Phoma tarda (R.B. Stewart) H. Verm. e Phoma costarricensis Echandi, 1957 (Pleosporales: Didymellaceae). A P. tarda foi observada pela primeira vez na Etiópia em 1954 e a P. costarricensis foi descrita pela primeira vez em 1957 na Costa Rica. Ambas são responsáveis por uma das mais importantes doenças do cafeeiro no Brasil, a mancha de phoma ou mancha de ascochyta.

A mancha de phoma, P. tarda, que tem como sinonímia Ascochyta tarda Stewart 1957 e Ascochyta coffeae Hennings 1902, e é o principal agente etiológico da seca de ponteiros e da mancha de phoma nas folhas do cafeeiro no Brasil e na África.

Em algumas regiões produtoras de café, a doença ganhou importância devido à ocorrência de lesões nas folhas, ramos e causar queda de frutos, comprometendo a frutificação e a futura produção das lavouras.

Danos da doença

A doença causa danos como a desfolha, queda de botões florais em decorrência da necrose nos ramos ou nas rosetas, a qual pode resultar na queda indireta das flores, além da mumificação e queda dos chumbinhos, podridão seca de ponteiros e de extremidade dos ramos, resultando em perdas entre 15 e 43% da produção do cafeeiro.

No campo, a infecção começa na parte apical, no broto terminal, nas folhas tenras, ainda sem barreiras físicas de resistência, atingindo os tecidos jovens. Quando as lesões atingem as bordas das folhas, estas se encurvam, podendo apresentar rachaduras e o sintoma ser facilmente confundido com a deficiência de boro (Fig. 1).

Nas folhas do segundo e subsequentes pares de folhas, a doença produz manchas circulares de cor escura e de tamanho variado, podendo chegar a 2 cm de diâmetro (Fig. 2).

Nos ramos atacados, sintoma também chamado de seca dos ponteiros (Fig. 3), são visualizadas lesões deprimidas escuras, podendo envolver todo o seu diâmetro. 

A mancha de phoma pode, ainda, atingir as rosetas florais, necrosando de forma indireta as flores e frutos (Fig. 4).

Em temperaturas abaixo de 20ºC, umidade relativa do ar abaixo de 70% e ventos fortes, os danos são mais severos, principalmente, em regiões com altitude superior a 900 m, mesmo na ausência da chuva, mas com umidade suficiente para causar no mínimo quatro horas de molhamento foliar. A penetração do fungo é facilitada por danos mecânicos produzidos por insetos nos tecidos da planta, ou devido à colisão entre as folhas tenras causada por ventos em situações de baixa umidade relativa inferiores a 50%. Em temperaturas variando entre 15 a 20°C há um aumento, significativo, do comprimento do tubo germinativo do fungo, favorecendo a infecção do patógeno e culminando no progresso da doença com o aumento de períodos de molhamento foliar.

Independente da espécie de Phoma spp. envolvida, o fungo ataca folhas, flores, frutos e ramos do cafeeiro, produzindo lesões bem características. Os danos causados se fazem refletir diretamente na produção, uma vez que ocorre a morte das brotações novas, dos botões florais, queda de frutinhos e má granação dos frutos devido à desfolha, comprometendo o desenvolvimento e a futura produção da planta.

Os danos indiretos causados pela doença são a desfolha e a seca das extremidades dos ramos, que leva a uma redução na produção do ano e na do ano seguinte, além de produzir uma bebida de qualidade inferior.

Ataques sucessivos da doença promovem intenso brotamento dos ramos laterais, reduzindo o arejamento e a penetração de luz no interior do cafeeiro. Surtos esporádicos também podem ocorrer em mudas, nos viveiros ou no campo, se as plantas forem expostas a ventos frios, mesmo em altitudes inferiores a 900 m.

A mancha de phoma vem aumentando sua importância econômica nos últimos anos em razão dos prejuízos que causa na produção. Tem sido grande problema para instalação de lavouras cafeeiras em regiões de altitude elevada ou nos topos dos morros, como ocorre no estado do Espírito Santo e algumas localidades na Zona da Mata no estado de Minas Gerais. As maiores perdas são verificadas em plantações sujeitas à ação de ventos frios, principalmente nos anos com excesso de chuvas no inverno. A doença pode limitar o plantio de café em regiões altas, como nos chapadões do Triângulo Mineiro, Sul de Minas e oeste da Bahia.

A mancha de phoma representa, portanto, uma ameaça potencialmente séria para as lavouras de café, mas as mudanças climáticas podem reduzir a prevalência de condições ambientais favoráveis à sua disseminação.

Controle da mancha de phoma

O controle da mancha de phoma deve começar pela adoção de uma série de medidas culturais que têm como objetivo prevenir a instalação da doença e facilitar o controle químico, caso este seja necessário. Sabe-se que, em regiões de clima muito favorável à doença, o uso de fungicidas químicos por si só não apresentam um resultado satisfatório no controle da doença.

• Controle cultural: recomenda-se evitar a instalação da cultura em locais favoráveis ao desenvolvimento da doença. Em regiões com incidência de ventos constantes aconselha-se a implantação de quebra-ventos. Os viveiros devem apresentar boa drenagem e estar protegidos dos ventos frios.

A nutrição mineral, ou adubação, realizada de forma adequada e equilibrada, além de afetar positivamente a produtividade agrícola, influencia diretamente na sanidade da planta, conferindo maior resistência aos estresses biótico e abiótico. Dentre os fatores bióticos, destaca-se o aumento da resistência das plantas às doenças, protegendo-as de novas infecções e reduzindo a intensidade das infecções já existentes. Por outro lado, tanto o excesso quanto a escassez de alguns nutrientes podem favorecer as doenças, tornando as plantas mais predispostas à infecção. Assim, os nutrientes minerais podem incrementar ou reduzir a intensidade de doenças de plantas, determinando, muitas vezes, a resistência ou a suscetibilidade do hospedeiro.

• Controle químico: em áreas onde as condições são favoráveis para o desenvolvimento da mancha de phoma, o controle químico, com pulverizações foliares, deve ser feito com fungicidas (Quadro 1) de forma preventiva, iniciando no outono-inverno, visando a pré-florada e pós-florada. O controle deve seguir até que todos os frutos de café atinjam a fase de chumbinho, já que o cafeeiro apresenta várias floradas.

Por Marcelo Cláudio Pereira Paulo Rebelles Reis, CropTest

Artigo publicado na edição 292 da Revista Cultivar Grandes Culturas

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