Mancha-alvo na cultura do algodoeiro

Por Luiz Gonzaga Chitarra, Wirton Macedo Coutinho e Fabiano José Perina (Embrapa Algodão)

04.10.2024 | 16:32 (UTC -3)
Figura 1 - folhas de algodoeiro infectadas pelo fungo <i>Corynespora cassiicola</i>, agente etiológico da mancha-alvo
Figura 1 - folhas de algodoeiro infectadas pelo fungo Corynespora cassiicola, agente etiológico da mancha-alvo

A mancha-alvo do algodoeiro, causada pelo fungo Corynespora cassiicola (Berk. & Curtis) Wei, foi relatada pela primeira vez no Brasil em 1995, no Estado de Mato Grosso. Até 2005, devido a sua baixa incidência, o patógeno não causou danos significativos à cultura. Após esse período, foram relatados surtos esporádicos da doença em áreas produtoras de algodoeiro, principalmente no Cerrado de Mato Grosso. Atualmente, é uma doença amplamente distribuída que causa danos à cultura nas principais regiões produtoras de algodão do Brasil e de maior severidade nos Estados do MT, BA, GO e MS.

Corynespora cassiicola (Berk. & Curtis) Wei, é um fungo polífago que ataca cerca de 530 espécies vegetais de 380 gênero de plantas. Em algodoeiro esse fungo é capaz de infectar folhas, flores, caule e raízes de plantas, destruindo o tecido do hospedeiro para utilizar seus nutrientes. Os sintomas iniciais da mancha alvo nas folhas de algodoeiro são caracterizados por pequenos pontos circulares de coloração marrom ou arroxeado.

Com o desenvolvimento da doença, esses pontos tornam-se lesões irregulares, com anéis concêntricos de bordas cloróticas que podem variar da coloração verde escuro a marrom claro, com centro marrom escuro, podendo ou não ocorrer a abscisão de parte do tecido da folha. O número e o tamanho das lesões nas folhas podem variar. As lesões variam de 0,5 a 20 mm em diâmetro, de acordo com a evolução do patógeno no tecido foliar. Em casos severos, as lesões coalescem, causando necroses severas, seguidas por uma senescência prematura e morte da folha. A rápida desfolha é causada pela aceleração da senescência, o que torna a folha amarelada em poucos dias. As lesões também podem ocorrer em cotilédones, brácteas e em maçãs novas.

As condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do patógeno na cultura do algodoeiro são dias nublados, períodos prolongados e ininterruptos de chuva, com molhamento intenso na superfície da folha e temperaturas entre 25 ºC e 30 ºC. No algodoeiro, a doença progride mais rapidamente após o fechamento do dossel das plantas, condições essas favoráveis ao desenvolvimento do patógeno devido ao alto sombreamento das folhas do extrato inferior e médio da cultura, ocasionando intensa desfolha sob infecções severas. Outros fatores que contribuem para o rápido desenvolvimento da doença são manejo inadequado de reguladores de crescimento, menor espaçamento entre linhas do algodoeiro, população de plantas elevadas e genótipos de algodoeiro suscetíveis.

Em um trabalho recente conduzido por técnicos da Embrapa Algodão, a severidade da mancha alvo foi avaliada em 36 genótipos de algodoeiro no campo, na safra 2021/2022. Observou-se que há diferenças em suscetibilidade entre os genótipos avaliados (Figura 2).

Figura 2 - severidade (%) da mancha alvo em genótipos de algodoeiro - Ipiranga do Norte (MT),&nbsp; safra 2021/22
Figura 2 - severidade (%) da mancha alvo em genótipos de algodoeiro - Ipiranga do Norte (MT),  safra 2021/22

Em outro trabalho, realizado para avaliar a suscetibilidade de genótipos de algodoeiro à mancha-alvo, também foi verificado que todos os genótipos avaliados, em menor ou maior grau, apresentaram suscetibilidade à doença (Figura 3). Nesse mesmo trabalho foi constatada correlação linear da severidade da mancha alvo com a população de plantas, demonstrando que, à medida que se aumentou a população de plantas de algodoeiro por hectare, houve um aumento significativo da severidade da doença (Figura 3).

Figura 3 – gráfico de regressão linear para a severidade da mancha alvo em algodoeiro, causada por <i>Corynespora cassiicola</i> em seis diferentes genótipos de algodoeiro, em função do estande (plantas por metro linear), no espaçamento de 76 cm - adaptado de Perina et al., 2019
Figura 3 – gráfico de regressão linear para a severidade da mancha alvo em algodoeiro, causada por Corynespora cassiicola em seis diferentes genótipos de algodoeiro, em função do estande (plantas por metro linear), no espaçamento de 76 cm - adaptado de Perina et al., 2019

A dispersão de C. cassiicola nas principais áreas produtoras de algodão do Brasil ocorre, principalmente, por meio de chuvas e ventos. O vento é a principal via de dispersão do patógeno a curtas distâncias. Os clamidósporos, estruturas de resistência do fungo presentes no solo, também podem ser disseminados das áreas infestadas para as áreas livres do patógeno por meio de implementos agrícolas, águas da chuva e irrigação. No que se refere à transmissão do patógeno via sementes, muito embora existam vários estudos que comprovem a contaminação de sementes do algodoeiro pelo patógeno, não há evidências da transmissibilidade de C. cassiicola da semente à planta adulta do algodoeiro.

A disseminação desse fungo nas lavouras de algodoeiro no Cerrado brasileiro provavelmente está relacionada com os modelos de produção atualmente utilizados nas áreas do Cerrado, principalmente o sistema de sucessão de culturas. O sistema contínuo de sucessão soja-algodão, comum em muitas regiões agrícolas do Cerrado, pode ocasionar o aumento da população do patógeno e, em consequência, provocar a queda da produtividade do algodoeiro. Este sistema é potencialmente favorável ao desenvolvimento e disseminação do patógeno, pois tanto a soja quanto o algodoeiro, são suscetíveis à doença.

Além disso, por ter uma vasta gama de hospedeiros, a disseminação e a distribuição do patógeno nas principais regiões produtoras de algodão no Cerrado são favorecidas pelo aumento das áreas de plantio associado à inadequada eliminação de restos culturais, ao sistema de manejo do solo, à sucessão de plantio de variedades suscetíveis e/ou espécies hospedeiras cultivadas na mesma área e a condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença.

Vale ressaltar a importância do controle da altura das plantas por meio de reguladores de crescimento, da utilização de menores densidades de plantio e de maior espaçamento entre linhas. Tudo visando à maior aeração no terço inferior das plantas. Essas práticas culturais também são eficazes no controle da doença.

Assim como os métodos culturais descritos acima, o uso de fungicidas químicos é fundamental no controle do agente causal da mancha alvo do algodoeiro. Atualmente estão disponíveis no mercado com registros no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) treze fungicidas para o controle químico da mancha alvo do algodoeiro. Os grupos químicos que compõem esses fungicidas são carboxamidas, ditiocarbamatos, triazolinthiones, triazois, isoftalonitrilas e estrobilurinas. Esses grupos químicos também fazem parte dos fungicidas que são utilizados para o controle dos agentes etiológicos da mancha de ramulária, principal doença da parte aérea da cultura, e para a qual são realizadas em média, de 4 a 8 aplicações durante a safra. Essas aplicações indiretamente contribuem para o controle da mancha alvo do algodoeiro, e são imprescindíveis no manejo integrado da doença.

Por Luiz Gonzaga Chitarra, Wirton Macedo Coutinho e Fabiano José Perina (Embrapa Algodão)

Artigo publicado na edição 287 da Revista Cultivar Grandes Culturas

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

LS Tractor Fevereiro