O tomateiro para processamento industrial é a hortaliça de maior importância econômica cultivada na região de Cerrados do Brasil Central. Em 2001, a área cultivada nos estados de Goiás e Minas Gerais foi de 12.770 hectares, ou seja, 80% da área brasileira. A irrigação é realizada predominantemente por aspersão, sendo o pivô central o sistema mais utilizado.
O gotejamento vem se tornando, com a redução do custo do sistema nos últimos anos e desenvolvimento de tecnologias para o manejo da água e da fertirrigação, uma opção viável para a irrigação do tomateiro. A viabilidade econômica, todavia, está condicionada a um manejo racional da água de irrigação e da fertirrigação.
As principais vantagens do gotejamento, comparativamente à aspersão, são:
a) Incremento de produtividade entre 20 e 40% (110-140 t/ha).
b) Redução de até 30% no gasto de água.
c) Incremento de 25 a 45% na eficiência do uso de água pelas plantas (25 a 30 kg de fruto por m3 de água).
d) Menor incidência de doenças foliares (redução de 30 a 60% no uso de fungicidas).
e) Maior flexibilidade no uso da fertirrigação.
f) Incremento de 25 a 50% na receita líquida obtida pelo produtor.
Resultados de pesquisas realizadas recentemente pela Embrapa Hortaliças, visando estabelecer parâmetros para o manejo da irrigação por gotejamento e da fertirrigação, são sintetizados a seguir.
SISTEMA DE PLANTIO
O sistema de plantio deve ser realizado preferencialmente em fileiras simples (120 a 140 cm), com uma lateral de gotejadores por linha de plantio. Aumenta a produtividade em cerca de 10%, quando comparado ao sistema de fileiras duplas, com uma lateral por dupla de fileiras.
ESPAÇAMENTO ENTRE GOTEJADORES
O espaçamento entre gotejadores deve ser de 50 a 70% do diâmetro do bulbo molhado pelo emissor. Espaçamento superior a 80% do diâmetro molhado reduz a produtividade em pelo menos 10%. Para solos de cerrado, o espaçamento pode variar entre 10 e 40 cm. Avaliações de campo devem ser realizadas visando o estabelecimento do melhor espaçamento.
PROFUNDIDADE DOS GOTEJADORES
De maneira geral, as linhas laterais de gotejadores são instaladas na superfície do solo. Para minimizar os danos mecânicos e os causados por roedores à tubulação, bem como facilitar as práticas culturais e colheita, a linha lateral pode ser instalada a cerca de 5 cm de profundidade. Profundidades entre 10 e 20 cm também possibilitam alta produtividade, mas requerem o uso da aspersão, na fase inicial, para auxiliar o pegamento de mudas. Profundidades superiores a 20 cm não devem ser utilizadas em solos de cerrado.
MANEJO DA IRRIGAÇÃO
Os métodos de melhor precisão para manejo da irrigação utilizam tanque Classe A, tensiômetros ou ambos.
Na Tabela 1 (
) são apresentados parâmetros, estabelecidos para as condições de solo e clima da região de Cerrados do Brasil Central, para o manejo da água de irrigação do tomateiro.
As irrigações devem ser paralisadas quando a cultura apresentar cerca de 70% de frutos maduros, visando atingir teores de sólidos solúveis acima de 4 oBrix.
FERTIRRIGAÇÃO EM SOLOS
Por razões econômicas e práticas, a fertirrigação, em solos de cerrado, pode ser realizada com freqüência semanal. Também não se faz necessário o fornecimento de todos os fertilizantes via água. Assim, 100% do fósforo (P), do magnésio (Mg) e dos micronutrientes, 70% do cálcio (Ca), e 15% do nitrogênio (N) e do potássio (K) podem ser aplicados diretamente ao solo por ocasião do plantio.
O tomateiro responde positivamente a doses de N de até 200-250 kg/ha. Para os demais nutrientes, a recomendação depende da análise do solo, sendo em termos gerais utilizados: 200-300 kg/ha de K2O; 450-650 kg/ha de P2O5; 100-160 kg/ha de Ca; 25-40 kg/ha de Mg.
Devido ao menor custo, a fertirrigação pode ser realizada utilizando-se principalmente: uréia, cloreto de potássio e cloreto de cálcio. Outros fertilizantes recomendados são o nitrato de amônio, sulfato de amônio, nitrato de potássio e nitrato de cálcio.
Para cultivos sucessivos de tomate na mesma área por mais de duas safras, não se deve aplicar mais de 2/3 do N total na forma de uréia. A uréia e, principalmente, a forma amoniacal de N (sulfato de amônio) tendem a acidificar o solo. Nesse caso, pelo menos 1/3 do N total deve ser fornecido na forma de nitrato.
Os fertilizantes utilizados devem ser específicos para fertirrigação, para se evitar problemas de entupimento. Por exemplo, deve-se evitar o uso do cloreto de potássio de cor rosada, por causar problema de entupimento, e preferir o branco.
Recomendação de parcelamento de N, K e Ca via fertirrigação é apresentada na Tabela 2.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que a irrigação por gotejamento seja eficiente, o dimensionamento agronômico e hidráulico deve ser adequado e a manutenção do sistema realizada de forma periódica e preventiva.
O principal problema do gotejamento é o entupimento de gotejadores. Para evitá-lo, deve-se instalar um sistema eficiente de filtragem de água, fazer análise da qualidade da água a ser utilizada e verificar a compatibilidade dos fertilizantes a serem aplicados via fertirrigação, entre si e com a água de irrigação. Não se deve injetar, por exemplo, produtos contendo sulfato ou N na forma nítrica no mesmo dia em que se aplicar cálcio, sob o risco de formação de precipitados. Água com teores de ferro acima de 0,2 mg/L também pode oferecer riscos de entupimento, por favorecer o desenvolvimento de certas bactérias.
Waldir A. Marouelli, Washington L.C. Silva e Celso L. Moretti,
Embrapa Hortaliças
* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura