Integração de métodos de controle da mancha ramulária em algodão

Enfermidade exige integração de vários métodos de controle como genético, cultural, físico, químico e biológico

23.07.2020 | 20:59 (UTC -3)

Principal doença na cultura do algodoeiro a mancha de ramulária é responsável por redução de produtividade de até 30%. De difícil controle, enfermidade exige a integração de vários métodos de controle como genético, cultural, físico, químico e biológico. 

A região dos Chapadões, situada no nordeste do estado de Mato Grosso do Sul, é responsável por uma grande parcela de produção de algodão no estado. Segundo levantamento  realizado em março pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), essa região poderá registrar a maior média nacional de produtividade. As condições climáticas de baixa precipitação ocorridas nos meses de marco e abril favoreceram o menor apodrecimento de maçãs. No entanto, a chuva que ocorreu no mês de maio desencadeou epidemia da Mancha de ramularia (Ramularia areola) na região.

A mancha de ramulária é a principal doença que acomete a cultura do algodoeiro. A redução de produtividade ocasionada por essa enfermidade chega a 30%, na região, segundo dados de trabalhos realizados pela Fundação Chapadão.

Os sintomas da doença começam com lesões nas folhas, localizadas na parte inferior da planta, com coloração branca-azulada na superfície inferior da folha, conhecida também como “Véu’’. Os sintomas nesta fase são de difícil detecção, devido a lesão possuir pouco brilho. 

Logo após é verificada esporulação do fungo com coloração branca ou amarelada e de aspecto pulverulento, caracterizada por provocar necrose de formato angular. Quando ocorre alta severidade da doença aliada a condições ambientais favoráveis, se dá grande desfolha precoce nas plantas de algodoeiro, impactando a produtividade.

Sintomas da esporulação da Mancha de ramularia.
Sintomas da esporulação da Mancha de ramularia.

Desde a safra 2009  são vários os trabalhos desenvolvidos a campo pela Fundação Chapadão e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) na busca de alternativas para um controle integrado da Mancha de ramulária em algodoeiro. O monitoramento e quantificação da severidade da doença a cada ano é uma das estrategias que auxiliam na tomada de decisão de controle na região.

Nas últimas seis safras observa-se que a incidencia da doença na área experimental tem ocorrido no estádio de desenvolvimento do algodeiro “B2”, e que as severidades verificadas nas últimas avaliações (Estádio C6), apresentam variação entre 27% a 67%. Esta oscilação de área foliar lesionada pelo patógeno está relacionada às condições ambientais que cada ano proporciona, sendo possivel afirmar, através deste monitoramento, que as condições ambientais ocorridas nos meses de Março e Abril de cada ano determinam o potencial desta doença.

Figura 1- Severidade da Mancha de ramulária, no tratamento sem aplicações de fungicidas, dos ensaios realizados no algodoeiro em seis safras no município de Chapadão do Sul-MS.
Figura 1- Severidade da Mancha de ramulária, no tratamento sem aplicações de fungicidas, dos ensaios realizados no algodoeiro em seis safras no município de Chapadão do Sul-MS.
Figura 2- Índice pluviométrico na área experimental da Fundação Chapadão desde a safra 2011/20112. Chapadão do Sul-MS.
Figura 2- Índice pluviométrico na área experimental da Fundação Chapadão desde a safra 2011/20112. Chapadão do Sul-MS.

Dentre as estratégias de combate a doenças, o controle cultural tem sua importância no manejo do algodoeiro. Um exemplo clássico reside na rotação de culturas, prática que consiste no plantio alternado de espécies diferentes ao longo dos anos. Quando esta pratica não é realizada, ou seja, feita a semeadura de algodoeiro sobre os restos da mesma cultura, tem- se o aumento significativo da fonte de inoculo. Tal efeito acarretará em uma infecção precoce das plantas. A destruição dos restos culturais também impacta sobre a incidência e severidade da doença, pois quando não é realizada a eliminação adequada, as plantas voluntárias seguem multiplicando o fungo. E ao ser efetuada a semeadura da cultura na área a fonte de inoculo pode acarretar em incidência precoce dos sintomas. 

Cultivo de algodoeiro em área com planta voluntaria, fonte primaria de inoculo da Mancha de ramularia.
Cultivo de algodoeiro em área com planta voluntaria, fonte primaria de inoculo da Mancha de ramularia.

Outra prática que esta sendo estudada na região é a altura das plantas de algodoeiro, que também tem impactado sobre a severidade da Mancha de ramularia. Lavouras com porte menor (1,0m a 1,20 m) tem revelado aumento na severidade da doença. Este fato pode estar ligado à maior quantidade de luz que incide no interior do dossel da planta, favorecendo o aumento da temperatura e menor molhamento no período diurno. Posteriormente, no período noturno a umidade propiciada pelo orvalho condiciona um ambiente extremamente favorável à ocorrência da Macha de ramulária. É valido ressaltar que em uma busca rápida na literatura é possível encontrar diversos autores afirmando que o patógeno Ramularia areola é favorecido por poucas horas de molhamento.

No entanto, deve-se tomar algumas precauções na condução do porte das plantas, pois a falta de contenção do crescimento também pode favorecer a ocorrência de outras doenças, como Mancha alvo e apodrecimento de maçãs, sendo estas favorecidas pela alta umidade e maior período de molhamento no interior do dossel proporcionadas por plantas de maior porte.

O uso de cultivares resistentes representa um pilar dentre as estratégias utilizadas para o controle de doenças. O emprego desta tecnologia é o método de controle mais desejável, por ser de baixo custo, alta eficácia e por causar menor impacto ambiental quando comparado ao controle químico. Porém, é extremamente importante a associação com outras medidas de controle como o manejo cultural e o controle químico, visto a possibilidade de variabilidade genética dos patógenos. A questão é que ate o momento, cultivares que contém esta tecnologia ainda são consideradas inferiores, em alguns aspectos de produtividade e característica de fibra, quando comparadas a cultivares suscetíveis à Mancha de ramulária.

A associação de cultivar resistente e aplicações de fungicidas é ambiental e economicamente viável, pois a resistência genética reduz a necessidade de pulverização de fungicidas. No entanto, para auxiliar a manutenção dessa característica e garantir que não ocorra quebra de resistência genética nestes materiais, são recomendadas aplicações de fungicidas como medida preventiva de controle em cultivares de algodoeiro  

As medidas de controle para a mancha de ramulária adotadas na região dos Chapadões, assim como nas demais principais regiões produtoras de algodão do Brasil, é baseada principalmente na utilização de fungicidas. Este fato ocorre devido a ação rápida que os defensivos promovem para a supressão da doença e além de que, se utilizado no momento correto e com rotação de produtos, promove uma boa eficiência para o controle da doença.

Algumas precauções devem ser tomadas no momento da utilização do controle químico, sendo que é imprescindível que o uso dos fungicidas seja iniciado assim que as primeiras lesões forem identificadas nas folhas mais velhas. O monitoramento constante da lavoura é de extrema importância, uma vez que as primeiras lesões são de difícil identificação.

Neste método de controle é fundamental o monitoramento da lavoura, para a identificação das primeiras lesões, ponto este ideal para a aplicação de fungicidas, que atuarão retardando o inicio da epidemia e impedindo o aumento do inóculo no campo. Logo, se o controle químico for retardado por ocasião da não identificação dos sintomas iniciais, o controle da doença pode ficar comprometido e ineficiente.

No controle químico é extremamente importante conhecer o modo e o tipo de ação do fungicida na planta, para tomar a decisão sobre qual produto utilizar e também sua época de aplicação, sendo fundamental que seu emprego seja feito de maneira alternada, com diferentes princípios ativos, pois esta estratégia é eficaz para evitar o aumento da frequência de isolados resistentes.

Na busca de soluções e melhor entendimento da estratégia de controle químico da Mancha de ramularia na região, a Fundação Chapadão realiza diversos trabalhos a campo desde o ano 2010. Dentre as várias pesquisas nesta linha de controle, destaca-se ensaio realizado a cada ano, em dois locais (Chapadão do Sul e Costa Rica), para a comparação da eficiência de fungicidas registrados.

Os resultados do ultimo ano ascenderam uma “luz amarela” sobre a eficácia destes fungicidas. Foi constatada redução de eficiência sobre a Mancha de ramulária. (Figura 3).

Figura 3- Eficácia de diferentes fungicidas sobre a Mancha de ramulária (R. areola), no algodoeiro cultivado em Chapadão do Sul e Costa Rica – MS, desde a safra 2010/2011.
Figura 3- Eficácia de diferentes fungicidas sobre a Mancha de ramulária (R. areola), no algodoeiro cultivado em Chapadão do Sul e Costa Rica – MS, desde a safra 2010/2011.

A Mancha de ramulária se faz presente no algodoeiro cultivado na região dos Chapadões, sendo necessária a integração de vários métodos de controle de doenças como genético, cultural, físico, químico e biológico a fim de manter sanidade maior da cultura, o que acarretará em ganhos de produtividade ao produtor frente a este problema fitossanitário.

Produção e desafios

O algodoeiro (Gossypium Hirsuntum L.) produz umas das principais fibras consumidas mundialmente. Porém, a cotonicultura brasileira passa por grande desafio nos últimos anos, seja na área técnica ou econômica.

Segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área cultivada na safra atual (2015/2016) sofreu redução de 1,8% em relação à safra anterior (2014/2015). Tal redução se deve principalmente ao cenário econômico nacional. Já a produtividade deverá ser menor nos estados da Bahia e Goiás em função das condições climáticas desfavoráveis, enquanto as demais regiões poderão apresentar melhor produtividade em função de condição climática mais propícia para o desenvolvimento da cultura.

 

Alfredo Riciere Dias, Fundação Chapadão; Hugo Manoel de Souza, UFMS; Gustavo de Faria Theodoro, UFMS


Artigo publicado na edição 209 da Cultivar Grandes Culturas.

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