Produtor deve estar atento às condições climáticas e proteger as lavouras para evitar reduções de produtividade
08.07.2022 | 14:28 (UTC -3)
Panorama da
incidência da ferrugem asiática nos estados brasileiros produtores de soja
aponta para os riscos de agravamento da doença, principalmente em áreas
semeadas tardiamente. Produtor deve estar atento às condições climáticas e
proteger as lavouras para evitar reduções de produtividade. Rotação de
fungicidas e a associação de multissítio despontam entre as medidas necessárias
para aumentar a eficiência dos produtos sítio-específicos...
A
safra de soja no Brasil começa com o término dos períodos de vazio sanitário, que
variam em cada estado. Essa medida é atualmente uma das principais estratégias
de manejo da ferrugem-asiática e tem como objetivo a redução de inóculo do
fungo Phakopsora pachyrhizi na
entressafra. Lavouras semeadas logo após o término do vazio sanitário tendem a
ter a doença em estádios mais adiantados de desenvolvimento da cultura, mas começam
a multiplicação do fungo, que se dissemina pelo vento, para áreas semeadas mais
tarde.
As
ocorrências de ferrugem-asiática na safra podem ser verificadas no mapa do site
do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net), também disponível em
aplicativos nas plataformas iOS e Android (Tabela 1). O principal objetivo do
mapa é informar as primeiras ocorrências para alertar o produtor sobre a
chegada da doença. Como o fungo se dissemina facilmente pelo vento, com o
alerta, o produtor pode proteger sua lavoura, evitando perdas de produtividade.
O Consórcio Antiferrugem é uma parceria pública-privada e as informações no
site são inseridas por pesquisadores e pela assistência técnica, mas não há
100% de cobertura em todas as regiões produtoras. Outras parcerias têm sido estabelecidas
para aumentar a abrangência do site.
Na
safra 2017/18, as primeiras ocorrências de ferrugem-asiática foram registradas
no site a partir da segunda quinzena de novembro em São Paulo, no Paraná, no Rio
Grande do Sul e em Minas Gerais, em lavouras comerciais, algumas irrigadas, e
em áreas experimentais utilizadas para o monitoramento do fungo. Mais de 70%
das ocorrências registradas no site até o final de janeiro foram de lavouras na
fase de enchimento de grãos (estádio R5), o que caracteriza uma situação mais tranquila
de manejo para as primeiras semeaduras. Apesar de a ferrugem ser uma das
doenças mais severas da cultura, seu potencial de dano diminui à medida que a
incidência é tardia na lavoura. Essa incidência tardia nas primeiras semeaduras
é uma das consequências da redução de inóculo proporcionada pelo vazio
sanitário.
No Rio Grande do Sul, a ferrugem-asiática mostrou-se muito severa
nas últimas safras. Essa doença
continua sendo a maior preocupação dos produtores e técnicos, em razão da
grande quantidade de inóculo do fungo oriundo da Bolívia, do Paraguai e de
outras regiões do Brasil. O Rio Grande do Sul é o único estado produtor que não
possui vazio sanitário e, em situações de inverno ameno como o de 2017, há a manutenção
de soja voluntária com ferrugem-asiática no campo. As precipitações em novembro e janeiro ocorreram acima da média histórica,
sem veranicos importantes na região até o final de janeiro. Na
safra atual, a doença apareceu 30 dias mais cedo em relação à safra anterior
(16/11/2017) e, apesar de mostrar-se discreta na fase vegetativa da soja, agora
se encontra em curva ascendente, com potencial para tornar-se uma grande epidemia.
O número baixo de ocorrências no estado relatado no site
do Consórcio pode ser explicado pelo fato de o produtor conhecer bem a doença e
não enviar amostras aos laboratórios para fazer o cadastro da ocorrência.
O
estado do Paraná tem o maior número de relatos no site do Consórcio em função
da excelente cobertura obtida pela colaboração da assistência técnica. A doença
já foi relatada em praticamente todas as regiões produtoras. No estado, as
semeaduras foram atrasadas em 10 dias a 15 dias, em razão do atraso das chuvas.
Apesar desse atraso, o primeiro foco de ferrugem-asiática foi relatado na mesma
época da safra passada (segunda quinzena de novembro). A baixa precipitação no
início da safra e depois as precipitações frequentes no final de dezembro e no início
de janeiro interferiram no desenvolvimento das lavouras, prolongando o ciclo da
cultura. Com isso, a maior parte das colheitas deverá ocorrer a partir de
fevereiro. A frequência das chuvas dificultou as entradas para as aplicações de
fungicidas, ocasionando atrasos e aumento de intervalos. Em algumas situações são
relatadas lavouras em enchimento de grãos com alta severidade de ferrugem-asiática
no baixeiro.
Os problemas com ferrugem tendem a se agravar em lavouras semeadas
após novembro. Lavouras de soja semeadas em dezembro e janeiro, após feijão, têm
apresentado sintomas já no vegetativo e irão demandar maior número de
aplicações com os fungicidas mais eficientes, aumentando a pressão de seleção
de resistência do fungo aos fungicidas. Essas áreas, embora não significativas
em relação à área de soja da safra principal no estado, podem acelerar a perda
de eficiência dos fungicidas. Nessa safra, em decorrência do atraso no início
das chuvas, a janela de semeadura da soja foi prorrogada para 14 de janeiro no
Paraná.
A maioria
das lavouras de soja no estado do Mato Grosso do Sul está em fase de enchimento
de grãos e em algumas áreas a colheita já ocorre. A ferrugem-asiática está
presente em praticamente todos os municípios produtores de soja, mas no geral,
a infestação da doença é baixa e restrita ao baixeiro das plantas. Na região de
Bonito e da fronteira com o Paraguai, a situação é mais grave e a severidade da
doença é alta, com dificuldade de controle do fungo. A intensidade da doença
começou a se elevar na última semana de janeiro, no estado como um todo,
indicando a possibilidade de epidemia severa, o que pode comprometer a
produtividade de forma significativa nas áreas semeadas a partir de novembro.
No sudoeste
de Goiás, a ocorrência da ferrugem-asiática tem sido imprevisível, começando mais
cedo em determinadas safras ou regiões, mesmo sob condições menos favoráveis,
ou tardiamente sob condições climáticas favoráveis. Essas situações estão
diretamente relacionadas com a presença do inóculo inicial, reforçando a
necessidade de um bom vazio sanitário. No sudoeste, a parceria entre o
Sindicato Rural, a Universidade de Rio Verde e colaboradores tem contribuído no
monitoramento da doença por meio de análises foliares para os produtores, tendo
sido analisadas até o final de janeiro mais de 1,3 mil amostras. Muitas dessas
amostras são coletadas em parcelas específicas para monitoramento (denominadas
sentinelas), que não recebem aplicação de fungicidas até o surgimento da
ferrugem, quando então são eliminadas para evitar a multiplicação do fungo.
Os
primeiros relatos da ferrugem-asiática nessa safra ocorreram em 28/01/2018, em
Rio Verde, pela Agro Carrregal e em 29/01/2018, em Jataí, pela Universidade Federal
de Goiás, em soja no estádio R6 e R5, respectivamente. Na safra 2016/17, o
primeiro relato de ferrugem-asiática ocorreu em 11/01/2017, no município de
Jataí, seguido de Rio Verde, em 19/01/2017. Tanto na safra 2016/17 quanto na
atual, todas as parcelas de monitoramento finalizaram seu ciclo sem sintomas da
ferrugem-asiática detectados, mesmo com condições climáticas favoráveis para a sua
ocorrência. No entanto, a extensa janela de semeadura, superior a 60 dias, no
sudoeste goiano tem sido motivo de preocupação, porque as lavouras semeadas a
partir de novembro podem receber esporos provenientes de outros estados já com
ocorrências da ferrugem-asiática.
No
Mato Grosso, de modo geral, a safra 2017/18 vem apresentando chuvas acima da
média normal. Em algumas localidades foram observadas restrições hídricas na
fase de enchimento de grãos. As condições climáticas nos meses de dezembro e
janeiro foram favoráveis para a ocorrência e o desenvolvimento da ferrugem-asiática
no estado.
As primeiras ocorrências foram registradas nos municípios de Campo
Verde e de Primavera do Leste, na segunda quinzena de dezembro. Posteriormente,
as regiões de Parecis (Tangará da Serra, Deciolândia e Campo Novo do Parecis) e
médio-morte (Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso) na primeira quinzena de janeiro.
Já na região do Vale do Araguaia (Nova Xavantina até Vila Rica) não houve
relatos até o final de janeiro.
As lavouras semeadas no mês de setembro com
cultivares precoces (<105 dias) já foram colhidas. Mas nas semeadas de
outubro em diante (cerca de 60%), em algumas regiões, as aplicações de
fungicidas foram atrasadas em razão da alta frequência das chuvas associada à
capacidade operacional das propriedades. Considerando a oferta de inóculo e a
capacidade de dispersão do fungo, podem ocorrem perdas significativas de
produtividade nessas áreas.
A
semeadura na região oeste da Bahia ocorreu dentro do calendário previsto, de 08
de outubro a 15 de janeiro, uma vez que as condições climáticas foram
favoráveis a essa operação. As lavouras semeadas em outubro, nas áreas
irrigadas, já foram ou estão sendo colhidas, sem problemas com a ferrugem-asiática.
O primeiro relato da doença ocorreu em 03/01/2018, no município de São
Desidério, em uma área comercial no estádio R3. Com as condições climáticas
favoráveis ao desenvolvimento do fungo, outros focos foram relatados nesse
mesmo município. Se as condições continuarem favoráveis ao fungo, os problemas
com a ferrugem-asiática podem se agravar na região, porque existem lavouras em diferentes
estádios fenológicos. Para acompanhar os focos da região, a Círculo Verde em
parceria com o Sindicato Rural de Luís Eduardo Magalhães (SRLEM) e
colaboradores de diversas empresas de agroquímicos se uniram e passaram a
oferecer no Sindicato Rural o “Laboratório Alerta Ferrugem” para análise
gratuita de folhas com suspeita da doença.
De maneira geral, observa-se em todas as regiões que
as lavouras semeadas mais cedo apresentaram escape ou incidência tardia da
ferrugem-asiática e a situação deve-se agravar nas semeaduras tardias. A partir
de janeiro, pode-se observar, pelo site, ocorrências generalizadas em alguns
estados e ainda podem aumentar nos estados que tiveram semeaduras tardias. O
produtor deve estar atento às condições climáticas e proteger as lavouras para
evitar reduções de produtividade.
O
número de fungicidas com eficiência satisfatória para o controle da ferrugem-asiática
reduziu nos últimos anos com a resistência ou menor sensibilidade do fungo aos
três principais grupos de fungicidas com modo de ação sítio-específicos: os
“triazóis” (fungicidas Inibidores da Desmetilação, IDM), as “estrobilurinas”
(Inibidores da Quinona externa, IQe) e as “carboxamidas” (Inibidores da
Succinato Desidrogenase, ISDH).
A rotação dos modos de ação, recomendada como
estratégia antirresistência, não é possível de ser realizada na cultura uma vez
que os fungicidas são formulados em misturas com dois ou três modos de ação. Apesar
disso a indicação é que se realize a rotação dos fungicidas. Embora a
resistência seja cruzada dentro do mesmo modo de ação, os ingredientes ativos são
afetados de maneira diferente pelas mutações do fungo.
É
difícil prever quais serão as mutações que estarão presentes no fungo na safra
e nas regiões e, dessa forma, para aumentar a eficiência dos fungicidas sítio-específicos,
depois de detectada na região, o produtor deve sempre procurar associar o
fungicida multissítio (à base de cobre, mancozebe e clorotalonil) nas
aplicações para o controle da ferrugem-asiática, em função do alto potencial de
dano da doença.
Por Cláudia V. Godoy, Embrapa Soja; José Fernando J. Grigolli, Fundação MS; Éder N. Moreira, Faculdade Centro Mato-grossense – FACEM; Hercules D. Campos, Universidade de Rio Verde – UniRV; Carolina Deuner, Universidade de Passo Fundo; Mônica C. Martins, Círculo Verde
Artigo publicado na edição 225 da Cultivar Grandes Culturas, mês fevereiro, ano 2018.
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