Instituições financeiras precisam apostar na tecnologia para superar os desafios do financiamento no agronegócio
Por Lucas Tuffi, diretor comercial da Agrotools, plataforma digital para o agronegócio corporativo
Na dessecação de áreas para o cultivo a associação de herbicidas residuais aos de manejo passa a ser uma alternativa interessante. Dentre os produtos que possuem efeito residual e que podem ser associados ao glifosato no manejo de daninhas de difícil controle na dessecação é possível elencar diclosulam, flumioxazin, chlorimuron e imazethapyr.
No Brasil, o sistema de plantio direto (SPD), que tem por fundamentos o não revolvimento do solo, sua cobertura permanente e a rotação de culturas, ganhou espaço considerável entre os produtores de soja nos últimos 50 anos. A área cultivada com a oleagionsa nesse sistema é estimada em 32 milhões de hectares.
Para o estabelecimento de plantio direto preconiza-se uma boa formação de palhada sobre o solo. Esse material, quando distribuído uniformemente sobre a superfície do solo, pode agir de forma física, química e biológica sobre o banco de sementes de plantas daninhas, com consequente diminuição da taxa de germinação e reinfestação da área. Entretanto, nem todas as espécies de daninhas são suprimidas pelos efeitos da cobertura morta. Assim, na dessecação de áreas para o cultivo de culturas, a associação de herbicidas residuais aos de manejo, como o glifosato, passa a ser uma alternativa interessante, pois possibilita o estabelecimento inicial das culturas no limpo, ou seja, sem a presença de plantas daninhas e sua consequente competição com o cultivo. Dentre os herbicidas que possuem efeito residual e que podem ser associados ao glifosato no manejo de plantas daninhas de difícil controle na dessecação de áreas pode-se elencar diclosulam, flumioxazin, chlorimuron e imazethapyr.
Em pesquisa de campo, a cultivar de soja Monsoy 9144 RR foi semeada no sistema plante-aplique, sobre 4,4 t/ ha de cobertura vegetal proporcionada por Urochloa ruziziensis. Na dessecação da cobertura vegetal foram adotados os seguintes tratamentos herbicidas: glifosato+diclosulam sem aplicação complementar em pós-emergência com glifosato (G+D); glifosato+diclosulam em pré-semeadura com uma aplicação complementar em pós-emergência de glifosato (G+D+G) e a aplicação de glifosato em pré-semeadura com mais uma aplicação em pós-emergência de glifosato em complementação (G+G) (Tabela 1). Todas as aplicações de complementação foram realizadas aos 35 dias após a semeadura (DAS), estágio V4 da soja. Por época da colheita, em avaliação de reinfestação de plantas daninhas na área, foi notória a superioridade do controle onde houve complementação com glifosato na pós-emergência das plantas daninhas, realizada aos 35 DAS da soja (Figura 1). Nessa pesquisa ficou evidente que o efeito residual do herbicida diclosulam não foi suficiente para excluir a aplicação complementar. Apesar do efeito residual do diclosulam ser de 67 dias quando aplicado em área de plantio direto, a diminuição deste efeito associado à ausência da complementação com glifosato permitiu o sucesso da germinação da sementeira de plantas daninhas, além de rebrotes de braquiária, com consequente reinfestação da área. A presença de palhada pode ter interferido na eficiência do diclosulam, uma vez que a camada de palha pode impedir sua chegada ao solo através da retenção, expondo as moléculas do herbicida a condições favoráveis a diferentes formas de degradação, até que seja levado ao solo pela ocorrência de chuva.
Na avaliação de presença de plantas daninhas que foi realizada aos 31 dias após a dessecação foi observado que o picão-preto (Bidens pilosa) era a espécie dominante na área. A alta população do picão preto indica a grande adaptação desta planta daninha ao SPD, que não foi suprimida pela palhada presente na superfície do solo, além de evidenciar a baixa eficácia do diclosulam no controle residual para esta espécie. Compondo a comunidade infestante, ainda havia outras plantas daninhas que foram encontradas em menor quantidade, como a trapoeraba (Commelina benghalensis), erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta), braquiária (Brachiaria ruziziensis), capim-colchão (Digitaria insularis) e buva (Conyza canadensis) (Figura 2). A mistura glifosato+diclosulam em pré-semeadura sem complementação também reduziu a infestação de erva-de-santa-luzia e buva nas parcelas.
Os tratamentos com a aplicação de glifosato + diclosulam com e sem complementação (G+D e G+D+G) diminuíram as médias de densidade populacional das plantas daninhas aos 31 dias após a dessecação. O tratamento com a aplicação de glifosato sem herbicida residual aos 35 DAS resultou na maior reinfestação inicial, com a presença de 63,6 plantas m-2 (Figura 1 e 2). Muitas espécies de plantas daninhas possuem sementes com dormência em vários graus, a fim de garantir emergência sucessiva. Com isso, a ausência do herbicida com efeito residual na dessecação permitiu a germinação do banco de sementes de plantas daninhas alguns dias após a dessecação.
As parcelas do tratamento sem a complementação com glifosato resultaram em 50% de dificuldade de colheita sendo que a maior parte desta infestação foi da própria cobertura vegetal (braquiária) e picão-preto (Bidens pilosa). A presença da cobertura vegetal proporcionada pela comunidade infestante no momento da colheita pode dificultar a colheita mecanizada, além de influenciar na qualidade do grão colhido.
As parcelas tratadas com G+D, sem a complementação, resultaram na menor produtividade (Figura 3), em decorrência da maior incidência de plantas daninhas, e consequente competição com a cultura. O efeito residual do diclosulam permitiu o estabelecimento inicial da cultura de soja no limpo, embora não fora o suficiente para suprimir a competição das plantas daninhas com a cultura até o momento da colheita.
Somente a associação dos herbicidas não assegura o controle das plantas daninhas durante todo o ciclo da soja. Assim, a aplicação complementar em pós-emergência não pode ser dispensada. Mais estudos com associações para o controle residual sem aplicação complementar devem ser realizados considerando o uso de mais herbicidas com efeito residual. Além disso, a dinâmica desses herbicidas na palhada deve ser averiguada, uma vez que pode influenciar na eficiência dos herbicidas no controle das plantas daninhas dependendo da característica físico-química de cada molécula e das espécies de plantas daninhas que compõem a comunidade infestante.
Artigo publicado na edição 222 da Cultivar Grandes Culturas, mês novembro, ano 2017.
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