Herbicidas associados na dessecação

Na dessecação de áreas para o cultivo a associação de herbicidas residuais aos de manejo passa a ser uma alternativa interessante. Dentre os produtos que possuem efeito residual e que podem ser associados ao glifosato no manejo de daninhas de difícil controle na dessecação é possível elencar diclosulam, flumioxazin, chlorimuron e imazethapyr

20.05.2022 | 16:47 (UTC -3)

Na dessecação de áreas para o cultivo a associação de herbicidas residuais aos de manejo passa a ser uma alternativa interessante. Dentre os produtos que possuem efeito residual e que podem ser associados ao glifosato no manejo de daninhas de difícil controle na dessecação é possível elencar diclosulam, flumioxazin, chlorimuron e imazethapyr.

No Brasil, o sistema de plantio direto (SPD), que tem por fundamentos o não revolvimento do solo, sua cobertura permanente e a rotação de culturas, ganhou espaço considerável entre os produtores de soja nos últimos 50 anos. A área cultivada com a oleagionsa nesse sistema é estimada em 32 milhões de hectares.

Para o estabelecimento de plantio direto preconiza-se uma boa formação de palhada sobre o solo. Esse material, quando distribuído uniformemente sobre a superfície do solo, pode agir de forma física, química e biológica sobre o banco de sementes de plantas daninhas, com consequente diminuição da taxa de germinação e reinfestação da área. Entretanto, nem todas as espécies de daninhas são suprimidas pelos efeitos da cobertura morta. Assim, na dessecação de áreas para o cultivo de culturas, a associação de herbicidas residuais aos de manejo, como o glifosato, passa a ser uma alternativa interessante, pois possibilita o estabelecimento inicial das culturas no limpo, ou seja, sem a presença de plantas daninhas e sua consequente competição com o cultivo. Dentre os herbicidas que possuem efeito residual e que podem ser associados ao glifosato no manejo de plantas daninhas de difícil controle na dessecação de áreas pode-se elencar diclosulam, flumioxazin, chlorimuron e imazethapyr.  

Em pesquisa de campo, a cultivar de soja Monsoy 9144 RR foi semeada no sistema plante-aplique, sobre 4,4 t/ ha de cobertura vegetal proporcionada por Urochloa ruziziensis. Na dessecação da cobertura vegetal foram adotados os seguintes tratamentos herbicidas: glifosato+diclosulam sem aplicação complementar em pós-emergência com glifosato (G+D); glifosato+diclosulam em pré-semeadura com uma aplicação complementar em pós-emergência de glifosato (G+D+G) e a aplicação de glifosato em  pré-semeadura com mais uma aplicação em pós-emergência de glifosato em complementação (G+G) (Tabela 1). Todas as aplicações de complementação foram  realizadas aos 35 dias após a semeadura (DAS), estágio V4 da soja. Por época da colheita, em avaliação de reinfestação de plantas daninhas na área, foi notória a superioridade do controle onde houve complementação com glifosato na pós-emergência das plantas daninhas, realizada aos 35 DAS da soja (Figura 1). Nessa pesquisa ficou evidente que o efeito residual do herbicida diclosulam  não foi suficiente para excluir a aplicação complementar. Apesar do efeito residual do diclosulam ser de 67 dias quando aplicado em área de plantio direto, a diminuição deste efeito associado à ausência da complementação com glifosato permitiu o sucesso da germinação da sementeira de plantas daninhas, além de rebrotes de braquiária, com consequente reinfestação da área. A presença de palhada pode ter interferido na eficiência do diclosulam, uma vez que a camada de palha pode impedir sua chegada ao solo através da retenção, expondo as moléculas do herbicida a condições favoráveis a diferentes formas de degradação, até que seja levado ao solo pela ocorrência de chuva.

Tabela 1
Tabela 1
Figura 1. Reinfestação inicial de plantas daninhas, 31 dias após a dessecação. Jataí, GO, 2014.
Figura 1. Reinfestação inicial de plantas daninhas, 31 dias após a dessecação. Jataí, GO, 2014.

Na avaliação de presença de plantas daninhas que foi realizada aos 31 dias após a dessecação foi observado que o picão-preto (Bidens pilosa) era a espécie dominante na área. A alta população do picão preto indica a grande adaptação desta planta daninha ao SPD, que não foi suprimida pela palhada presente na superfície do solo, além de evidenciar a baixa eficácia do diclosulam no controle residual para esta espécie. Compondo a comunidade infestante, ainda havia outras plantas daninhas que foram encontradas em menor quantidade, como a trapoeraba (Commelina benghalensis), erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta), braquiária (Brachiaria ruziziensis), capim-colchão (Digitaria insularis) e buva (Conyza canadensis) (Figura 2). A mistura glifosato+diclosulam em pré-semeadura sem complementação também reduziu a infestação de erva-de-santa-luzia e buva nas parcelas.

Figura 2. Densidade relativa de plantas daninhas, 31 dias após a dessecação. Jataí, GO, 2014.
Figura 2. Densidade relativa de plantas daninhas, 31 dias após a dessecação. Jataí, GO, 2014.

Os tratamentos com a aplicação de glifosato + diclosulam com e sem complementação (G+D e G+D+G) diminuíram as médias de densidade populacional das plantas daninhas aos 31 dias após a dessecação. O tratamento com a aplicação de glifosato sem herbicida residual aos 35 DAS resultou na maior reinfestação inicial, com a presença de 63,6 plantas m-2 (Figura 1 e 2). Muitas espécies de plantas daninhas possuem sementes com dormência em vários graus, a fim de garantir emergência sucessiva. Com isso, a ausência do herbicida com efeito residual na dessecação permitiu a germinação do banco de sementes de plantas daninhas alguns dias após a dessecação.

As parcelas do tratamento sem a complementação com glifosato resultaram em 50% de dificuldade de colheita sendo que a maior parte desta infestação foi da própria cobertura vegetal (braquiária) e picão-preto (Bidens pilosa). A presença da cobertura vegetal proporcionada pela comunidade infestante no momento da colheita pode dificultar a colheita mecanizada, além de influenciar na qualidade do grão colhido.

As parcelas tratadas com G+D, sem a complementação, resultaram na menor produtividade (Figura 3), em decorrência da maior incidência de plantas daninhas, e consequente competição com a cultura. O efeito residual do diclosulam permitiu o estabelecimento inicial da cultura de soja no limpo, embora não fora o suficiente para suprimir a competição das plantas daninhas com a cultura até o momento da colheita.

Figura 3. Número de vagens por planta e produtividade de soja. Jataí (GO), 2014.
Figura 3. Número de vagens por planta e produtividade de soja. Jataí (GO), 2014.

Somente a associação dos herbicidas não assegura o controle das plantas daninhas durante todo o ciclo da soja. Assim, a aplicação complementar em pós-emergência não pode ser dispensada. Mais estudos com associações para  o controle residual sem aplicação complementar devem ser realizados considerando o uso de mais herbicidas com efeito residual. Além disso, a dinâmica desses herbicidas na palhada deve ser averiguada, uma vez que pode influenciar na eficiência dos herbicidas no controle das plantas daninhas dependendo da característica físico-química de cada molécula e das espécies de plantas daninhas que compõem a comunidade infestante.

Figura 4. À esquerda parcelas de soja tratadas com glifosato e uma aplicação complementar de glifosato (G+G) e a associação de glifosato e diclosulam com uma aplicação complementar de glifosato (G+D+G); À direita parcela de soja tratada com associação de glifosato e diclosulam sem complementação (G+D). Jataí, GO, 2014
Figura 4. À esquerda parcelas de soja tratadas com glifosato e uma aplicação complementar de glifosato (G+G) e a associação de glifosato e diclosulam com uma aplicação complementar de glifosato (G+D+G); À direita parcela de soja tratada com associação de glifosato e diclosulam sem complementação (G+D). Jataí, GO, 2014
Figura 5. Reinfestação de plantas daninhas aos 31 dias após a dessecação. À esquerda parcelas de soja tratadas com a associação de glyphosate e diclosulam (G+D e G+D+G); À direita parcela de soja tratada apenas com glyphosate (G+G). Jataí, GO, 2014
Figura 5. Reinfestação de plantas daninhas aos 31 dias após a dessecação. À esquerda parcelas de soja tratadas com a associação de glyphosate e diclosulam (G+D e G+D+G); À direita parcela de soja tratada apenas com glyphosate (G+G). Jataí, GO, 2014
Figura 6. Cobertura vegetal proporcionada por Urochloa ruziziensis. Jataí, GO, 2014
Figura 6. Cobertura vegetal proporcionada por Urochloa ruziziensis. Jataí, GO, 2014

Artigo publicado na edição 222 da Cultivar Grandes Culturas, mês novembro, ano 2017. 

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