O papel da tecnologia na evolução da agricultura regenerativa
Por Bruno Gherardi, agrônomo da John Deere para a América Latina
A mosca-branca (Bemisia tabaci) é um dos maiores desafios agrícolas em regiões tropicais, como o Brasil. Esse inseto não se limita a uma única cultura, alimentando-se de mais de 500 plantas comerciais e silvestres. Um dos cultivos mais importantes no mercado global de extrema relevância no Brasil, a soja quando se torna uma hospedeira preferencial impacta outras culturas adjacentes, com consequências graves para a produção de tomate, pois a mosca-branca atua como vetor de vírus prejudiciais.
O grão domina o mercado de commodities e impacta diretamente os investimentos dos produtores em tecnologia e defensivos contra a mosca-branca. Quando as cotações da soja estão altas, há mais investimento em proteção, garantindo um controle eficaz da praga. Contudo, a queda nos preços desestimula esses aportes, levando a um controle ineficiente do parasita e prejudicando outras plantações, como o tomateiro.
Na tomaticultura, a mosca-branca causa uma série de danos diretos e indiretos. Como inseto sugador, ela enfraquece a planta ao se alimentar e injeta toxinas que resultam em frutos de maturação desigual e de textura e sabor reduzidos (fenômeno conhecido como isoporização).
No entanto, o problema mais grave é o papel do inseto como transmissora de vírus, especialmente o begomovírus (geminivirus) e o crinivírus, que podem reduzir drasticamente a produtividade das plantas. Esses vírus comprometem a qualidade e o rendimento da safra, tornando-se uma preocupação central para os produtores.
Já a correlação entre o mercado de soja e a tomaticultura reflete uma dinâmica complexa. Por vários anos, o cenário positivo para o grão, com crédito disponível, baixa inflação e demanda global crescente, possibilitou que os sojicultores investissem em tecnologia e controle mais eficaz do inseto vetor.
Esse investimento reduziu a pressão da mosca-branca nacionalmente e permitiu que muitos cultivadores de tomate optassem por variedades sem resistência ao geminivirus, especialmente em regiões como Goiás, onde quase 100% das áreas foram plantadas com híbridos não resistentes. Como resultado, houve uma diminuição na demanda por híbridos resistentes ao vírus, o que afetou o desenvolvimento desses produtos no Brasil.
A atual conjuntura política e econômica global, o aumento dos custos de produção e as taxas de juros elevadas mudaram a dinâmica do mercado, levando os produtores de soja a reduzir seus investimentos. O cenário, somado a condições climáticas favoráveis para o inseto, resultou em uma explosão populacional da mosca-branca no Brasil, gerando um efeito cascata na tomaticultura e aumentando a demanda por variedades de tomate resistentes ao geminivirus.
A resposta dos produtores reflete uma crescente busca por soluções de resistência genética, que se tornaram prioridade para as safras 2023/24 e 2024/25. Focando no mercado brasileiro, o trabalho de melhoramento realizado pela Enza Zaden, por exemplo, desenvolveu híbridos de tomate com pacotes de proteção adequados às necessidades locais.
A empresa também acaba de lançar um novo híbrido de tomate no segmento de salada, que combina resistência ao geminivirus com alto desempenho produtivo e frutos de alta qualidade. Essa planta é vigorosa, com boa cobertura foliar e frutos de excelente classificação.
Em meio à incerteza econômica, o melhoramento genético se mostra essencial para a produtividade e sustentabilidade das culturas, especialmente no Brasil, onde o clima tropical impõe riscos constantes às plantações. É vital incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de híbridos resistentes a doenças como o geminivírus para proteger o cultivo de tomate, garantindo que o investimento em novas tecnologias de proteção não seja negligenciado. Afinal, deixar de investir agora pode resultar em perdas muito maiores no futuro.
*Por Gustavo Oliveira, gerente global de melhoramento de tomates da Enza Zaden
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura