Dentre a multiplicidade de fatores que devem ser levados em consideração no estudo nutricional e adubação das plantas, destacam-se os fatores relativos à cultura, tais como: remoção de nutrientes em função do tempo e do desenvolvimento; quantidade e forma de absorção desses nutrientes; produtividade, etc.; os fatores relativos ao solo: elementos disponíveis e suas interações com características químicas, físicas e biológicas; interações com as exigências nutricionais da cultura, etc. e os fatores relativos aos fertilizantes: aspecto econômico; características químicas e físicas; época e forma de aplicação; mobilidade no solo, etc.
Aliado a esses fatores, diretamente relacionados à fertilidade do solo e a nutrição mineral, estão os fatores climáticos (temperatura, luminosidade, umidade, etc), os manejos culturais e as metodologias de análise que devem ser observados para um perfeito entendimento e interpretação do processo produtivo sustentável.
Deve-se ter em mente que é através da análise do solo que se irão determinar as prováveis limitações (deficiência ou excesso) nutricionais que a planta poderá sofrer durante o seu ciclo vegetativo e identificar os insumos a serem aplicados, economicamente, ao sistema solo-planta. Portanto, todo o sucesso dessas recomendações fica, em última análise, na dependência da amostragem bem feita. Por outro lado, existem interações entre os nutrientes, o que limita sua aplicabilidade. Esta seria a Lei das interações, ou seja, cada fator de produção é mais eficaz quando os outros estão mais perto do seu ótimo. É válido mencionar que a insuficiência de um nutriente reduz a eficiência de outros e a produtividade é comprometida. Cada fator deve ser considerado como parte de um conjunto que exprimirá a nutrição equilibrada e a sustentabilidade do sistema produtivo. Entre os elementos que interagem com o fósforo, pode-se mencionar o nitrogênio e o zinco. Quanto maior o teor de P, maiores serão as exigências de N e de Zn.
Portanto, ao se procurar avaliar a importância do fósforo na cultura do milho, deve-se dar importância aos aspectos mencionados anteriormente. Nesta primeira abordagem sobre o tema, serão discutidos alguns aspectos dos fatores relativos à cultura.
O fósforo, junto com o N, o K e o Mg, faz parte dos elementos móveis na planta. Neste caso, sua deficiência irá ocorrer nas folhas mais velhas, pois o elemento sai dessas folhas para suprir as partes mais novas. Caracteriza-se por apresentar folhas roxas, como se vê na foto.
Quanto à cultura
O fósforo é um elemento essencial à nutrição das plantas. É, em síntese, a moeda energética da planta, pois, através dos seus compostos orgânicos, é que a energia caminha e se acumula nos tecidos vegetais. Para que um elemento químico seja considerado essencial à nutrição mineral, alguns critérios devem ser observados: a ausência do elemento impede que a planta se desenvolva e complete o seu ciclo; a deficiência do nutriente é específica e não pode ser substituída pelo fornecimento de um outro elemento. O fornecimento desse elemento elimina a deficiência diagnosticada; a ação do elemento na nutrição tem que ser direta. Portanto, nenhum outro elemento poderá suprir a deficiência de P e a produtividade, o crescimento e o desenvolvimento das plantas estarão limitados pela sua disponibilidade.
A planta de milho, como a maioria dos seres vivos, requer pouco nutriente no início do seu desenvolvimento (da germinação até os 35-40 dias), passando, posteriormente, por período de extrema exigência até o florescimento, completando sua exigência máxima quando os grãos começam a encher. Deve-se ter conhecimento da análise completa dos fertilizantes e corretivos empregados, sendo possível efetuar um balanço entre a quantidade aplicada e a extraída.
A função de se apresentar o nitrogênio como comparação ao fósforo é para salientar as diferenças nas quantidades e alertar para a mobilidade do elemento no solo. Nas planta, ambos são móveis, no solo, contudo, o N é móvel (ou seja, caminha com a água) e o P, imóvel. Desta forma, tem-se a implicação prática de que todo o P deve ser colocado no sulco de plantio, enquanto o nitrogênio pode (e deve) ser parcelado.
Além dos aspectos abordados quanto à necessidade em função do estádio de desenvolvimento e da quantidade, tem-se a quantidade que as plantas poderão absorver em relação à capacidade das raízes. Por exemplo, pode-se mencionar que o milho apresenta uma taxa máxima de acumulação de fósforo variando de 5,7 a 6,5 mg de P planta dia. Esta taxa máxima ocorre aos 77 dias após a germinação e indica, indiretamente, na velocidade com que o elemento deve ser reposto ao solo para não haver limitações de ordem nutricional. Neste ponto vale considerar que há competição do P entre o solo e a planta. A retenção do P pelo solo chama-se adsorção ou fixação.
Considerando que cada planta explora um volume de 0,04 m³, tem-se que a solução do solo, neste ponto de máxima exigência, será de aproximadamente 0,2 mg de P kg de solo. planta dia. É possível, desta forma, inferir a velocidade com que o solo deverá repor o P para a solução para atender as exigências das plantas. Portanto, além do adubo na linha de plantio, deve-se ter uma fertilidade adequada ao longo de todo o solo. Estes dados trazem a implicação prática de se corrigir solos de baixa fertilidade em P antes do início do plantio direto.
Assumindo a aplicação de 60 kg de P2O5/ha (26, 2 kg de P ha) no sulco de plantio e na cultura do milho, com espaçamento de 1 m entre linhas, pode-se considerar com otimismo que apenas 5% do volume do solo/ha recebeu o adubo fosfatado. Desta forma, 26,2 kg de P/100.000 kg de terra, ou seja, 262 mg kg de P, caso não houvesse "fixação", seria a concentração de P encontrada no sulco de plantio. Apesar de esses valores serem influenciados por uma série de fatores, pode-se verificar que é uma concentração teórica alta, diminuindo competição do solo pelo P. Como efeito prático, pelo lado do plantio direto, não havendo aração e gradeação para homogeneizar o solo, há aumento do P disponível nas linhas de plantio.
Por outro lado, uma adubação de 90 kg de P2O5 ha e 40 kg de K2O ha, com uma produtividade média de 2.000 kg ha para soja e de 4.000 kg ha para o milho. Verifica-se, também, que há, para a soja, um resíduo de 67 kg de P2O5 ha e um déficit (que saiu do solo) de 15 kg de K2O ha (6 mg kg de K); para a cultura do milho haverá um resíduo de 53 kg ha de P2O5 ha e de 11 kg de K2O ha. Portanto, um dos benefícios da rotação de culturas é a possibilidade de se construir e manter uma fertilidade adequada à sustentabilidade.
Carlos A. Vasconcellos, Gilson V. Exel Pitta, Gonçalo E. de França e Vera Maria C. Alves
Embrapa Milho e Sorgo
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