Instituições financeiras precisam apostar na tecnologia para superar os desafios do financiamento no agronegócio
Por Lucas Tuffi, diretor comercial da Agrotools, plataforma digital para o agronegócio corporativo
A adesão à agenda verde se tornou imperativa para a economia mundial, que mira na transição da matriz energética baseada na produção circular de energia e uso de tecnologias limpas e sustentáveis. Há um movimento global que busca valorar e unificar os mercados de carbono como ferramentas para precificar as emissões e impulsionar o investimento público e privado para a transição energética. Nesse contexto, os biocombustíveis contribuem para o cumprimento dos acordos assinados pelo Brasil junto à comunidade internacional e, sobretudo, se apresentam como uma oportunidade de desenvolvimento socioeconômico para o país.
A nova ordem econômica propõe um modelo de desenvolvimento que leve em conta segurança nutricional, planejamento do uso da terra, estratégia para a diminuição da pobreza e um novo mercado para produtos agrícolas, com redução dos impactos ao meio ambiente. A cadeia produtiva do etanol de milho se alinha perfeitamente a essa proposta uma vez que está estruturada num sistema integrado de produção de alimento e energia, altamente sustentável.
Estudos mostram que o Brasil pode se tornar não somente um grande fornecedor mundial de etanol, mas principalmente de tecnologia, considerando fontes como milho e bagaço, além da cana. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a produção de etanol deverá crescer 35% até 2029. E o milho é o grande impulsionador deste crescimento.
A produção de etanol de milho saltou de 37 milhões de litros na safra de 2013/2014 para uma projeção de 4,2 bilhões de litros na safra 2022/2023. E a expectativa é atingir a marca de 10 bilhões de litros em 2030/2031. Na safra 2022, a oferta de milho no país poderá atingir 124,185 milhões de toneladas, de acordo com a consultoria Safras & Mercado, um acréscimo de 23% em relação à temporada 2021. Já o consumo total deve chegar a 114,557 milhões de toneladas, superando as 96,941 milhões de toneladas da temporada anterior.
É nesta conjuntura que o milho, como matéria-prima para a produção do biocombustível, vem se consolidando no mercado nacional. A expansão do segmento de etanol de milho no Brasil, que começou há cerca de 5 anos, é contínua, com o surgimento de novas plantas dedicadas exclusivamente à geração de etanol por meio do cereal (full) ou a ampliação daquelas que processam cana-de-açúcar, mas usam o milho na entressafra (flex).
Primeira usina de etanol brasileira que utiliza milho em 100% de sua produção, a FS, que iniciou sua operação em 2017, traz em seu DNA os valores da economia verde. Num ciclo fechado, a companhia tem como atividade principal o etanol, mas também desenvolve produtos para nutrição animal, produz óleo de milho e gera bioenergia, comercializando o excedente.
A produção inicial de 280 milhões de litros saltou para 1,40 bilhão de litros em cinco anos. Nossa missão é expandir para novas fronteiras o fornecimento de energia e alimentos de modo escalável e sustentável com excelência e agilidade na execução, tendo como visão nos tornarmos o maior produtor de combustível carbono negativo do mundo.
A terceira unidade da empresa, localizada em Primavera do Leste (MT), está em construção. A planta vai gerar uma média de 8 mil empregos indiretos durante as obras e 500 empregos diretos e indiretos quando estiver operando. A inauguração está prevista para 2023 e a capacidade total de produção será de 585 milhões de litros de etanol/ano. O investimento é de aproximadamente R$ 2,3 bilhões.
Os planos de expansão da empresa incluem ainda outras três unidades industriais no estado do Mato Grosso, o que a fará atingir a marca de capacidade produtiva de 5 bilhões de litros de etanol por ano, aproximadamente.
É indiscutível que a consolidação do segmento de etanol de milho trouxe vários benefícios para o Brasil. O primeiro deles foi o estímulo da produção de milho no centro-oeste do país, que promoveu o desenvolvimento na região. Importante destacar também que a produção de etanol de milho da FS é resultado da plantação de milho de segunda safra, o que torna esse biocombustível ainda mais sustentável, uma vez que se maximiza o uso de áreas agrícolas já abertas.
Além disso, o milho garante produção durante 355 dias do ano. Com a armazenagem do cereal conseguimos produzir etanol em períodos que não teríamos combustível se dependêssemos só da cana. Ou seja, o milho é o complemento perfeito para a cana na matriz de combustíveis, pois permite ao consumidor ter etanol na bomba o ano todo.
Além do combustível, as usinas desenvolvem produtos para a nutrição animal e promovem cogeração de energia, com a venda dos excedentes. Para completar, as cinzas geradas no processo produtivo são misturadas com dejetos de aves e se transformam em adubo orgânico que volta para o campo como um fertilizante orgânico.
Programas e mecanismos para venda e compra de créditos de carbono, como o instituído no Brasil pelo RenovaBio, são eficientes para motivar o investimento na redução de emissões e sequestro de carbono. Esse tipo de mercado está mais amadurecido na Europa, Estados Unidos, e outros países.
Instituições alinhadas à Agenda 2030 devem seguir essa tendência, estabelecendo legislações para incentivar a descarbonização da economia. Nesse cenário, a FS trabalha para ter um papel cada vez mais relevante, ampliando a sua capacidade de geração de créditos de carbono.
A produção de etanol de suas indústrias, incluindo a terceira planta, em construção, podem evitar emissões de quase 3 milhões de toneladas de carbono por ano. Este número equivale a deixar de queimar 1,8 milhão de toneladas de carvão mineral. Trata-se de uma contribuição importante para o combate ao aquecimento global.
Cada vez que se usa um litro do etanol há uma redução de 80% de emissão de carbono, na comparação com a gasolina. Dentre as 220 usinas de etanol do Brasil, a planta de Lucas do Rio Verde, da FS, está em primeiro lugar (em consulta pública) em termos de pegada de carbono, com uma intensidade de carbono de 17 gCO2/MJ.
Mas a empresa quer ir além. Estamos trabalhando para instalar um processo de Captura e Estocagem de Carbono na planta de Lucas até 2024. Se tudo se materializar, conforme o previsto, estocaremos 400.000 toneladas de carbono a 2km de profundidade do solo, reduzindo nossa pegada de carbono em 30gCO2/MJ, o que nos colocaria em uma posição de combustível carbono negativo.
Na mesma safra em que se planta soja, se planta o milho. A soja deixa nitrogênio no solo e o milho se beneficia do mesmo, como em uma relação simbiótica. A biomassa é predominantemente de florestas de eucalipto plantadas que estocam carbono no solo, diferente de outros países que usam combustível fóssil.
O mundo todo aposta na eletrificação dos carros. Porém, o Brasil já tem um combustível verde, estabelecido em escala, com carros prontos para serem abastecidos. E por isso caminhamos para uma matriz energética brasileira cada vez mais sustentável, seja com o uso de carros flex, híbridos ou elétricos com células de combustível alimentadas por etanol.
O etanol de milho faz parte dessa história pois permite a geração de combustível renovável em um sistema integrado à produção de alimentos, proporcionando ganhos ambientais, sociais e econômicos.
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Por Lucas Tuffi, diretor comercial da Agrotools, plataforma digital para o agronegócio corporativo
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