Escolha a dedo

No momento de pulverizar, várias decisões importantes devem ser tomadas para garantir a eficácia da aplicação. Você sabe que bicos escolher e qual o volume de calda ideal?

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

As doenças de plantas constituem uma das principais causas de baixa produtividade em algumas lavouras brasileiras. Muitas doenças podem causar, dependendo das condições do ambiente, perdas consideráveis em produção ou, então, dependendo do nível de contaminação, inviabilizar determinadas áreas para o plantio. Uma alternativa para contornar o problema é a aplicação de agrotóxicos, que deve estar inserida no contexto mais amplo do manejo integrado. Os fungicidas diminuem a severidade das doenças e podem aumentar a produtividade das culturas.

O controle de doenças, pragas e plantas daninhas nas áreas de cultivo constitui uma preocupação constante do agricultor. Esse processo só pode ser feito de maneira correta e rentável com emprego de tecnologia adequada. Na maioria das vezes, dá-se muita importância ao produto fitossanitário e pouca à técnica de aplicação. A conseqüência é a perda em eficácia, quando não o fracasso total do tratamento, com superdosagens ou subdosagens, que levam à perda em rentabilidade dos cultivos e a danos ao ambiente e à própria saúde das pessoas que realizam a aplicação.

A obtenção da máxima eficiência depende de um completo entendimento sobre a interação entre agrotóxico, alvo, ambiente e tecnologia de aplicação. Nesse contexto, uma característica importante dos fungicidas, na decisão sobre a técnica de aplicação, é o modo de ação do produto. Os fungicidas de contato são eficazes somente no local de aplicação, exigindo boa cobertura da planta. Os fungicidas sistêmicos, entretanto, translocam-se para partes distantes do local de aplicação. Vale ressaltar que, atualmente, novos tipos de produtos têm surgido no mercado.

A técnica de aplicação

A grande maioria das aplicações de agrotóxicos é feita por meio de pulverização, ou seja, pela geração e emissão de partículas líquidas. A divisão do líquido em pequenas gotas ocorre nos bicos de pulverização. Estes podem ser considerados como os componentes mais importantes dos pulverizadores hidráulicos, pois determinam as características da pulverização emitida. Atualmente, existe no mercado uma diversidade de bicos hidráulicos de pulverização para a desintegração do líquido em gotas, conferindo diferentes características técnicas operacionais.

Genericamente, denomina-se bico o conjunto de peças colocado no final do circuito hidráulico, através do qual a calda é emitida para fora da máquina. Esse conjunto consiste de várias partes, sendo a ponta de pulverização a mais importante, pois regula a vazão, o tamanho das gotas e a forma do jato emitido.

Tradicionalmente, para tratamentos fungicidas, recomenda-se a utilização de pontas de jato cônico vazio. Estas pontas têm como característica uma maior deposição de líquido na porção mais externa do cone, enquanto no centro, praticamente não há gotas. Possuem um padrão de distribuição com menos líquido no centro, aumentando depois um pouco, para voltar a cair bruscamente nos extremos, dificultando sua utilização em barra de pulverização. Geralmente, são recomendadas para aplicações em culturas com grande massa foliar, onde a penetração do jorro e a cobertura são essenciais. Normalmente, trabalham submetidas a uma pressão de 200 a 1000 kPa (30 a 150 psi), produzindo um ângulo de 60º a 80º e gotas pequenas. Embora proporcionando uma satisfatória cobertura do alvo, essas gotas aumentam o risco de contaminação ambiental em função da deriva. Dessa forma, tem-se tentado buscar alternativas que minimizem tais problemas.

As pontas de jato plano, bastante utilizadas na aplicação de herbicidas, apresentam um padrão de deposição triangular, o que facilita sua utilização em barras de pulverização. Além disso, por trabalharem submetidas a pressões menores, geralmente entre 100 e 400 kPa (15 e 60 psi), geram gotas de maior tamanho. Portanto, constituem uma possível alternativa para reduzir os inconvenientes das aplicações de fungicidas utilizando pontas de jato cônico vazio. No entanto, podem reduzir a cobertura e penetração do jato pulverizado.

Tendência atual

Nas décadas passadas, pouca atenção era dada à tecnologia de aplicação, pois o interesse consistia em molhar bem a cultura, o que se conseguia mediante um volume de calda bastante alto. Atualmente, entretanto, existe uma tendência em reduzir o volume de calda, a fim de reduzir os custos e aumentar a eficiência da pulverização. O uso de menor quantidade de água adicionada aos tanques aumenta a autonomia e a capacidade operacional dos pulverizadores, além de diminuir os riscos de contaminação ambiental, pois reduz o escorrimento e, em alguns casos, a evaporação e a deriva. Com o incremento da capacidade operacional, a máquina passa a pulverizar áreas maiores em períodos de tempo com boas condições de temperatura, umidade e velocidade do vento. Essa redução de volume de pulverização requer, no entanto, um aprimoramento da tecnologia de aplicação empregada no campo.

Os trabalhos pioneiros com esta nova técnica foram desenvolvidos para aplicação de herbicidas. Constatada a eficiência da técnica, estuda-se a possibilidade de utilizá-la também na aplicação de outros agrotóxicos. A dificuldade está associada, principalmente, ao uso de pontas de jato plano, uma vez que, até então, a pesquisa recomendava pontas de jato cônico vazio para aplicação de fungicidas, as quais permitiam uma melhor penetração do jorro pulverizado na cultura e, conseqüentemente, melhor controle de doenças no dossel das plantas.

As pontas de jato cônico vazio produzem gotas de pequeno diâmetro, susceptíveis à deriva. A redução do orifício de saída, visando a diminuição do volume de pulverização, acentua este problema, dificultando a aplicação de um volume reduzido. Para contornar este problema, uma alternativa seria a utilização de pontas de jato plano que, comparativamente, produzem menor proporção de gotas com diâmetro inferior a 100 mm. As gotas de diâmetro reduzido são biologicamente mais eficazes, porém pouco seguras sob o ponto de vista ambiental.

Outro fator determinante nas aplicações com baixo volume é a uniformidade de aplicação. A redução do volume de calda é possível somente quando se dispõem de pontas de pulverização que propiciam uma distribuição transversal uniforme e um espectro de gotas uniforme e de tamanho adequado. Esta uniformidade transversal depende da ponta utilizada, da sobreposição dos jatos e da posição da barra porta-bicos em relação ao plano de tratamento. Em geral, para aplicações em barras de pulverização, as pontas de jato plano apresentam maior uniformidade de distribuição, quando comparadas às pontas de jato cônico vazio.

Variáveis importantes

A recomendação final da técnica de aplicação de um fungicida, incluindo a definição da ponta e do volume de pulverização, não é tarefa simples. Vários fatores devem ser avaliados, antes da tomada de decisão, como cobertura exigida, formulação do fungicida, assistência de ar, área foliar e condições ambientais.

A despeito da complexidade da interação entre estes fatores, a pesquisa tem mostrado a viabilidade de utilização de volumes de pulverização próximos a 100 L/ha com pontas de jato plano, em várias situações, para certas culturas como o feijão. O volume de pulverização não tem influência direta no resultado biológico, pois a adição de água à calda tem como finalidade diluir, transportar e facilitar a distribuição do ingrediente ativo sobre o alvo. As aplicações em volumes de pulverização inferiores àqueles atualmente empregados, utilizando bicos de jato plano e jato cônico vazio, podem propiciar densidade de cobertura superior a 70 gotas/cm2, explicando-se, assim, o controle de doenças. Vários pesquisadores citam este valor de cobertura como sendo o valor mínimo recomendado para se obter um bom controle de doenças utilizando fungicidas.

É importante ressaltar, ainda, que a escolha da ponta adequada a cada aplicação deve ser acompanhada de uma seleção criteriosa do sistema de filtragem do pulverizador, de forma a evitar problemas durante a aplicação. Algumas formulações de fungicidas, como o pó-molhável, podem apresentar restrições ao uso em pontas de jato plano de baixa vazão, em virtude do risco de entupimentos.

Considerações finais

Tradicionalmente, os agricultores têm utilizado bicos de jato cônico em volumes de pulverização superiores a 300 L/ha, para aplicação de fungicida em culturas anuais. Entretanto, em face de resultados de pesquisa obtidos recentemente, deve-se avaliar também a possibilidade de uso de bicos de jato plano, em menores volumes de pulverização, no caso de aplicação de fungicidas. Uma indicação final deve levar em conta as condições locais de aplicação e o nível tecnológico empregado. Em qualquer situação, é necessário garantir a segurança da aplicação, evitando a contaminação do homem e do ambiente.

e

Universidade Federal de Viçosa

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