Elaphria spp pode se tornar nova praga no milho?

Por Jéssica Gorri, Fundação Rio Verde. Artigo publicado na edição 291 da Revista Cultivar Grandes Culturas

04.09.2023 | 11:09 (UTC -3)

Para compreender o cenário de final de ciclo da cultura do milho no município de Lucas do Rio Verde, a Fundação Rio Verde fez uma amostragem com quatro coletas em lavouras no estágio R6. As espigas secas foram coletadas para verificar as espécies de lagartas que poderiam estar atuando na região. Cada coleta ocorreu dentro das dependências da Fundação Rio Verde, em Lucas do Rio Verde, em híbridos comerciais que receberam o mesmo manejo fitossanitário. No total, mil espigas foram avaliadas. As coletas aconteceram entre 31/05/23 e 12/06/2023.

Foram encontradas 420 lagartas no conjunto de espigas avaliadas. Essas espigas foram abertas e quantificada a presença ou não de lagartas, posteriormente identificadas pelo seu fenótipo. A espécie Spodoptera frugiperda, como esperado, foi a praga de maior ocorrência.

Também foram encontradas lagartas do gênero Helicoverpa. Entretanto, em menor quantidade. Outra lagarta presente, até então não popularmente conhecida, pertence ao gênero Elaphria.

No ano de 2014 o gênero Elaphria foi relatado pela primeira vez no Estado de Mato Grosso. Os pesquisadores coletaram lagartas nos municípios de Nova Mutum, Campo Verde e Tangará da Serra. Eles realizaram análises morfológicas dos espécimes adultos e indicaram a presença de Elaphria agrotina (Guenée, 1852) e E. deltoides (Lepidoptera: Noctuidae: Noctuinae: Elaphriini).

De acordo com a informação disponível, as espécies Elaphria agrotina e E. deltoides são amplamente distribuídas nas Américas, com relatos nos Estados Unidos, no extremo Sul do Rio Grande do Sul (Santa Maria e Salvador do Sul), no Estado de São Paulo (Piracicaba e Jaboticabal) e no Norte da Argentina. Na região central do Brasil, em áreas de Cerrado, E. agrotina foi relatada principalmente em áreas de cultivo; e, em baixas densidades, na vegetação nativa. Seis culturas foram relatadas como hospedeiras de E. agrotina: soja, feijão, quiabo, algodão, cana-de-açúcar e abacaxi.

Por ser uma praga polífaga, ou seja, que se alimenta de várias famílias de plantas, essas espécies apresentam risco de impacto econômico a culturas como a do milho - na qual vêm sendo relatadas com maior frequência. Os prejuízos econômicos dessa espécie mais observados nessa cultura são ocasionados pelas lagartas alimentando-se na base da espiga; e, também, em espigas caídas, podendo haver relação com o motivo da queda. Sua presença no campo é evidenciada na fase final, quando é nítido que as lagartas alimentam-se de palha e grãos secos. Entretanto, faltam estudos sobre seu ciclo de vida no início do estádio reprodutivo do milho, bem como possíveis hospedeiros na entressafra.

A presença dessa praga está associada a surtos que variam de região para região, condições climáticas e manejo posicionado na área. Os locais onde as lagartas foram coletadas neste estudo utilizaram milho com tecnologias de proteínas inseticidas (Bt), bem como seguiram manutenções usuais para pragas e doenças. Mas faltam estudos específicos para conhecer os danos reais que elas ocasionam, sua pressão populacional, bem como o manejo inseticida adequado. Isso sempre considerando o atingimento de população capaz de gerar danos econômicos.

Dessa forma, fica evidente a importância de monitoramento em todas as fases da cultura, pois, de acordo com nossa coleta inicial, o número de lagarta Elaphria spp. é próximo ao de Spodoptera frugiperda. É importante mencionar que os relatos e dados coletados como demonstrados neste texto são indicativos da relevância de conhecer o dinamismo de pragas que acontecem na lavoura. A partir dessas informações, devemos continuar os monitoramentos, sempre consultar profissionais qualificados para melhor orientação e seguir as diretrizes do manejo integrado de pragas.

Indivíduo de  "Elaphria" sp.
Indivíduo de  "Elaphria" sp.

Visão geral da safra 2022/23 de milho no Mato Grosso

A safra 2022/23 de milho do Estado de Mato Grosso está estimada em recorde de mais de 50 milhões de toneladas. Este fato caracteriza o estado como o líder na produção de grãos e oleaginosas do Brasil, com a colheita de 22/23 superando a safra de países como a Argentina (Imea – Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária, 2023).

Diante da relevância desse cenário, existe a necessidade de minimizar os fatores responsáveis por perda na produção do milho, com destaque para os problemas relacionados ao ataque de insetos-praga. No Brasil, as lagartas sempre estive am presente em todas as regiões e em todas as fases da cultura. Seja na fase vegetativa ou na reprodutiva, essas pragas são de difícil controle e ocasionam danos que reduzem drasticamente a qualidade dos grãos, sendo responsáveis pela maior parte dos gastos fitossanitários.

Estamos acostumados com algumas espécies, como é o caso da lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), que causa grande prejuízo desde a fase inicial da cultura, sendo considerada a principal lepidóptera-praga no milho. Outro problema com o qual estamos familiarizados é a lagarta-da-espiga (Helicoverpa spp.), que, como o próprio nome comum já diz, ataca de maneira voraz espigas e órgãos reprodutivos da cultura. O gênero Helicoverpa é evidenciado pela presença de espécies como H. armigera e H. zea. Entretanto, relatos de hibridização, evolução genética e pressão ambiental tornam cada vez mais difícil a separação dessas duas espécies.

Um controle de praga eficaz está entre as prioridades dos produtores. Métodos são escolhidos antes da semeadura, já que as tecnologias disponíveis nos híbridos de milho são essenciais para uma lavoura saudável, bem como o tratamento de sementes e o posicionamento de inseticidas químicos e biológicos. Claro que todas essas ferramentas funcionam mais efetivamente se posicionadas de maneira assertiva, conhecendo quais pragas atuam na lavoura e quando ocorrem.

Na fase final da cultura, com espigas em formação ou já prontas para a colheita, é fundamental manter os cuidados, já que lagartas e outras pragas podem danificá-las diretamente e indiretamente, sendo porta de entrada para patógenos e aumentando grãos avariados.

Por Jéssica Gorri, Fundação Rio Verde. Artigo publicado na edição 291 da Revista Cultivar Grandes Culturas. 

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