Na formulação da ração total para um rebanho, destaca-se o equilíbrio entre as exigências dos animais e os custos dos componentes da dieta como fator de fundamental importância para a eficiência da atividade. Assim, o menor custo do grão produzido na fazenda desempenha papel de alta relevância na viabilização da atividade. A exploração de bovinos de corte, em sistema de confinamento, em muitas situações depende do uso de milho como principal fonte de energia. Dado ao alto valor desse cereal, os custos com alimentação são bastante significativos nesse sistema de exploração. O emprego da silagem de grãos úmidos de milho tem se constituído em importante tecnologia para reduzir os custos com alimentação em criações de suínos e bovinos leiteiros e de corte. Esse artigo propõe uma abordagem prática sobre a tecnologia de confecção e utilização da silagem de grãos úmidos de milho, com ênfase para emprego na bovinocultura.
Vantagens
Dentre as principais vantagens em relação ao uso da silagem de grãos úmidos de milho podemos destacar as seguintes:
• Antecipação na colheita em três a quatro semanas, o que permite liberar a área para plantio da cultura subseqüente, otimizando o uso da terra;
• Redução significativa das perdas a campo por condições climáticas adversas, ataque de pássaros e de insetos, além de diminuir a presença de fungos;
• Alta qualidade sanitária dos grãos (reduz a presença de fungos, contaminação por toxinas e resíduos de inseticidas aplicados no expurgo);
• Redução das perdas quantitativas e qualitativas durante o processo de armazenagem;
• Baixos investimentos para armazenagem;
• Menor custo de produção em relação ao grão seco.
Desvantagens
• Impossibilidade de comercialização de eventuais excedentes de produção. Para evitar problemas dessa natureza deve-se dimensionar os silos de acordo com a demanda anual;
• Impossibilidade de formulação de concentrado antecipadamente, ou seja, a silagem de grãos tem que ser misturada quase que diariamente aos demais ingredientes da dieta.
Tecnologia de ensilagem
A tecnologia de ensilagem de grãos deve seguir o mesmo princípio (fermentação anaeróbia) daquela utilizada para conservação de qualquer forrageira. Deve-se tomar todos os cuidados em relação ao carregamento, compactação, vedação e posterior descarregamento do silo.
Um dos fatores mais importantes no processo de produção e utilização das silagens, e que muitas vezes é relegado a segundo plano pelo produtor, é a redução das perdas em toda a cadeia produtiva. Para equacionar problemas dessa natureza o produtor deve estar atento a Eficiência de Aproveitamento da Silagem (EAS), que pode ser determinado segundo: EAS = silagem consumida/quantidade ensilada. Descontando-se a EAS obtido do valor 1, obtém-se a estimativa das perdas durante o processo (Ex.: (1 – 0,9) x 100 = 10% de perdas). Assim sendo, essa relação deve ser o mais próximo possível de 1 (100% de aproveitamento), sendo que valores ao redor de 0,9 podem ser considerados como muito bons. No entanto, esses valores são variáveis em função da tecnologia empregada na ensilagem, do tipo de silo e da forragem ensilada.
O produtor precisa ter consciência que a EAS determina o custo real da tonelada de silagem produzida (Custo real/t silagem = Custo na ensilagem/EAS). Dessa forma, assumindo que o custo de 1 t de silagem de grãos úmidos de milho foi de R$ 182,75 e a EAS foi de 0,94 o custo real passa a ser de R$ 194,41 (R$ 182,75 /0,94).
No Brasil não tem sido realizado estudo comparativo para determinar a eficiência do uso de inoculantes em silagens de grãos úmidos de milho. Porém, na prática tem-se constatado que o uso de inoculantes para grãos úmidos de milho pode melhorar o padrão de fermentação e, possivelmente, a estabilidade da silagem. No entanto, é indispensável o cuidado com a relação custo-benefício. Como já mencionado anteriormente, muitas vezes o uso de inoculantes não resulta em aumentos significativos no desempenho animal. Mas a redução das perdas (CAS), ou seja, a relação entre quantidade de grãos aproveitada pelos animais e a quantidade de grãos colocado no silo, pode ser o fator determinante da eficiência econômica do uso de inoculantes microbianos em silagens de grãos.
Colheita
O ponto ideal de colheita ocorre quando o grão apresentar entre 32 a 36% de umidade, com um mínimo de 26 e um máximo de 40%. O milho muito seco é propenso a rápida deterioração quando retirado do silo ou mesmo durante a armazenagem se a qualidade de fermentação for pobre. Para grandes áreas de plantio é de fundamental importância a sincronia entre o plantio e as atividades relacionadas à ensilagem.Quando esse escalonamento não é feito pode-se correr o risco de terminar a ensilagem com os grãos muito secos, afetando sua qualidade. Portanto, deve-se dimensionar adequadamente a capacidade de colheita e moagem diária, bem como a capacidade de compactação. Na prática, no ponto de colheita, a espiga apresenta-se com a palha seca e o grão já completou a maturação fisiológica.
Processamento
O processamento do grão refere-se aos métodos de preparação para utilização na alimentação animal. Logo após a colheita os grãos devem ser processados (quebrados, moídos ou laminados) e devidamente compactados. Para a alimentação de bovinos, uma moagem grossa (quirera) é suficiente, ou seja, a quebra dos grãos em três a quatro pedaços. O grão moído muito fino pode aumentar a incidência de deslocamento do abomaso, resultado da acidose ruminal.
Compactação
Uma boa compactação deve proporcionar cerca de 1000 kg de silagem/m3. Normalmente, silos tipo trincheira, revestidos, proporcionam melhores condições de compactação e perdas insignificantes.
Descarga dos silos
Durante a utilização da silagem de grãos úmidos deve-se tomar todos os cuidados referentes ao descarregamento do silo, uma vez que a deterioração superficial da silagem de grãos é relativamente rápida. Portanto, antes da ensilagem é necessário dimensionar adequadamente os silos em relação à demanda diária. Quando a quantidade de silagem a ser retirada diariamente for pequena, o ideal é fazer mais de um silo, com menor superfície frontal. Assim, a área de silagem exposta ao ar será menor e a espessura da fatia maior, sendo retirada diariamente toda a silagem que está em processo de deterioração.
Na alimentação
Atualmente, com a mudança nos conceitos sobre a eficiência do uso do amido pelos ruminantes, está comprovado o melhor desempenho animal quando alimentados com amido de alta degradação ruminal. Estudos de desempenho de bovinos (corte e leite) alimentados com silagem de grãos úmidos de milho têm demonstrado vantagens do ponto de vista nutricional e econômico. Os resultados obtidos revelam que os animais alimentados com silagem de grãos úmidos, comparado ao milho grão seco, apresentam melhor desempenho em relação ao ganho de peso e conversão alimentar. Isso possibilita reduzir o custo de produção da arroba ou do litro de leite, melhorando as margens de lucro do produtor. Fica evidente que o emprego dessa tecnologia pode contribuir significativamente para melhorar a performance animal e reduzir um dos principais gargalos na produção de carne e leite que é o custo de produção. Em razão disso, além dos resultados em relação ao valor nutricional e desempenho animal, deve-se destacar principalmente os resultados econômicos que poderão advir do emprego da silagem de grãos de milho.
Clóves Cabreira Jobim
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