Desafios da nutrição de plantas de soja com alto desempenho

Por Keli C. S. Guera, CGM Monitoramento Agrícola

27.08.2024 | 09:11 (UTC -3)

A cultura da soja é carro-chefe quando falamos do agronegócio brasileiro. Esta cultura origina, através dos óleos extraídos dos grãos, diversos produtos, desde a indústria alimentícia até a fabricação de cosméticos e tintas, além de, também, abastecer o próprio mercado agropecuário com sementes de alto potencial produtivo.

Os dados de safras de soja, nos últimos 5 anos, mudaram muito. Os três maiores estados brasileiros produtores de soja são Mato Grosso (MT), Paraná (PR) e Rio Grande do Sul (RS), que juntos representam mais de 57% da produção total da soja no país. Para esses estados, a produção média passou de 22,3 milhões de toneladas na safra 2016/17 para 27 milhões de toneladas na safra 2022/23, um aumento de 21% no levantamento realizado. Aliada a esses números está a produtividade (kg/ha) alcançada – no MT e PR a produtividade aumentou 14,3% e 1,4% dentro dos últimos 5 anos, respectivamente. Isso representa um ganho médio de 5 sacas/ha de 2017 para 2023.

Dentre muitos fatores relacionados à tecnologia no mundo do agronegócio, as novas cultivares de soja têm sido desenvolvidas de forma a atingir maiores tetos produtivos, maior peso de mil sementes, alto vigor e germinação, entre outros componentes para alcançar resultados campeões de safra. No entanto, atingir resultados surpreendentes com essas cultivares exige que o ambiente onde estão se desenvolvendo propicie todos os recursos necessários para expressar esse potencial. Nesse ponto, podemos alinhar fatores como operações agrícolas, manejo fitossanitário, índices climáticos e, principalmente, fertilidade do solo adequada para o desenvolvimento.

A recomendação de adubação das culturas está diretamente relacionada ao potencial de resposta a um ou mais nutrientes e, por consequência, é função da disponibilidade destes no solo. Em áreas com baixa disponibilidade de nutrientes, além das práticas relacionadas à melhoria do perfil químico do solo, devem-se aplicar doses de adubos que resultem no incremento gradual da disponibilidade dos nutrientes no solo (adubação corretiva). À medida que a fertilidade vai sendo construída, o critério para recomendação de adubação passa a ser a sua manutenção e, para isto, é fundamental conhecer a demanda nutricional da cultura quanto ao potencial de exportação de grão, técnica essa nomeada como balanço de nutrientes.

Em pesquisas sobre o manejo da fertilidade voltada para a alta produtividade da soja, cinco fatores se destacam como principais para a obtenção de resultados acima de 70 sacas/ha: (i) impedimento físico do solo até 40 cm; (ii) disponibilidade de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) em profundidade; (iii) teores de potássio (K), boro e cobre em níveis considerados médio a alto; (iv) manejo fitossanitário adequado; e (v) densidade de plantio adequada à cultivar e ao sistema de produção. Observe que entre os cinco fatores principais, três deles referem-se à qualidade do solo.

A correção de acidez do solo com a aplicação de calcário a cada 2 a 3 anos também traz o aporte de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) no solo para absorção das plantas. Na aplicação de calcário calcítico, a entrada de Ca no sistema é maior que em calcário dolomítico; a escolha do calcário irá depender das concentrações desses dois elementos. Para a aplicação de calcário, visando a um sistema de produção de soja com alto desempenho, é recomendada a aplicação com o objetivo de atingir saturação por bases de 70%.

Vale ressaltar que nos casos em que a aplicação exceder 4 mil kg/ha, o parcelamento da dose é interessante para evitar desequilíbrio químico na solução do solo por uma “supercalagem”. Além disso, produtos como o gesso agrícola podem auxiliar no equilíbrio da relação entre Ca/Mg, sendo desejável a relação de 4:1, a depender da textura do solo, em casos em que o pH do solo encontre-se em valores acima de 5,5 e os teores de enxofre (S) não excedam 6,0 mg/dm na camada de 0 a 20 cm.

Os teores de potássio (K) do solo para o cultivo da soja com alta produtividade não podem se apresentar abaixo de 0,35 cmolc/dm. Nesse caso, a soja não pode ser cultivada sem adubação corretiva e de manutenção, devendo ser aplicada na sucessão soja-cultura de inverno, para produtividade acima de 5 mil kg/ha, 150 a 200 kg de K2O/ha, mais adubação de manutenção de 80 kg de K2O/ha/ano. No caso de uma diagnose foliar, nas folhas do terço superior na época de floração, para alta produtividade de soja, está associada a teores de K acima de 17,1 g/kg.

Para a nutrição de soja de alto desempenho é válido ressaltar a importância de manter teores adequados de boro (B), cobre (Cu) e manganês (Mn). Esses elementos fazem parte de vários mecanismos de desenvolvimento da planta e, principalmente, dos grãos de soja. Os valores ideais na camada de 0 a 20 cm do solo encontram-se na faixa de 0,4; 1,1 e 1,2 mg/dm para B, Cu e Mn, respectivamente. É sempre válido lembrar que a mais importante fonte de micronutrientes do solo é via matéria orgânica do solo. Manter o cultivo sob sistema conservacionista do solo, respeitando as premissas do plantio direto (cobertura permanente do solo, não revolvimento do solo e rotação de culturas), garante o aumento/manutenção da matéria orgânica e acúmulo de carbono no solo.

Quanto ao nitrogênio (N), trabalhos realizados pela equipe da Embrapa revelam que não há benefícios da adição de N mineral, mesmo em lavouras de alta produtividade. Entretanto, devido à facilidade na obtenção de fórmulas de fertilizantes com N, as mesmas poderão ser utilizadas, desde que não ultrapasse a dose de 20 kg/ha de N para não onerar os custos de produção e não inibir a atividade das bactérias fixadoras de N, Bradyrhizobium japonicum, que diminuem drasticamente a formação de nódulos com doses altas de N mineral.

Para as altas produtividades de cultivares de soja e de todo o sistema produtivo, a fertilidade do solo é chave para alcançar esses objetivos. Realize a análise de solo anualmente para acompanhar as características do solo e procure sempre orientação profissional de qualidade para auxiliar nas tomadas de decisão.

Por Keli C. S. Guera, CGM Monitoramento Agrícola

Artigo publicado na edição 291 da Revista Cultivar Grandes Culturas

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