Evapotranspiração atual da cultura da soja no Cerrado
Por Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados, e Élvis da Silva Alves, bolsista de pós-graduação da Universidade Federal de Viçosa
Helicoverpa armigera e Chrysodeixis includens são duas pragas com alto potencial de provocar danos a diversas culturas como soja, milho, feijão e algodão. Pelo modo como se alojam nas plantas tornam-se alvos difíceis de serem atingidos pela aplicação de inseticidas. Por isso além da escolha correta do produto, o uso adequado da tecnologia de aplicação é fundamental para o sucesso no controle destes insetos.
Produção agrícola exige esforços constantes, dedicação, conhecimento e discernimento. Grandes desafios se apresentam dia após dia ao produtor, que para enfrentá-los se vale das tecnologias mais avançadas, maquinário moderno e de alto rendimento, sementes certificadas, fertilizantes, modelos de gestão adaptados e sistemas de cultivo altamente rentáveis. No controle de pragas, no entanto, apesar da oferta de todas estas ferramentas, não é raro o insucesso de uma pulverização porque o alvo não é atingido. Por vezes há pragas de difícil controle, seja por sua tolerância ou resistência a determinadas moléculas, pela sua localização e posições na planta onde não é fácil a gota chegar, ou ainda pela dose inadequada do produto inseticida. Entre estas pragas estão espécies polífagas, como Helicoverpa armigera e Chrysodeixis includens, cujo controle populacional nem sempre é obtido pelas pulverizações, induzindo a intensificação cada vez maior do uso e das doses de inseticidas químicos, resultando no aumento do custo de produção e em danos diretos à produção. O mau uso da tecnologia de aplicação tem sido constantemente citado entre as prováveis causas do insucesso no controle desses insetos, demandando pesquisas mais específicas para a aplicação de inseticidas químicos e biológicos utilizados no controle destes lepidópteros.
Culturas como a soja, milho, feijão e algodão são atacadas pelas duas pragas que se deslocam entre cultivos em diferentes épocas, o que favorece sua sobrevivência e o aumento das populações. Nas últimas safras as lagartas Helicoverpa (Helicoverpa armigera) e falsa-medideira (Chrysodeixis includens) têm se tornado mais frequentes, causando danos significativos e exigindo ações de controle por parte dos agricultores. A extensão e proximidade de lavouras de feijão, girassol e soja, principalmente, determinam a permanência e consequente migração de mariposas para cultivos de algodão. Esta sucessão de hospedeiros permite a estas pragas se manter em alta densidade no agroecossistema, outra razão para seus surtos frequentes.
Praga conhecida em outras regiões produtoras de grãos e fibras do mundo, Helicoverpa armigera teve sua ocorrência registrada pela primeira vez no Brasil na safra 2012/2013 em áreas do cerrado, associada aos cultivos da soja e algodoeiro. Desde então, surtos populacionais se tornaram frequentes, inclusive em algumas lavouras transgênicas. Estas lagartas se alimentam de folhas e hastes, mas tem preferência por estruturas reprodutivas. Os adultos são fortemente atraídos pelo néctar das flores, o que influencia de maneira significativa a escolha das plantas hospedeiras. Além disso, H. armigera possui grande capacidade de adaptação a condições ambientais adversas de temperaturas extremas e baixa umidade relativa do ar. Mas, evidentemente que se o clima for favorável maior será a capacidade de manter populações elevadas, fato comum em alguns estados brasileiros, como a Bahia, que possui clima quente e seco aliado à diversidade de plantas cultivadas hospedeiras, onde a ocorrência desta praga e seus danos são maiores. Atualmente distribuída pelas regiões produtoras de grãos e fibras do Brasil, de Sul a Nordeste, é encontrada se alimentando de plantas dicotiledôneas como feijoeiro, soja, também em culturas como algodoeiro e em menor extensão em lavouras de milheto, sorgo e milho. Ademais, o que agrava a situação é o fato de que esta espécie tem apresentado linhagens que possuem tolerância ou até resistência a inseticidas e a plantas geneticamente modificadas. Estima-se que a perda mundial ocasionada por essa praga chegue a cinco bilhões de dólares. No Brasil os prejuízos estimados são da ordem de dois bilhões de reais até a safra 2012/2013.
Chrysodeixis includens têm sua forma jovem popularmente conhecida como falsa-medideira, e tanto lagartas pequenas como grandes são encontradas alimentando-se do terço inferior das plantas e de folhas tenras de ramos secundários de soja, girassol, feijão e algodão. Mas é constante notar que durante o primeiro e segundo ínstar as lagartas apenas raspam as folhas, enquanto, a partir do terceiro ínstar, conseguem perfurá-las, deixando, entretanto, as nervuras centrais e laterais intactas, proporcionando aspecto característico de folhas rendilhadas, reduzindo a capacidade fotossintética da planta. Sua polifagia permite que se desenvolva em 73 espécies de plantas hospedeiras no Brasil. Os surtos de falsa-medideira parecem ser maiores em agroecossistemas onde a soja e o algodão são cultivados próximos. Alguns estudos constataram um aumento na longevidade, oviposição e frequência de cópulas, quando foi fornecido o néctar das flores de algodoeiro para adultos de C. includens. Isso em parte pode explicar o maior índice populacional de C. includens em soja, quando existe área de algodão nas proximidades. Tal condição ocorre comumente no Brasil Central, em áreas agrícolas onde há a sucessão destas culturas e constante sobreposição de áreas de cultivo envolvendo culturas de soja e algodoeiro.
O principal método de controle dessas pragas tem sido o químico, muitas vezes realizado de forma indevida, sem uma correta amostragem que indicaria o momento ideal de aplicação. Autores mencionam que o momento adequado para o controle químico destas espécies seria nos primeiros ínstares larvais, pois as lagartas alimentam-se preferencialmente das partes mais tenras das plantas e, portanto, estariam mais expostas e suscetíveis ao contato dos produtos aplicados. Entretanto, nem sempre a pulverização é feita sob esta situação ideal, sendo necessárias mais informações a respeito do comportamento destas pragas, difíceis de serem atingidas pelo controle químico. A dificuldade de alcançar o alvo passa a ser maior nas situações em que essas pragas ocupam preferencialmente as regiões do interior das culturas (porções média e inferior das plantas), exigindo maior penetração das gotas para que os produtos possam agir sobre a praga alvo. Em função disso, é comum considerar a técnica de aplicação utilizada e/ou condição operacional associada como uma das causas do insucesso no controle.
Para a adequação de recomendações de inseticidas com satisfatória eficiência de controle, na safra 2016/2017, foram realizados bioensaios com Helicoverpa armigera e Chrysodeixis includens, além de avalições de quatro inseticidas distintos com modos de ação em lagartas de terceiro instar, estágio mediano do ciclo de desenvolvimento.
Eficiência de controle de Helicoverpa armigera maior que 75% foi verificada com o uso de dose inteira (dose recomendada em bula) e dobro da dose de Baculovirus (HzSNPV) e todas as doses de flubendiamida (Figura 1). Os demais produtos resultaram em eficiência de controle inferior a 75%. Contra Chrysodeixis includens, eficiência de controle igual ou acima de 75% foi verificada com o uso de lufenuron e flubendiamida. Os demais produtos resultaram em eficiência de controle máxima de 53%. Nos testes com ambas as espécies de lagartas, a eficiência dos produtos e respectivas doses na fase pupal foi sempre relativamente baixa, atingindo no máximo 5%, o que demonstra que a ação letal dos produtos se concentrou na fase larval.
A mortalidade larval diária acumulada de H. armigera promovida por B. thuringiensis variou ao longo do tempo, porém pouco ultrapassou o valor de 50%, independentemente da dose utilizada (Figura 2a). Tendência de incremento da mortalidade com o aumento da dose foi observada com Baculovirus (HzSNPV), sendo que a dose recomendada promoveu mortalidade larval final próximo a 80% e o uso do dobro da dose elevou tal mortalidade a valores próximos a 100%. Lufenuron promoveu mortalidade larval crescente nos primeiros cinco dias, estabilizando após este período em patamares entre 50% e 60% quando utilizadas meia dose e dose inteira, e próximo a 80% quando empregado o dobro da dose. Quanto a flubendiamida, a mortalidade larval foi significativamente incrementada logo nos primeiros cinco dias após a exposição, estabilizando em valores elevados entre 90% e 100%, mesmo quando meia dose foi adotada (Figura 1d).
A mortalidade larval diária acumulada de C. includens promovida por B. thuringiensis aplicado em meia dose e dose recomendada não atingiu 40%. Quando utilizado o dobro da dose recomendada, a mortalidade atingiu valor um pouco acima de 60% no final da fase larval. Baculovirus (ChinSNPV) promoveu mortalidade crescente ao longo da fase larval, porém a mortalidade larval acumulada variou entre 50% e 65%, sendo este valor máximo resultante do uso do dobro da dose recomendada. A mortalidade devido ao uso de lufenuron ocorreu nos primeiros sete dias da fase larval e atingiu valores próximos a 100%. O mesmo padrão de mortalidade foi verificado com flubendiamida, sendo que os valores finais resultantes variaram entre 80% e 100%, proporcionalmente à dose utilizada.
Os resultados permitiram concluir que dentre os produtos testados, os mais eficientes para o controle de Helicoverpa armigera foram flubendiamida na dose de 75 ml p.c./ha, baculovirus (HzSNPV) na dose de 1500 g p.c./ha e lufenuron na dose de 2000 ml p.c./ha. Contra Chrysodeixis includens, lufenuron na dose de 500 ml p.c./ha e flubendiamida na dose de 75 ml p.c./ha foram os mais eficientes.
Importante salientar que para ambas as espécies foi necessária apenas a metade da dose recomendada de flubendiamida para a obtenção do controle desejado. Da mesma forma, para o controle de C. includens, lufenuron foi eficiente mesmo com meia dose (500 ml p.c./ha). Na prática, porém, é de bom senso a manutenção da dose recomendada, pois os testes foram efetuados em ambiente de laboratório, sem a presença de outros fatores adversos à pulverização, enquanto no campo a ação dos produtos pode ser afetada por fatores bióticos e abióticos.
Produtos e doses adequadas ao controle das pragas das culturas fazem parte da tecnologia de aplicação. A interação dos fatores relativos ao produto e aqueles relacionados à cultura, ao ambiente e às características e condições do equipamento aplicador concorrem para o controle eficiente, a redução do custo e dos impactos ambientais. Assim, além do produto e dose adequada, deve-se atentar para a boa regulagem do pulverizador e o momento correto de aplicação, considerando-se a fase suscetível da praga, o horário de aplicação, as condições de temperatura, umidade e vento. As condições de clima devem ser favoráveis à absorção e translocação dos produtos, indicando-se temperaturas entre 20ºV e 30ºC, umidade relativa entre 60% e 70% e ventos com velocidade inferior a 10 km/h. Não é prudente realizar aplicações em caso de chuva iminente, pois pode haver perda do produto por escorrimento. O volume de calda a ser aplicado, o número e o tamanho das gotas, a pressão de funcionamento dos bicos, a agitação e adição de adjuvantes devem ser verificados cuidadosamente. Finalmente, recomenda-se que o produtor consulte sempre um engenheiro agrônomo para auxiliá-lo no aferimento de todos estes fatores.
Artigo publicado na edição 225 da Cultivar Grandes Culturas, mês fevereiro, ano 2018.
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