Cuidados com a compactação do solo

O preparo convencional do solo pode trazer diversas mudanças na sua estrutura, evidenciando a compactação, que em condições intensas debilita o crescimento radicular das plantas

16.06.2023 | 16:14 (UTC -3)

O preparo convencional do solo pode trazer diversas mudanças na sua estrutura, evidenciando a compactação, que em condições intensas debilita o crescimento radicular das plantas.

Será que as plantas gostam de compactação? Sim, a planta gosta de compactação, mas em condições amenas e não do excesso, pois assim as raízes irão apresentar maior contato com o solo, proporcionando maior eficiência na absorção de quantidades adequadas de água e nutrientes. Porém, se houver excesso de compactação, acarretará em problemas no desenvolvimento radicular e, consequentemente, na absorção de água e nutrientes. Então é preciso conhecer o fenômeno de compactação do solo e entender as suas causas e consequências.

O efeito de compactação do solo é o resultado de uma aglomeração de argila em determinada porção do solo, resultando em uma camada menos permeável. Sendo assim, este efeito pode ser um processo agravador para menor produção das culturas e de problemas associados às qualidades físicas do solo, como, por exemplo, a infiltração e retenção de água, aeração e macroporosidade, densidade do solo, resistência à penetração de raízes, além de provocar menor disponibilidade de nutrientes às plantas, o que gera restrição do crescimento radicular. A resistência à penetração do solo aumenta com a compactação, mas também é altamente dependente da umidade em que o solo se encontra.

O aumento da densidade do solo pode ser causado por fatores naturais do solo, e quando isso ocorre, dá-se o nome de adensamento, que é a migração de um acumulado de argila das camadas superficiais para o subsolo, causando redução da permeabilidade do local, isso ocorre em argissolos, por exemplo. Mas a compactação em si é causada por fatores externos, com a formação de ilhas de compactação, resultando em camadas menos permeáveis, devido ao tráfego de máquinas e implementos e à passagem de animais etc. Assim, o preparo do solo influi diretamente para a formação de áreas compactadas no solo.

Segundo Santiago & Rossetto (2007), o preparo convencional do solo consiste no revolvimento de camadas superficiais para reduzir a compactação na camada mobilizada, incorporar corretivos e fertilizantes, aumentar os espaços porosos e, consequentemente, elevar a permeabilidade e o armazenamento de ar e água no solo.

A compactação pode ser determinada por métodos diferentes de avaliação, como, por exemplo: a) Visuais: observa-se se a área apresenta encharcamento, plantas subdesenvolvidas, raízes malformadas etc; b) Densidade do solo: são coletadas amostras indeformadas de solo, analisando-se também o seu percentual de macroporos; c) Resistência Mecânica do Solo à Penetração (RMSP): realizada com a utilização de penetrômetros, avaliando-se a resistência que o solo oferece à sua penetração no solo; d) Outros, como abertura de trincheiras para analisar o perfil do solo etc. A avaliação da RMSP é um método bastante utilizado, e apresenta boa correlação na avaliação da compactação do solo. É um processo que apresenta maior agilidade na amostragem, em que os resultados são obtidos em menor tempo, além de o trabalho ser menos fadigante e mais confortável para o operador.

Desta forma, com a avaliação da Resistência Mecânica do Solo à Penetração, juntamente com a umidade correspondente à camada do solo estudada, é possível analisar os impactos da compactação e se ela interfere no desenvolvimento e potencial produtivo da cultura. Portanto, este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de três equipamentos de preparo convencional do solo na resistência mecânica do solo à penetração e na produção de matéria verde e seca de milho para silagem. 

O preparo periódico do solo foi realizado com a utilização de: 1) arado de disco, seguido de duas gradagens para destorroamento e nivelamento; 2) grade aradora intermediária, também seguida de duas gradagens para destorroamento e nivelamento; e 3) enxada rotativa. Foram avaliados, em condições de campo, os efeitos na resistência mecânica do solo à penetração (RMSP) e sua relação com a compactação do solo.

O estudo foi conduzido em área experimental, no município de Rio Paranaíba (MG), que possui média de 1.100 metros de altitude. O solo da região é classificado como latossolo vermelho – amarelo distrófico, com textura argilosa, com 42% de argila, em relevo plano, sendo manejado com os mesmos sistemas de preparo de solo desde o ano 2014 para a produção de grãos.

NO CAMPO

Após ser feito o preparo do solo, foi instalada a cultura do milho para silagem, com o híbrido MG 744 Morgan. O modelo estatístico utilizado foi o delineamento inteiramente casualizado (DIC) com três tratamentos e quatro repetições, sendo os tratamentos de preparo primário de solo: arado de discos, grade destorroadora intermediária off set e enxada rotativa; resultando, assim, um total de 12 unidades experimentais, cada uma com dimensão de 10m x 10m (100m²). Entre elas estão presentes carreadores, de mesma dimensão das parcelas, designados ao tráfego do maquinário, manobras e regulagens do equipamento. 

Para o preparo do solo utilizou-se o arado de discos, marca Baldan, modelo AF-3, com três discos e profundidade de trabalho igual a 20cm; grade destorroadora intermediária, off set, marca Köhler modelo GAC300 equipada com 14 discos e profundidade de ação de 15cm; enxada rotativa, marca MEC-RUL, modelo ERP 200 B, equipada com oito flanges e 48 lâminas e profundidade de ação de 10cm. Em todas as operações de preparo de solo, os equipamentos foram acoplados ao trator New Holand TL85E, a 2.000rpm, terceira reduzida e velocidade média de 5km/h.

Para determinar a resistência mecânica do solo à penetração (RMSP), utilizou-se o penetrômetro de impacto, modelo IAA/Planalsucar-Stolf, e para efetuar a coleta de solo para avaliação da umidade, utilizou-se o trado holandês. Para a avaliação da RMSP, foram escolhidos três pontos aleatórios em cada unidade experimental e esta seleção foi feita ao longo do perfil do solo nestes pontos desde a camada 0cm – 10cm até a camada 50cm – 60cm, sendo os impactos registrados a cada 10cm.

Para a avaliação da umidade do solo, foram coletadas amostras deformadas, nas mesmas camadas, junto aos pontos escolhidos aleatoriamente para a avaliação da RMSP. As duas avaliações foram efetuadas 90 dias após a semeadura do milho, tomando-se cuidado para efetuar a coleta da umidade em sequência à coleta dos dados do penetrômetro em cada parcela, para que não ocorresse alteração da umidade no local. 

Os dados coletados com o penetrômetro de impacto fornecidos em “impactos/dm” foram transformados em MPa (Stolf, 1990). Os dados obtidos foram tabulados e submetidos à análise de variância e quando significativo, foi aplicado o teste Tukey, a 5% de probabilidade, para a comparação das médias de resistência à penetração do solo.

O parâmetro utilizado neste estudo para avaliar a compactação do solo foi a resistência mecânica do solo à penetração (RMSP). Nas camadas 0cm - 10cm e 10cm – 20cm verificou-se maior valor de resistência à penetração para a grade destorroadora intermediária em comparação com o arado de discos (Tabela 1), em que os valores correspondentes para umidade foram estatisticamente iguais para estes dois equipamentos, podendo, assim, afirmar que a grade destorroadora intermediária proporcionou maior efeito de compactação, fator esse explicado pelas regulagens de profundidade definidas de seus órgãos ativos.

Essa diferença encontrada pode ser resultado da regulagem dos equipamentos, sendo que o arado de discos trabalha em maior profundidade, revolvendo mais o solo e ocasionando menor valor de RMSP nestas camadas. A enxada rotativa e a grade destorroadora intermediária, por apresentarem os órgãos ativos fixados em um mesmo eixo, têm maior dificuldade para a penetração no solo, o que não acontece com o arado devido a este equipamento ter cada um dos elementos ativos ligado separadamente ao chassi por uma coluna. Assim, os solos preparados por estes equipamentos podem gerar maior valor de RMSP nas camadas superficiais e subsuperficiais. 

Entretanto, os valores encontrados na camada superficial 0cm – 10cm estão situados abaixo do valor de 2,5MPa. Este menor valor de resistência na camada superficial do solo é relacionado pelo fato desta camada sofrer revolvimento, destorroamento e nivelamento, proporcionados pelos  equipamentos utilizados no preparo periódico do solo, assim resultando em aumento da aeração do solo (macroporosidade).

Nota-se que, com o aumento da profundidade, ocorreu uma sensível redução da RMSP, o que pode ser justificado pelo pequeno efeito dos órgãos ativos dos equipamentos utilizados para as camadas mais profundas do solo, ou seja, é resultado de um efeito diluído da carga dos equipamentos agrícolas quando observados em maiores profundidades, conforme também observado nos trabalhos de Gamero e Benez, 1990, e Silva, 2015.

Pode-se observar para a grade e a enxada rotativa, que houve aumento da RMSP a partir 10cm, enquanto que para o arado de discos o aumento ocorreu a partir 20cm, caracterizado pela formação de uma “soleira”, em função das profundidades de regulagem definidas. 

Para a umidade, apenas a camada 0cm – 10cm apresentou diferença estatística significativa para os equipamentos utilizados. Nesta camada, a grade destorroadora intermediária proporcionou menor valor para umidade em comparação à enxada rotativa.

Tabela 1
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 2

Pelos dados apresentados na Tabela 2, onde se pode observar a produtividade em relação à matéria verde e à matéria seca, o produtor pode optar por qualquer um dos equipamentos, baseado nos resultados estatísticos e não nos valores absolutos, uma vez que o CV foi próximo de 20%, porém considerado normal para esse tipo de avaliação realizada em campo.

A grade e a enxada rotativa, quando comparadas com o preparo de solo com o arado, proporcionaram maior resistência à penetração nas camadas mais superficiais, sem sofrerem influência da umidade do solo (Tabela 1). Entretanto, esse aumento na resistência não afetou a produtividade na silagem do milho (Tabela 2). Assim, a grade destorroadora poderia ser recomendada como forma de preparo periódico, desde que não tenha problemas de erosão na área cultivada, para relevo plano, em função de proporcionar melhor capacidade operacional e consequentemente menor custo na adequação do solo para semeadura (Silva, 2015). Possivelmente, a grade seria preferível por ter maior largura útil e ser mais usual se comparada à enxada rotativa. 

Em vista dos dados apresentados neste estudo, pode-se concluir que existe uma relação inversa entre RMSP e umidade do solo. Abaixo da camada mobilizada, ocorreu aumento da RMSP em função das diferentes profundidades de regulagens dos equipamentos, sendo esta mais superficial para a grade e a enxada rotativa. Independentemente do equipamento utilizado ocorreu redução da RMSP nas maiores profundidades, em função da diluição dos seus efeitos nessas camadas. Os equipamentos utilizados no preparo do solo influenciaram na resistência mecânica do solo à penetração, porém não influenciaram na produtividade do milho para silagem.

Letícia Almeida, Luiz Fernando Costa Ribeiro Silva, Alberto Carvalho Filho, Renato Adriane Alves Ruas, Pedro Ivo Vieira Good God, Liliane Evangelista Visôtto, Universidade Federal de Viçosa

Artigo publicado na edição 185 da Cultivar Máquinas, mês junho, ano 2018.

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