Falar do couro é falar do envelope da carne, produto que chega a valer mais que a própria proteína vermelha.
Fazendo um comparativo entre os anos, concluímos que, nos anos 70 e 80, o couro valia aproximadamente 5% sobre o valor da arroba do boi e hoje chega a valer 12 a 14% sobre o valor da mesma arroba. Essa mudança aconteceu pelo grande progresso em relação à transformação do couro brasileiro, que, nas décadas anteriores, era destinado, em maior parte, para calçados e artefatos, já que não era possível fazer cortes maiores pela baixa qualidade do couro. Nos últimos anos, o couro brasileiro foi descoberto pela indústria do estofamento, mudando todo o cenário do mercado.
Atualmente, os defeitos mais freqüentes ocorrem nas fazendas, do nascimento até o transporte para o abate, e também nos frigoríficos, onde são produzidos um grande número de raias e furos. Esses defeitos podem ser divididos em dois grupos: os naturais, como berne, carrapato, mosca de chifre, riscos de espinhos (pastagens sujas), e as agressões do homem, como marca de fogo (atualmente principal defeito), furo de ferrão, riscos e cicatrizes provocados por currais, cercas e carrocerias inadequadas.
Os defeitos encontrados no couro provenientes de ações da natureza são eventualmente “mascarados” pela tecnologia e pela moda, minimizando os prejuízos. Já os defeitos decorrentes da agressão do homem são responsáveis pelo menor preço recebido pelo boi brasileiro quando comparado ao boi americano. A marca de fogo, em locais nobres como a anca do boi e linha dorso lombar, prejudica e desvaloriza em até 30% o valor da pele do animal. Nesse caso, cabe lembrar que desde 1965 existe a lei Nº 4.714/65 conforme norma da ABNT – NBR 10.453, que determina os lugares onde deve ser realizada a marcação que, infelizmente, só é cumprida por pecuaristas mais esclarecidos que possuem uma maior visão de futuro, que contribuem para fazer um Brasil respeitado lá fora como um produtor de couro de qualidade.
Nos EUA, somente 8% do couro apresenta os defeitos encontrados no Brasil, por esse motivo o couro americano é vendido a US$ 55.00 em média e o brasileiro apenas pela metade deste preço – US$ 30.00. Essa perda atualmente representa um prejuízo de US$ 690 a US$ 862,5 milhões/ano para a pecuária brasileira como um todo.
A Braspelco, desde 1996, desenvolve ações para reverter essas perdas e prejuízos. A implantação do Programa de Melhoria da Qualidade do Couro Cru Brasileiro, em parceria com a Apex e o CICB, é um exemplo desse trabalho.
Difusão da informação
Os fatores que acarretam problemas ao couro também possuem outros reflexos. Como exemplo disso, citamos o caso do carrapato, em que uma fêmea chega a sugar em média 3ml de sangue por dia, totalizando em um ano, com uma colônia de 40 fêmeas, a perda de até 4 arrobas. A prevenção, ou mesmo o tratamento para tal parasita, teria um custo de 10% em relação à perda. Outro exemplo é o furo de ferrão (pontiagudo) que causa uma perda de aproximadamente 400g de carne por furo, além do estrago irreversível ao couro. Para evitar o desconhecimento de tais fatores, procuramos divulgar informações sobre a qualidade do couro em universidades, sindicatos e feiras agropecuárias, possibilitando a formação de multiplicadores, capazes de difundir as informações aos diversos elos da cadeia como uma proposta de um maior custo benefício daquilo que é real ao ganho direto.
Todo pecuarista pode lucrar muito mais produzindo couro de boa qualidade. O setor do couro é o mais internacionalizado da economia brasileira, 70/75% do couro é vendido em dólares na exportação.
O couro é responsável pela remuneração de 12% a 15% do valor do boi gordo. Para definir o preço pago ao pecuarista pela arroba do boi, os frigoríficos utilizam uma somatória de cada item que compõe o aproveitamento bovino.
Com relação aos frigoríficos, é detectado como causa fundamental da geração dos problemas no couro o desconhecimento técnico dos profissionais que executam as atividades de transporte e abate dos rebanhos.
Visando sanar esse problema, a Braspelco atua informando sobre os cuidados na apartação dos animais na fazenda, para o abate, e no transporte do animal vivo, que devem ser bem orientados e conduzidos para não provocarem stress no animal em prejuízo da carne ou causar danos ao couro, como hematomas e riscos por exposição a parafusos e tábuas soltas.
Também são dadas orientações em outros processos, como no pré-abate, o tempo adequado para o descanso dos animais, spray de água gelada, currais, corredores, seringa e box de atordoamento. No abate e esfola (trabalho de retirar o couro da carcaça), a orientação é quanto à abertura do animal, propiciando um formato adequado ao couro, além dos cuidados com furos e raias que depreciam o seu valor.
Com essa postura, a Braspelco conseguiu a redução dos cortes e furos no couro provocados durante o abate/esfola do animal. Como resultado obteve um melhor aproveitamento do couro para estofamento e do retorno da raspa (subproduto obtido da divisão do couro integral, onde resulta a flor do couro, parte mais nobre, e a raspa).
Desconhecimento
Percebemos que ainda há muito desconhecimento sobre o que é importante a cada um dos elos da cadeia produtiva, fazendo com que a ação desenvolvida por um destes prejudique o outro.
A pecuária brasileira cresceu, porém as exigências estão cada vez maiores. O fator qualidade será determinante na valorização do produto. O couro brasileiro ainda tem muito o que expandir em relação ao mercado internacional, mas é imprescindível que a cadeia produtiva trabalhe de forma integrada, objetivando eliminar os grandes desperdícios existentes, que são decorrência da falta de informação e integração dos setores envolvidos.
José Humberto de Oliveira Cunha
Braspelco
* Confira este artigo, com fotos e gráficos, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura