Corós rizófagos no Distrito Federal e municípios do entorno

A exploração agrícola representa uma atividade econômica de grande importância para o Distrito Federal e entorno, e, como em qualquer região do país, o ataque de pragas se apresenta como um dos grandes desafi

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

As pragas-de-solo se constituem em um dos grupos mais importantes e menos conhecidos de pragas que podem comprometer a exploração agrícola. Os corós rizófagos são larvas de besouros pertencentes à família Melolonthidae (Coleoptera: Scarabaeoidea) que vivem no solo e se alimentam exclusiva ou facultativamente de raízes, causando danos a diversas culturas. Os sintomas do ataque, geralmente, podem ser percebidos em reboleiras e se caracterizam por plantas de menor porte e amareladas devido ao consumo das raízes pelas larvas, murchamento, seguido de morte da planta. Entre as pragas-de-solo, os corós rizófagos têm se constituído em um dos grupos mais importantes em diversas culturas de alto valor econômico.

No Distrito Federal e Goiás, a espécie Phyllophaga capillata (Blanchard) (Coleoptera: Melolonthidae) foi recentemente identificada como praga de soja (coró-da-soja-do-cerrado) e a espécie Aegopsis bolboceridus (Thomson) (Coleoptera: Melolonthidae) como praga de milho e hortaliças (coró-das-hortaliças). Os danos ocasionados por essas duas espécies de corós ocorrem principalmente no período chuvoso, entre os meses de outubro e março, quando as larvas consomem as raízes das plantas causando prejuízos sérios. Para essas pragas, ainda não existem estratégias de controle eficientes.

Na última década, os danos causados por corós rizófagos em sistemas de produção de grãos e hortaliças no Cerrado (Distrito Federal e Goiás) têm sido alvo de preocupação por parte dos agricultores e técnicos, pelo aumento das áreas atacadas, pela sua intensidade, pela ocorrência sistemática em safras consecutivas e, por fim, pela quase inexistência de recomendações de controle eficientes. Entretanto, não existem informações consistentes a respeito da área de ocorrência e estimativas de perdas devido ao ataque de corós rizófagos no Distrito Federal e entorno.

Entre novembro de 2006 e dezembro de 2007, foi realizado um estudo pela Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/DF) e a Associação de Plantio Direto no Cerrado – Formosa/GO (APDC), junto aos produtores rurais do Distrito Federal e municípios de seu entorno, para se estimar a importância e extensão dos danos causados por corós rizófagos no Brasil Central. Foram entrevistados 114 produtores do DF e municípios de Goiás e Minas Gerais e dois grupos de produtores foram separados: grupo um (propriedades < 100 ha) e grupo dois (propriedades = 100 ha – variando de 100 a 6.000 ha).

Setenta e um por cento das propriedades pertenciam ao grupo um. Nesse grupo, 85% utilizam o sistema convencional de preparo do solo; 96% dos entrevistados disseram conhecer o que são corós rizófagos e 52% possuem problemas com corós rizófagos há pelo menos seis anos. Aproximadamente 33 espécies de plantas são atacadas pela praga, na maioria hortaliças, e as perdas foram estimadas, na maioria das propriedades (70%), em até 25%. Os danos ocorrem no período chuvoso (primavera/verão). A maioria dos produtores afirmou que os corós têm a mesma importância que outras pragas que ocorrem na propriedade. Sessenta e três por cento adotam medidas culturais de manejo dos corós e 77% afirmam que o método não funciona.

No grupo dois, 87% das propriedades utilizam o sistema de plantio direto; todos os produtores disseram conhecer a praga e 83% possuem problemas com corós rizófagos há pelo menos seis anos. Seis espécies de plantas (feijão, soja, sorgo, milho, trigo e hortaliças) são atacadas pelos corós, a maioria utilizada para grãos, com perdas estimadas entre 26% e 50%. Os danos, em sua maioria (92%), ocorrem no verão.

Sessenta e dois por cento dos produtores com problemas de corós nesse grupo afirmaram que essas larvas têm importância maior que as outras pragas em suas propriedades. Inseticidas são utilizados para manejar a praga em 96% das propriedades e 95% dos produtores afirmaram que o método é ineficiente.

A percepção dos produtores em relação à ocorrência e prejuízos causados por corós rizófagos nos permitiu obter uma “radiografia” da situação atual desse grupo de pragas-de-solo no Distrito Federal e municípios de seu entorno. Observou-se que a praga encontra-se distribuída em grande parte das propriedades e vem causando prejuízos preocupantes, principalmente em áreas de cultivo de hortaliças e grandes áreas produtoras de grãos. Os dados revelaram uma grande gama de culturas atacadas, função da polifagia exibida pelas espécies de corós rizófagos já relatadas para o Distrito Federal e entorno. Demonstraram também que não há preferência por parte dos corós quanto ao sistema de plantio utilizado, sendo os sistemas de plantio convencional e de plantio direto atacados indistintamente.

Grande parte dos produtores não demonstrou conhecimento muito profundo a respeito de práticas ou medidas de controle da praga e relataram, em sua maioria, baixa eficiência dos métodos de controle adotados. Diante da importância que os corós rizófagos representam para as lavouras do Distrito Federal e municípios de seu entorno, torna-se necessário que os técnicos e extensionistas que trabalham na região estejam atentos a esse grupo de pragas e possam orientar os produtores quanto à adoção de práticas de manejo; que os profissionais dedicados à área de pesquisa possam focar o desenvolvimento de estratégias de manejo mais eficientes e, ainda, que instituições de fomento possam apoiar os estudos com esse importante grupo de pragas.

Charles Martins de Oliveira

Pesquisador da Embrapa Cerrados

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