Rastrear matéria-prima é alternativa para auxiliar no controle da produção sucroenergética
Por Bernardo de Castro, presidente da divisão de Agricultura da Hexagon
Distribuir de maneira eficiente as sementes no solo depende de vários fatores, entre os quais a escolha do disco sulcador é fundamental. Para isso é necessário analisar bem as condições e características de cada situação e fazer a escolha que melhor atende cada necessidade.
A função básica das semeadoras é distribuir no solo, seja ele preparado conforme sistema de cultivo convencional, direto ou qualquer outra prática conservacionista, certa quantidade de sementes com uma disposição pré-determinada. Para realizar esta função da maneira desejada, as semeadoras-adubadoras devem abrir e modelar um sulco no solo; dosar e distribuir a quantidade de sementes e adubos; cobrir o sulco e pressionar levemente o solo ao redor das sementes, visando retirar bolsões de ar, que prejudicam o processo germinativo.
Os sulcadores são responsáveis pela abertura do sulco para a deposição da semente e do adubo no solo. Os sulcadores podem ser do tipo enxada, facão ou discos, sendo os dois últimos mais utilizados. Os sulcadores de enxada são utilizados de preferência em solos sem tocos, raízes ou restos de cultura, visto que nestas condições pode ocorrer muito embuchamento. Atrás da enxada sulcadora está localizado o tubo condutor de adubos ou de sementes, de forma que estes são depositados nos sulcos após a sua abertura.
Os sulcadores de facão ou hastes, conhecidos popularmente como “botinha” apresentam as vantagens de conseguirem colocar o adubo e a semente em maiores profundidades. Os sulcadores de discos têm sido os mais utilizados, pois trabalham de forma mais eficiente em solos com restos culturais ou em condições inadequadas de preparo do solo. Os sulcadores de discos podem ser de discos simples ou discos duplos defasados. Os discos defasados apresentam vantagem sobre o simples pelo fato de modelar melhor o sulco.
Diversas pesquisas afirmam que o uso da haste sulcadora aumenta as exigências de força de tração, do consumo de combustível (horário e específico) e o índice de patinagem do conjunto mecanizado trator-semeadora, em relação ao sistema de abertura de sulcos do tipo discos duplo. No entanto, existem relatos também mostrando que a haste promove maior mobilização de solo.
Diante da importância de se verificar o comportamento dos sulcadores, uma equipe de pesquisadores realizou na Universidade Federal de Viçosa um trabalho de pesquisa que teve por objetivo avaliar as variáveis velocidade de deslocamento, força, potência requeridas para tração da semeadora-adubadora e patinagem das rodas motrizes do trator no sistema plantio direto. Para a realização dos ensaios, a semeadora-adubadora foi montada com apenas uma linha de plantio posicionada no centro do chassi.
Foram avaliadas duas configurações de montagem da linha de plantio. A primeira foi denominada versão “A” e era composta pelos seguintes mecanismos: disco de corte de palhada, disco duplo defasado no sistema de deposição de adubo, disco duplo defasado no sistema de deposição de sementes e rodas de cobertura e controle de profundidade. A segunda foi denominada versão “B”. Nela, o mecanismo sulcador tipo disco duplo defasado utilizado no sistema de deposição de adubo foi substituído por outro do tipo facão com ponteira removível e regulagem individual de profundidade e de ângulo de ataque.
Foram utilizados dois tratores agrícolas, um fabricado pela Massey Ferguson e o outro pela John Deere. As duas configurações de montagem da linha de plantio da semeadora-adubadora, versão “A” e “B”, foram ensaiadas nas mesmas condições operacionais, ou seja, com as mesmas marchas e rotações do eixo do motor.
Pelo fato da semeadora-adubadora ser um implemento de acoplamento montado necessitou-se fazer um comboio para instalar a célula de carga entre os tratores, e assim, conseguir medir a força requerida para a tração da semeadora-adubadora. No esquema apresentado na Figura 1, o trator 1 representa o trator fabricado pela Massey Ferguson, que, nessa segunda etapa dos ensaios, foi utilizado como fonte de potência para tracionar o conjunto mecanizado formado pelo trator 2, que representa o fabricado pela John Deere, que manteve sua marcha na posição neutra.
O conjunto mecanizado composto pelo trator Massey Ferguson e a semeadora-adubadora foram avaliados em cinco diferentes velocidades de deslocamento, obtidas pela variação da marcha e rotação do eixo do motor, conforme Quadro 1. As velocidades foram obtidas pela relação entre o comprimento da unidade experimental (20 m) e o tempo gasto para percorrer a unidade, medido por cronômetro.
Além da velocidade determinou-se a força requerida (kN) pela semeadora-adubadora (Figura 2), potência requerida para tração da semeadora-adubadora (kW)(Figura 3) e patinagem das rodas motrizes (decimal) (Figura 4).
Para obter os dados exclusivamente da força requerida pela semeadora-adubadora se fez necessário o cálculo da força requerida para tração do conjunto mecanizado subtraído da força de resistência ao deslocamento oferecida pelo trator 2. Depois multiplicou-se essa força pelas velocidades médias de deslocamento e obteve-se a potência requerida para a tração da semeadora-adubadora.
Utilizando o sulcador de disco, configuração ”A”, na deposição de adubo, as velocidades médias de deslocamento não afetaram a força requerida para tração da semeadora-adubadora. Já na configuração “B”, sulcador de facão, a velocidade influenciou a força de tração e foi na menor velocidade de deslocamento (3,68 km/h) a menor força de tração por linha de plantio (4,311 kN). A potência requerida para tração da semeadora-adubadora foi influenciada pela velocidade de deslocamento do conjunto mecanizado, nas duas configurações de montagem da linha de plantio (“A” e “B”). No momento dos testes também evidenciou-se que em velocidades de deslocamento idênticas, que os menores valores de potência estavam associados à configuração “A”, indicando, para as condições experimentais, que a configuração equipada com o mecanismo sulcador tipo disco duplo defasado no sistema de deposição de adubos demandou menor potência para tracionar a semeadora-adubadora que a configuração “B”, onde foi montado o mecanismo sulcador tipo facão.
A patinagem das rodas motrizes do trator utilizado como fonte de potência foi observada nas duas configurações de montagem da linha de plantio. Os valores, em decimal, foram obtidos em duas condições distintas. Na primeira, a semeadora-adubadora foi acoplada ao trator e mantida na posição de transporte. Essa condição foi considerada “sem carga” (Nvsc). Na segunda, considerada “com carga”(Nvcc), os elementos ativos que equipavam a linha de plantio foram colocados e mantidos em operação. Após o início do teste aferiu-se o número de voltas dadas pelas rodas motrizes em torno de seu eixo. De posse dos valores, determinou-se a patinagem utilizando a relação abaixo:
A patinagem das rodas motrizes do trator não são influenciadas pelas velocidades médias de deslocamento com a semeadora-adubadora operando nas configurações “A” e “B” (Figura 4). Porém, os valores da variável em estudo nas duas configurações de montagem da linha de plantio (“A” e “B”) eram diferentes e o valor da configuração “B” era maior que o obtido para a configuração “A”. Isso indica que as rodas motrizes do trator montado com a semeadora-adubadora equipada com o mecanismo sulcador tipo facão patinou mais que as rodas motrizes do trator montado com a semeadora-adubadora equipada com o disco duplo defasado. Esse fato era esperado e pode ser explicado com base no maior requerimento de força de tração e potência apresentado pela semeadora-adubadora montada na configuração “B”, cujo mecanismo sulcador tipo facão atua em maior profundidade e mobiliza maior volume de solo.
Cabe destacar que mesmo observando forte influência exercida pelo mecanismo sulcador tipo facão em relação a muitos parâmetros, alvos de pesquisa no Brasil, não podemos inferir sobre qual é o melhor sulcador. É necessário analisar as condições e características de cada situação, como potência do trator, número de linhas da semeadora-adubadora, umidade do solo, tipo e massa da cobertura vegetal, textura do solo, condições da superfície do solo, resistência do solo a penetração, teor de água do solo, entre outros.
Haroldo Carlos Fernandes, UFV; Paula Cristina Natalino Rinaldi, UFRRJ; Jefferson Machado Fontes, UFV
Artigo publicado na edição 155 da Cultivar Máquinas.
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