Mosca-minadora em tomate: danos e manejo
Por Franciely da Silva Ponce e Claudia Ap. de Lima Toledo
Cigarrinhas das famílias Cicadellidae e Delphacidae são comuns em gramíneas e formam um grupo reconhecidamente importante de insetos vetores de vírus e molicutes, agentes causais de doenças em diversas espécies vegetais, incluindo a cultura do milho.
A cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis é da família Cicadellidae. São insetos fitófagos e é o grupo mais diversificado de Membracoidea (superfamília), com cerca de 21 mil espécies descritas. Já a cigarrinha-africana (Leptodelphax maculigera) é da família Delphacidae, uma família de cigarrinhas contendo cerca de 2 mil espécies, distribuídas mundialmente.
A família Delphacidae ocorre comumente em monocotiledôneas (gramíneas, arbustos e árvores), com a capacidade de serem vetores de fitopatógenos, principalmente de vírus. No entanto, existem espécies que transmitem fitoplasmas e causam doenças, especialmente em cana-de-açúcar e arroz (Eumetopina flavipes, Javesella discolor, Nilaparvata lugens, Saccharosydne saccharivora). Por exemplo, a cigarrinha-marrom (N. lugens) é um inseto-praga muito destrutivo no arroz, com a descrição de 18 bactérias simbiônticas que podem ser transmitidas.
Dentro da família Delphacidae, existem cigarrinhas do gênero Leptodelphax, que, em nível mundial, têm as seguintes espécies: Leptodelphax dymas (Fennah 1961), Leptodelphax maculigera (Stal 1859) e Leptodelphax cyclops (Haupt 1927). Na África, Leptodelphax dymas é responsável pela transmissão de Napier grass stunt (NGS), que é um fitoplasma do gênero "Candidatus", extremamente danoso para a cultura do capim elefante. E, recentemente, Leptodelphax maculigera foi identificada como transmissor de MRFV em plantas cultivadas, e potencialmente vetor da virose-da-risca na cultura do milho no Brasil.
No Brasil, recentemente foi encontrada nos Estados de Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, sendo que, no Estado do Rio Grande do Sul, L. maculigera foi verificada nos municípios de Cruz Alta, Passo Fundo e Santa Rosa. Nesses locais, ela foi capturada em armadilhas adesivas de coloração amarela.
Essa captura ocorreu em áreas de milho tiguera, milho cultivado e em lavoura de trigo. Essa espécie mostra sua capacidade de adaptação e tem como hospedeiros não apenas o milho, mas também capim kikuio (Pennisetum clandestinum), cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), capim setária (Setaria sphacelata), brachiaria (Brachiaria sp.), capim elefante (Pennisetum purpureum), em plantas daninhas dentro de lavouras de feijão, trigo e pomares de citros. Nesse contexto, é demonstrado que L. maculigera é uma espécie oligófaga, isto é, alimenta-se de um número relativamente restrito de plantas hospedeiras de diferentes gêneros dentro de uma mesma família, sendo que nesse caso o inseto está associado à família poaceae, plantas economicamente importantes no Brasil.
No entanto, a similaridade com outras espécies de cigarrinhas como Dalbulus maidis, pode acarretar erro de identificação de sua ocorrência nas áreas - ou não detecção. Nesse contexto, saber algumas características morfológicas da cigarrinha-africana pode auxiliar no correto monitoramento e evitar possíveis erros de identificação.
A espécie L. maculigera apresenta coloração palha, asas hialinas e olhos pretos, e tamanho 0,4 cm menor quando comparado com D. maidis. A cigarrinha-do-milho (D. maidis) é caracterizada por apresentar pontuações escuras na cabeça, enquanto na cigarrinha-africana (L. maculigera) há uma mancha escura no clípeo (região localizada na parte inferior da cabeça), característica desta espécie.
Uma característica marcante que difere a cigarrinha-africana da cigarrinha-do-milho é a questão da antena. A cigarrinha-africana apresenta antena com pedicelo dilatado bem visível. O pedicelo fica próximo à inserção da antena na cabeça do inseto. A antena de D. maidis não apresenta o pedicelo dilatado, sendo afilada em toda sua extensão.
Outra característica da família Delpachidae, e que pode ser utilizada para diferenciar as duas especies, encontra-se no terceiro par de pernas (o mais distante da cabeça), apresentando tíbias com esporão apical móvel.
A ocorrência da cigarrinha-africana tem gerado preocupação em relação ao iminente risco de ser um inseto vetor para os patógenos do enfezamento do milho, ou seja, o fitoplasma do enfezamento vermelho (“Candidatus Phytoplasma asteris”, Subgrupo 16SrI-B); o espiroplasma do enfezamento pálido (Spiroplasma kunkelii); o vírus do rayado-fino (maize rayado fno virus – MRFV) e o vírus do mosaico estriado (maize striate mosaic vírus – MSMV), todos transmitidos por Dalbulus maidis.
Os trabalhos conduzidos até o momento já sinalizam, por meio de análises moleculares, que vários espécimes da cigarrinha-africana capturados estavam infectivas com o MRFV no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Entretanto, falta ainda confirmar a possibilidade de infecção na cultura do milho e também os riscos em relação às bactérias.
Em resumo, Leptodelphax maculigera é uma espécie de inseto da família Delphacidae, encontrada em diversas regiões do mundo; alimenta-se de seiva de plantas, principalmente de gramíneas. Assim, há necessidade de observar os seguintes aspectos, a fim de criar uma robustez de informações e evitar criar pânico desnecessário sobre o problema da cigarrinha-africana na cultura de milho.
Nesse contexto, a cigarrinha-africana é mais uma praga com capacidade de se alimentar e ocasionar danos às lavouras de milho. Assim, o correto monitoramento, manejo adequado e técnicas do MIP devem ser empregados, minimizando impactos na produtividade e qualidade da lavoura de milho.
Por Glauber Renato Stürmer, CCGL – Cooperativa Central Gaúcha Ltda
Artigo originalmente publicado na edição 298 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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