Com a primavera, os ácaros

Nos cultivos de maçã, o ácaro vermelho (Panonychus ulmi) inicia a sua infestação na estação das flores; saiba como controlá-lo.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Na primavera, o ácaro vermelho,

, inicia a infestação no pomar a partir dos ovos de inverno, com a eclosão das larvas coincidindo com a floração da macieira. A disseminação em focos é rápida e a ocupação de todas as plantas se dará em poucas semanas. Os ácaros adultos possuem grande mobilidade, o que lhes permite rápidas dispersões no pomar, deslocando-se pelas folhas e ramos. Sua dispersão é também favorecida pelo fato de serem leves e possuírem patas e pêlos compridos, aumentando a superfície de exposição para serem dispersos pelo vento e, provavelmente, pelo jato produzido pelas turbinas do pulverizador.

O início do ataque nas folhas de macieira começa a ser percebido em outubro, quando aparecem as primeiras fêmeas. Estas são avermelhadas, globosas e visíveis a olho do produtor, pois são maiores em relação aos outros estágios. A população cresce gradualmente à medida que a temperatura aumenta e, ao final de novembro, temos o início da terceira geração. Neste momento, o número de ovos é pequeno (depende do manejo) e prevalecem as formas móveis (jovens e adultos). Entretanto, logo haverá a sobreposição de gerações, ocorrendo ovos, larvas, ninfas e adultos de diversas idades.

Inimigos naturais

Apesar do grande potencial reprodutivo do ácaro vermelho, sua população normalmente é regulada pelos inimigos naturais, dos quais os ácaros predadores são os mais utilizados e estudados para o controle biológico aplicado. Entretanto, na maioria dos pomares comerciais de macieira do Brasil, os ácaros predadores não se encontram em quantidades suficientes para manter o equilíbrio com o ácaro vermelho, devido, principalmente, aos efeitos de inseticidas utilizados para o controle de outras pragas.

Portanto, nestes pomares, a solução é utilizar acaricidas para o controle do ácaro vermelho. O momento correto para ser realizada a pulverização é um dos principais fatores a ser levado em consideração para obter sucesso. Para isto, utilizamos o monitoramento de ácaros no pomar, realizando observações sobre as folhas de macieira e anotando a quantidade de ácaros ou a porcentagem de folhas com 1 ou mais ácaros. A partir de uma seqüência de amostras, o produtor conhecerá a tendência da população ou se ela estará ou não equilibrada. As amostragens nos darão o tamanho e a distribuição da população no pomar ou quadra, a qual será relacionada com o nível de dano econômico adotado na região, determinando a real necessidade de pulverização de forma total ou parcial.

Uma vez identificado o tamanho da população e o melhor momento para o uso do controle químico, o produtor deve obedecer algumas regras para que obtenha o máximo de eficiência dos acaricidas, as quais são as seguintes:

Escolha do produto fitossanitário – é recomendado a utilização de acaricidas específicos para o controle de ácaros em macieira.

Seleção quanto ao modo de ação dos acaricidas - a escolha do acaricida é feita levando em consideração modo de ação: quanto aos estágios do ácaro vermelho e quanto a ação bioquímica.

Modo de ação em relação aos estágios do ácaro vermelho – os principais modos de ação são ovicida, larvicida, adulticida e esterelizante.

Modo de ação bioquímico

• Acaricidas agindo sobre o sistema nervoso: transmissão axônica; sinápse e neuromediatores (colinesterase, gabaérgicas, octopaminérgicas);

• Acaricidas agindo sobre a respiração (ATPase);

• Acaricidas inibidores do crescimento.

Não repetir o mesmo acaricida - não é aconselhável pulverizar mais de uma vez, no mesmo ciclo vegetativo da macieira, acaricidas que tenham o mesmo ingrediente ativo, família ou grupo químico e que atuem no mesmo sítio de ação bioquímica, pois há o risco de selecionar a população obtendo ácaros resistentes.

Populações resistentes

É normal o aparecimento de populações resistentes em pomares que usam regularmente um mesmo produto durante anos seguidos, levando o produtor a aumentar a concentração e/ou diminuir o intervalo entre os tratamentos. Na verdade, esta prática não resolve o problema da eficiência dos acaricidas, pois, o produtor estará adiando o problema até que o controle químico de ácaros vermelhos torna-se inviável. Situações como esta são observadas todos os anos. Um clássico exemplo foi a resistência a Acaristop, entre 1992 e 1993. Este é um acaricida ovicida, útil quando existe grande quantidade de ovos, entretanto, o uso indiscriminado na primavera e verão conduziu à resistência.

Uma das estratégias, que dificulta a seleção de populações resistentes, é o rodízio de acaricidas. Em regra, os acaricidas que selecionaram as populações resistentes poderão serem utilizados, desde que sejam observados os seguintes aspectos:

• Estes acaricidas não foram utilizados nos últimos dois anos;

• O acaricida não deve ser pulverizado mais de uma vez no mesmo ciclo vegetativo da cultura;

• Não poderá ser utilizado no ciclo seguinte ao tratamento.

A estratégia do rodízio é possível, pois o ácaro pode voltar a ser "suscetível", pela desativação temporária do processo que o tornou resistente, isto é, o processo de intoxicação dos acaricidas é restabelecido com o passar das gerações do ácaro. Os processos de resistência de ácaros aos acaricidas ocorrem preferencialmente pela:

• Penetração do acaricida ao nível do epitélio membranoso e cutícula;

• Ação metabólica, bio-transformações do tóxicos pelas enzimas;

• Alteração dos sítios de ação do acaricida.

A quantidade média de calda aplicada por hectare é de 1.000 litros. A redução deste volume dependerá do porte da planta e de sua massa foliar, da qualidade de deposição da gota e de sua distribuição, dependentes do tipo do pulverizador e de sua regulagem.

Particularidades dos acaricidas

Omite - possui boa ação de vapor; para utilizar a potencialidade do produto é aconselhado pulverizá-lo em dias com temperatura acima de 22ºC. A plena ação tóxica da propargite ocorre entre 4 e 5 dias, portanto, o monitoramento deve ser paciente pois a morte dos ácaros vermelhos poderá ser lenta. Pode haver fitotoxicidade com propargite pó molhável quando for pulverizada após ou antes aos óleos. O pH ideal da água de pulverização é 6.

Vertimec - é um produto que permanece entre as duas faces das folhas, sendo completamente absorvido 4 horas após a aplicação. As larvas que eclodiram serão contaminadas durante a alimentação. As folhas em crescimento, que não receberam o produto, não serão protegidas, motivo pelo qual, em determinados casos, divide-se a aplicação em duas meias concentrações. O pH da calda deve ser de 5.

Acaristop - é um ovicida e deve ser pulverizado de preferência sobre ovos de 2 geração, normalmente ocorrendo no início de novembro. Para o controle de alta densidade de ovos de verão, associado à presença de diferentes estágios do ácaro vermelho, é aconselhado a mistura com um adulticida. O pH deve estar próximo de 5.

Kendo, Ortus e Sanmite - não devem ser utilizados no mesmo ciclo vegetativo.

Dicofol – calda para pulverização deve ter pH igual à 5,5.

Lino Bittencourt Monteiro

UFPR

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