Cigarrinha-das-raízes em cana-de-açúcar

A escolha adequada do inseticida e da modalidade de aplicação pode fazer a diferença no manejo integrado deste inseto

18.01.2023 | 14:27 (UTC -3)

Praga importante na cultura da cana-de-açúcar, a cigarrinha-das-raízes Manaharva fimbriolata demanda bastante critério e atenção. A escolha adequada do inseticida e da modalidade de aplicação pode fazer a diferença no manejo integrado deste inseto.

Entre as pragas predominantes que impactam em grau de dificuldade e custo no manejo integrado de cana-de-açúcar está a cigarrinha-das-raízes (Manaharva fimbriolata). As principais manifestações, como registros severos, ocorrem nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, reduzindo a produtividade e a qualidade da matéria-prima

Os problemas com a praga têm se intensificado tanto em áreas de expansão da cultura, em antigas pastagens, quanto em locais de reforma ou de segundo a quinto corte da cana, sendo seu impacto maior ainda em cultivares precoces de cana-de-açúcar. A ocorrência não está somente associada ao histórico da área, à presença de palha ou não e ao cultivo de variedades mais sensíveis, mas, sim, a todo o sistema produtivo, desde práticas de manejo, clima e época do ano até inseticidas, doses aplicadas e, principalmente, tecnologia de aplicação.

A colheita mecanizada aumenta a quantidade de palha que fica sobre o solo, preservando a umidade, favorecendo o crescimento populacional das cigarrinhas.

Os machos de M. fimbriolata são de cor avermelhada e a fêmea com cores mais escuras, marrom-avermelhado e asas com faixas quase pretas (Williams et al.,1969).  As fêmeas ovipositam na palhada e, principalmente, na subsuperficie do solo, na maior parte próximo ao colmo da planta.

Cigarrinha-das-raízes em folha de cana-de-açúcar
Cigarrinha-das-raízes em folha de cana-de-açúcar

No período seco do ano, os ovos entram em diapausa, permanecendo assim até que as condições de umidade do solo sejam novamente favoráveis. Em condições de temperatura e umidade elevadas, as ninfas emergem dos ovos cerca de 15 dias a 20 dias após a postura, e dirigem-se às raízes, onde se alimentam na base do colmo sugando a seiva da planta durante 30 dias a 40 dias. Durante esse período estão sempre envolvidas por uma espuma branca densa, bastante característica, cuja função principal é proteger as ninfas da dessecação. O ciclo total desse inseto dura de 65 dias a 80 dias, sendo comum a ocorrência de três gerações anuais em período chuvoso.

Os danos à cana-de-açúcar são causados principalmente pelas formas jovens da cigarrinha-das-raízes, que extraem grande quantidade de água e nutrientes das raízes. Os adultos também provocam danos às plantas, pois, ao sugarem a seiva das folhas, injetam saliva nos estomas, local onde são armazenadas a água e as substâncias que se transformarão em nutrientes para a planta, durante a fotossíntese. A saliva liberada, tanto pelas ninfas como pelos adultos, é rica em enzimas e aminoácidos e auxilia o inseto no processo de ingestão do alimento. No entanto, são tóxicas para a planta, causando necrose nos tecidos foliares e radiculares (Williams et al.,1969). Como consequência disso os colmos se tornam finos e os entrenós encurtados. Já nos ataques mais severos a planta pode apresentar deficiência nutricional e desidratar-se inteira e secar (Dinardo-Miranda et al.,2003).

Figura 1 - Biologia da cigarrinha-das-raízes e possíveis recomendações de manejo integrado com inseticidas como imidacloprid
Figura 1 - Biologia da cigarrinha-das-raízes e possíveis recomendações de manejo integrado com inseticidas como imidacloprid
Figura 2 - Eficácia de inseticidas quando aplicados com cortador de soqueira de cana-de-açúcar, pingente ou via aérea no manejo de cigarrinha-das-raízes em cana-de-açúcar. 2015-2016
Figura 2 - Eficácia de inseticidas quando aplicados com cortador de soqueira de cana-de-açúcar, pingente ou via aérea no manejo de cigarrinha-das-raízes em cana-de-açúcar. 2015-2016
Figura 3 - Eficiência no controle de número de ninfas de cigarrinhas-das-raízes por metro com diferentes inseticidas quando aplicados com cortador de soqueira em cana-de-açúcar, 2016
Figura 3 - Eficiência no controle de número de ninfas de cigarrinhas-das-raízes por metro com diferentes inseticidas quando aplicados com cortador de soqueira em cana-de-açúcar, 2016

As quebras de produtividade podem chegar a 60%, em culturas colhidas em final de safra. Em áreas colhidas em começo de safra as perdas são menores, embora, muitas vezes, as populações encontradas nessas áreas sejam mais elevadas em relação às demais. Isso revela que a cultura colhida no início de safra suporta melhor o ataque da praga, provavelmente porque as plantas estão mais desenvolvidas, com vários entrenós. Além disso, a cultura passa por um curto período de estresse hídrico, entre o final da época de ocorrência da cigarrinha e a colheita. Os campos colhidos no final da safra sofrem um maior dano, pois suas plantas estão pouco desenvolvidas e após o ataque do inseto, o longo período de estresse hídrico até a colheita não favorece a recuperação das plantas, fazendo com que os danos provocados pelas cigarrinhas sejam acentuados nestas condições (Dinardo-Miranda et al.,2001).

Visto que o ataque da cigarrinha resulta em colmos menores, mais finos e secos, chegando muitas vezes à morte, ocorrem também alterações na qualidade da cana-de-açúcar, geralmente com redução nos valores de pol e aumento nos de fibra, como visto em Dinardo-Miranda et al.,2000.

Para ser bem sucedido o manejo de áreas com problemas de cigarrinhas deve englobar todas as ferramentas disponíveis, pois, para cada situação de cultivo, uma delas se mostra mais adequada. O controle químico é uma ferramenta bastante valiosa no programa de manejo da cigarrinha, especialmente em canaviais colhidos a partir de agosto (meio para final de safra), que sofrem maiores danos devido ao ataque da praga, e naqueles severamente infestados (Dinardo-Miranda et al.,2000).

Para reduzir os níveis de infestação presentes nas áreas é fundamental o domínio das primeiras gerações da praga com o objetivo de reduzir os danos nos canaviais.

Na região do Triângulo Mineiro, mais especificamente nas áreas próximas ou ao redor de Frutal, Minas Gerais, a cigarrinha-das-raízes é um grande desafio para a produção de cana-de-açúcar, ainda mais quando associada a doenças como podridão-vermelha e ferrugem-alaranjada, que elevam significativamente o custo de produção.

Primeira ninfa com a presença de espuma branca densa característica
Primeira ninfa com a presença de espuma branca densa característica
Raízes de cana-de-açúcar insfestadas pelo ataque da cigarrinha
Raízes de cana-de-açúcar insfestadas pelo ataque da cigarrinha

 Estudos realizados por Michel Fernandes, da Usina Cerradão, revelam que o controle de cigarrinha na região de Frutal, Minas Gerais, se mostrou insatisfatório, provavelmente pela associação inadequada do sistema de manejo da praga aos inseticidas e doses, bem como pela baixa qualidade de aplicação. Nas pesquisas, diferentes inseticidas foram aplicados com pulverizadores tratorizados e com aplicação via aérea, simulando a realidade dos diferentes sistemas de manejo.

Em uma nova análise, realizada em 2016, com o inseticida imidacloprid, aplicado via cortadores de soqueira e com pingentes, os resultados em eficiência superaram em aproximadamente 40 % (número de ninfas por metro) quando comparados aos outros produtos testados na modalidade via corte de soqueira. O percentual ressalta a importância do ativo e a modalidade de aplicação para o bom manejo integrado da cigarrinha-das-raízes. Os resultados corroboram com Dinardo-Miranda et al.,2009 que concluíram que os inseticidas imidacloprido e tiametoxam apresentaram maior eficiência no controle da cigarrinha, quando aplicados sob infestações iniciais mais baixas.

Roberto Estêvão Bragion de Toledo, Ourofino Agrociência; Michel Fernandes, Usina Cerradão; Ana Paula da Silva Martins Bonilha, Ourofino Agrociência; Marco Antonio Drebes da Cunha, Ourofino Agrociência

Artigo publicado na edição 232 da Cultivar Grandes Culturas, mês setembro, ano 2018

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