Controle de pragas iniciais em trigo

Corós, lagartas, afídeos e percevejos estão entre as pragas que atacam as fases iniciais de desenvolvimento da cultura do trigo

10.01.2023 | 14:56 (UTC -3)

Córós, lagartas, afídeos e percevejos estão entre as pragas que atacam as fases iniciais de desenvolvimento da cultura do trigo. Monitorar corretamente estes insetos é fundamental para a adequada tomada de decisão sobre o controle.

As pragas que atacam a cultura do trigo nas fases iniciais de desenvolvimento, compreendendo as primeiras quatro a seis semanas, aproximadamente no período que vai desde a semeadura até a elongação, podem ser agrupadas em corós, lagartas de superfície do solo, afídeos e percevejos.

De hábito mastigador (corós e lagartas) ou sugador (afídeos e percevejos), de modo geral são insetos que preocupam pelo poder de reduzir a população de plantas e pelos danos que possam se manifestar mais tarde, devido a transmissão de doenças, alterações fisiológicas e redução da capacidade produtiva das plantas sobreviventes. Devido ao grande potencial para causar perdas na produção, as chamadas pragas iniciais requerem que cuidados especiais sejam adotados antes ou imediatamente após a implantação da lavoura, com objetivo de eleger e aplicar os meios mais adequados de controle.

Os corós são larvas subterrâneas, de hábitos rizófagos, consideradas pragas residentes uma vez que tem pouca mobilidade e já estão presentes na área por ocasião do planejamento da lavoura, antes da semeadura. São polífagos (alimentam-se de várias espécies vegetais, cultivadas ou não), pelo que a importância como praga vai além de uma cultura ou safra, dependendo da sincronia fenológica com os cultivos.

As espécies de corós-praga mais comuns em trigo, no Rio Grande do Sul, são o coró-das-pastagens - Dilobderus abderus (Sturm) e o coró-do-trigo - Phyllophaga triticophaga Morón & Salvadori. Juntamente com estas espécies ocorre com bastante freqüência e alta densidade uma espécie preferentemente saprófaga  conhecida pelo nome de coró-pequeno (Cyclocephala favipennis). Este coró, pelo fato de apresentar reduzido potencial de dano, não é considerado praga.

Tamanho e pelos/espinhos do coró-das-pastagens (a), do coró-pequeno (b) e do coró-do-trigo (c)
Tamanho e pelos/espinhos do coró-das-pastagens (a), do coró-pequeno (b) e do coró-do-trigo (c)

O ciclo de vida dos corós é longo, passando pelas fases de ovo, larva (coró), pupa e adulto (besouro). Os danos são causados exclusivamente pelas larvas que passam por três tamanhos (estádios ou ínstares), principalmente pelas grandes (3º ínstar). O ciclo de D. abderus e anual, enquanto , P. triticophaga apresenta uma geração a cada dois anos. O primeiro faz galerias permanentes no solo e está associado a lavouras sob plantio direto e a pastagens, uma vez que logo que sai do ovo, a larvinha consome restos vegetais para depois, gradativamente, crescer e se tornar rizófaga.

O coró-do-trigo não faz galerias no solo. Ocorre tanto em plantio direto como em convencional e vive muito próximo da superfície do solo, junto às raízes. Ambas as espécies de corós consomem sementes, raízes e até partes verdes da planta, que puxam para dentro do solo.  As infestações e os danos ocorrem em reboleiras (manchas) o que dificulta o manejo. Podem se dar anualmente (coró-das-pastagens) ou em anos alternados (coró-do-trigo), sendo que o período mais crítico para a cultura vai de maio a setembro/outubro, ou seja, desde a semeadura até próximo à colheita.

O monitoramento para constatação e delimitação de infestações deve ser realizado a partir da presença de plantas mortas e da abertura de trincheiras no solo, em vários momentos, em qualquer época do ano. Antes da semeadura do trigo, porém, amostragens de solo mais precisas devem ser efetuadas com o propósito de quantificar a densidade de corós por unidade de área e identificar as espécies presentes. A mortalidade natural de corós, principalmente devido à ação de entomopatógenos (microrganismos causadores de doenças), é muito expressiva, fazendo com que as infestações variem ao longo do ano.

Lagartas

São insetos que já podem estar presentes na área por ocasião da semeadura ou são provenientes da postura realizada pelas mariposas, logo após a emergência das plantas. É um problema mais comum em situações de inverno ameno, causado principalmente pela lagarta-miltitar ou lagarta-do-cartucho do milho - Spodoptera frugiperda (J. E. Smith). Durante o dia abrigam-se no solo (sob palha ou torrões) e à noite entram em atividade, atacando as plantas a partir do solo destruindo-as completamente. A consequência é a redução na população de plantas, que ocorrem em reboleiras que vão se ampliando gradativamente. A lagarta-do-trigo (Pseudaletia sequax e P. adultera) ocorre mais no final do ciclo da cultura do trigo.

Lagarta-militar em trigo
Lagarta-militar em trigo

Afídeos ou pulgões

Trata-se de insetos sugadores que se reproduzem rapidamente, desenvolvendo colônias numerosas sobre as plantas, podendo se instalar, dependendo da espécie, em praticamente todos os órgãos da planta de trigo (raízes, colmo, folhas e espigas), desde a emergência até a fase de grão duro.

O trigo, assim como os demais cereais de inverno, é atacado por várias espécies de afídeos que ocorrem ao mesmo tempo ou em diferentes estádios de desenvolvimento da cultura. As espécies mais frequentes são o pulgão-do-colmo - Rhopalosiphum padi (Linnaeus), o pulgão-verde-dos-cereais - Schizaphis graminum (Rondani), pulgão-da-espiga - Sitobion avenae (Fabricius) e o pulgão-da-folha - Metopolophium dirhodum (Walker).

Quando em infestação elevadas (colônias), devido à sucção da seiva, podem provocar perdas diretas no rendimento de grãos e sementes. Indiretamente, mesmo em baixos níveis populacionais, tendem a ocasionar danos expressivos, como vetores de vírus fitopatogênicos, especialmente os causadores da Virose do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC). Pela frequência que ocorre e pela eficiência como vetor, R. padi é considerada atualmente a espécie mais importante na transmissão dos agentes causais da virose.

A ocorrência de afídeos nas fases iniciais de desenvolvimentos das plantas tende a provocar danos significativos. Geralmente, nessas fases predomina a ocorrência de R. padi e de S. graminum e, em menor nível, também pode ocorrer outras espécies. Nestas situações, o ataque intenso de afídeos pode ocasionar a diminuição da população de plantas bem como afetar negativamente o seu crescimento. A espécie S. graminum possui saliva tóxica e provoca amarelecimento típico das folhas, o que pode evoluir para necrose dos tecidos e morte das plântulas. As infestações de afídeos se originam de alados migrantes. A aveia preta, cultivada no outono, antes do trigo, para alimentação animal e produção de palhada para proteção do solo, tem importante significado com relação ao manejo do complexo vetor-virose (afídeo-VNAC), uma vez que serve de fonte de infestação do vetor e de inóculo do patógeno.

Colônias do pulgão-do-colmo (a), do pulgão-verde (b) e do pulgão-da-espiga (c) e reboleira de nanismo amarelo em trigo
Colônias do pulgão-do-colmo (a), do pulgão-verde (b) e do pulgão-da-espiga (c) e reboleira de nanismo amarelo em trigo

Um dos principais mecanismos de controle das populações de afídeos em cereais de inverno são seus inimigos naturais. O conjunto de parasitoides (vespinhas), predadores (joaninhas, crisopídeos etc.) e fungos entomopatogênicos constitui importante freio no crescimento populacional dos afídeos. Anualmente, tem se observado nas lavouras de trigo elevados níveis de afídeos mortos (múmias) decorrentes da ação de parasitoides, o que representa um controle natural efetivo da praga.

Percevejos

Entre os percevejos que podem ser encontrados nas lavouras no início do desenvolvimento das plantas de trigo destacam-se barriga-verde, Dichelops melacanthus (Dallas) e D. furcatus (Fabricius). A primeira espécie é mais comum no Paraná e em latitudes menores, enquanto a segunda é encontrada principalmente no Rio Grande do Sul. São pentatomídeos bastante semelhantes, ambos com espinhos pronunciados no tórax, duas projeções frontais pontiagudas na cabeça e região ventral do corpo de cor verde.

Geralmente, em D. melacanthus os espinhos são maiores e mais escuros. Consideradas secundárias como pragas de grãos em soja, estas espécies adaptaram-se para utilizar como abrigo a cobertura morta (palhada) no sistema de plantio direto e, sem abandonar a área após a colheita, passaram a agir como pragas de início de ciclo nas culturas de milho, especialmente na segunda safra (“safrinha”) e de trigo.

Percevejos Dichelops furcatus (a) e D. melacanthus (b) e danos em trigo
Percevejos Dichelops furcatus (a) e D. melacanthus (b) e danos em trigo

Os danos dos percevejos decorrem da sucção propriamente dita e de toxinas salivares que provocam deformações e alterações no crescimento das plantas. Folhas com perfurações transversais, dobradas, enroladas e deformadas são sintomas típicos do ataque destes percevejos, que resultam em elevadas perdas no rendimento de grãos.

O manejo das pragas iniciais do trigo baseia-se em uma avaliação prévia da real necessidade de que medidas de controle, incluindo a aplicação de inseticidas via tratamento de sementes ou em pulverização das plantas, sejam adotadas. Essa avaliação fundamenta-se no monitoramento das pragas, através de amostragens. O acompanhamento das áreas permite identificar as espécies de pragas presentes, quantificar a infestação e usar critérios (níveis populacionais de ação) para a tomada de decisão.

Critérios para tomada de decisão 
Critérios para tomada de decisão 

José Roberto Salvadori, FAMV-UPF

Artigo publicado na edição 231 da Cultivar Grandes Culturas, mês agosto, ano 2018

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