Brotos demais

Ramulose do algodoeiro (causada pelo fungo Colletotrichum gossypii) provoca excesso de brotação e pode comprometer a produtividade da cultura.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A ramulose constitui-se em uma das mais importantes doenças do algodoeiro no Brasil. Sob níveis elevados de severidade pode ocasionar perdas em cultivares suscetíveis acima de 70% na produção. É causada pelo fungo

var. cephalosporioides, tendo sido identificada inicialmente no Estado de São Paulo na safra 1935/36. Recentemente tem sido constatada nas diferentes regiões produtoras de algodão do cerrado, onde as condições são amplamente favoráveis ao seu desenvolvimento, induzindo à adoção de medidas visando reduzir sua intensidade.

Os sintomas iniciais caracterizam-se pelo surgimento de pequenas manchas necróticas nas folhas mais jovens, com diâmetro, em geral, não superior a 2 mm, apresentando reentrâncias que lembram o formato de uma estrela, cujo centro se torna quebradiço e causam deformação do limbo. Quando localizadas nas nervuras ou no pecíolo apresentam, em geral, formato alongado e deprimido.

Seu maior dano está associado à quebra de dominância apical ocasionada pela necrose do meristema, que estimula o desenvolvimento de brotos laterais, que induzem a formação de ramos extranumerários, provocando o superbrotamento ou envassouramento da planta no terço superior. Como consequência o fenômeno ocasiona encurtamento de internódios e redução drástica do porte da planta. Em função do desvio de seiva elaborada para o desenvolvimento vegetativo anormal, verifica-se acentuada queda na produção.

Condições favoráveis

A ramulose apresenta-se mais severa quando afeta plantas mais jovens, com menos de 60 dias, uma vez que as gemas terminais dos ramos extranumerários, surgidos a partir da quebra de dominância apical, podem sofrer novas infecções que estimulam o surgimento de novas gemas, acentuando o superbrotamento. Alta pluviosidade e umidade relativa acima de 80%, temperaturas entre 25 e 300C e alta fertilidade do solo, favorecem o desenvolvimento da doença. Temperaturas abaixo de 18 e acima de 360C são desfavoráveis.

Quando a doença afeta plantios completamente desenvolvidos, as plantas podem apresentar sintomas na região do ponteiro, sem induzir prejuízos expressivos à frutificação, sendo normalmente denominada de “ramulose tardia”

O fungo produz esporos, denominados de conídios em conidióforos, estruturas que os suportam e são envoltos em uma substância gelatinosa, como também podem ser produzidos em setas férteis. Os respingos de chuva disseminam os esporos envoltos na substância gelatinosa a curtas distâncias, enquanto o vento se encarrega de disseminar os esporos produzidos sobre as setas, a distâncias maiores. Esta substância, sob condições desfavoráveis de ambiente sofre dessecamento, porém a maioria dos esporos nela contidos permanecem viáveis, constituindo-se este num dos mecanismos de sobrevivência do patógeno. Os esporos voltam a se disseminar a partir da dissolução da substância ao contato com respingos de chuva e orvalho, sendo conduzidos aos sítios de infecção. O fungo sobrevive, ainda, de um ano para outro em restos de cultura no solo, na forma de micélio dormente.

Transmissão pela semente

A principal via de transmissão do patógeno é através da semente. O fungo tanto pode ser transportado na superfície externa das sementes como no interior da amêndoa, numa percentagem que varia de 5 a 9% dependendo da resistência do genótipo. Maior intensidade de contaminação e infecção das sementes tem sido verificada nos períodos de floração e frutificação e é favorecida por maiores índices pluviométricos e umidade relativa elevada.

Não tem sido verificada correlação entre o grau de severidade da ramulose e a percentagem de sementes infectadas pelo patógeno. Neste caso não se pode considerar a intensidade da doença como um indicativo da qualidade das sementes colhidas no campo de produção. Estudos têm demonstrado que a incidência do fungo nas sementes é maior quando a doença ocorre em plantas com maçãs já formadas. Portanto é de grande importância a realização de inspeções fitossanitárias em campos de produção de sementes e erradicação de plantas doentes no período entre o início da formação das maçãs até o seu completo desenvolvimento. Alguns estudos já demonstraram que amostras de sementes coletadas a uma distância de até 9 metros de uma fonte de inóculo, ou seja, de uma planta doente, apresentaram infecção acima dos níveis de tolerância recomendado.

Manejo da doença

O controle da ramulose deve ser feito, principalmente, através do uso de cultivares resistentes. Algumas cultivares recomendadas para diferentes regiões produtoras apresentam resistência à ramulose tais como BRS Antares, BRS ITA 96, CS 50, Sicala 34, BRS Facual, CNPA ITA 97, BRS 197, BRS 198 e BRS 199. Medidas preventivas como a inspeção permanente do plantio visando identificar focos da doença e o uso de sementes sadias, devem ser adotadas; a rotação de culturas é uma medida importante para a redução do nível de inóculo, sobretudo em áreas onde a doença já ocorreu; o controle químico deve ser usado sempre de forma preventiva, após a identificação dos primeiros sintomas devendo-se, mesmo nestes casos, evitar o uso de cultivares muito suscetíveis pois estas exigem um número maior de pulverizações aumentando os custos da lavoura.

Alderi Emídio de Araújo,

Embrapa Algodão

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