A crescente demanda e a exigência por produtos de melhor qualidade, observada nos últimos anos, vem afetando significativamente a forma da produção e comercialização das hortaliças. Nesse sentido, nota-se em diferentes regiões do país, o emprego de novas tecnologias visando a otimização da produção olerícola, dentre elas, uma tendência no uso de mudas para posterior transplantio.
O desenvolvimento e emprego de variedades melhoradas e/ou sementes híbridas de alto custo, tem colaborado para essas mudanças na produção. Além disto, em condições de estufa, onde as mudas são produzidas, a emergência das plântulas em bandejas é maximizada devido às melhores condições de germinação e maiores cuidados no início do estabelecimento das plântulas. O transplantio, assim, desponta como uma opção para minimizar perdas, além de outras vantagens como um menor gasto de sementes (um grande benefício quando se utiliza sementes híbridas, de alto custo), maior uniformidade das plantas, garantia de espaçamento e/ou população mais adequados, eliminação do desbaste, redução de gastos na fase inicial da cultura, maximização da área e redução do ciclo da cultura.
A produção de mudas em bandejas possibilita ainda, a utilização de novas tecnologias, como a obtenção de mudas de melancia híbrida triplóide (sem sementes) ou mudas premunizadas de abóboras. Um bom exemplo da utilização do transplante de mudas tem sido observado no segmento de tomate destinado à agroindústria onde, em grandes áreas, a utilização de híbridos aliada a um manejo cultural moderno com várias operações mecanizadas, incluindo o transplantio mecânico das mudas, tem contribuído para o aumento da produtividade.
Mudas e transplantio
Em vários países, incluindo o Brasil, a produção de mudas em bandejas sob condições de cultivo protegido de várias espécies olerícolas para posterior transplantio é, atualmente, a principal forma de estabelecimento da cultura no campo. Em um sistema de produção de mudas, vários aspectos como sementes, fatores climáticos, nutrição, substratos, recipientes, qualidade da água, manejo da irrigação, tratos culturais, controle de pragas e doenças e idade de transplantes devem ser considerados. O período compreendido entre a semeadura e o desenvolvimento das plântulas é a fase crucial da produção de mudas. Diversos fatores externos como temperatura, água, oxigênio, luz, profundidade e nutrientes afetam a germinação e conseqüentemente a emergência das plântulas.
A temperatura pode vir a ser o mais importante fator externo, uma vez que nem sempre o produtor tem o total controle sobre este fator. Cada espécie apresenta uma temperatura mínima, máxima, e ótima para a germinação. Dentro de cada espécie, podem existir diferenças marcantes entre as cultivares quanto à germinação nas diferentes temperaturas. Temperaturas muito baixas ou muito altas poderão alterar tanto a velocidade quanto à porcentagem final de germinação. Em geral, temperaturas baixas reduzem, enquanto temperaturas altas aumentam, a velocidade de germinação. Temperaturas distantes do ótimo de germinação não são adequadas, uma vez que resultam em demora e em baixa e irregular germinação. Em condições extremas de temperatura, a germinação poderá não ocorrer e, em alguns casos, poderá levar a semente à condição de dormência.
A utilização de ambientes controlados durante a germinação é uma prática recomendada, uma vez que reduz a oscilação não só da temperatura como também da umidade, problemas verificados em ambientes não controlados. O empilhamento de bandejas após a semeadura, fato comumente observado entre os produtores de mudas, pode afetar a performance da germinação do lote de sementes, uma vez que temperatura, umidade e aeração podem variar nas diferentes “camadas” de bandejas.
Para o produtor de mudas, a umidade é geralmente mais fácil de ser mantida nas bandejas. A adição de água ao substrato deve ser realizada imediatamente após a semeadura, tomando o cuidado para não irrigar em excesso. Umidade em demasia pode causar danos às sementes provocados pela embebição rápida e também causar deficiência de aeração; adequado suprimento de oxigênio é extremamente importante nessa fase inicial de germinação. Por outro lado, insuficiente irrigação pode resultar em uma diminuição tanto da velocidade como da porcentagem de germinação. Cobertura das sementes com substrato ou vermiculita é necessária para manter a umidade em volta da semente. Em geral, sementes de brassicáceas e cucurbitáceas exigem menor teor de água no substrato para germinar quando comparada com solanáceas, enquanto alface e beterraba exigem um substrato bastante úmido. Embora a maioria das espécies olerícolas germinem na ausência de luz, esta é fundamental para o crescimento inicial das plântulas. Altos níveis de fertilizantes aplicados ao substrato podem reduzir ou atrasar a emergência; em geral, as plântulas não necessitam de fertilização antes da expansão da primeira folha verdadeira.
Qualidade da semente
A qualidade da semente é, sem dúvida, um dos aspectos mais importantes para se alcançar o sucesso na produção de mudas. Assim, sementes de alta qualidade e condições que permitam uma máxima germinação em um menor tempo possível, com uma máxima uniformidade de plântulas, é uma busca constante daqueles envolvidos na indústria de mudas de hortaliças. A velocidade e a uniformidade de germinação devem ser focadas tendo em vista um maior aproveitamento de mudas bem como a obtenção de maiores produtividades. Além disso, tem-se observado que sementes que germinam com certo atraso, dentro de um mesmo lote, apresentam um desenvolvimento de mudas retardado devido à concorrência sofrida por elas. Geralmente, essas mudas não são aproveitadas para o transplantio. Alta germinação e vigor das sementes são dois pré-requisitos para se alcançar um bom estabelecimento de plântulas, especialmente em condições adversas, incluindo temperaturas. Uma vez que, geralmente, o produtor de mudas não controla a temperatura durante a germinação, a utilização de lotes de sementes com altíssimo vigor é recomendável. O tamanho das sementes dentro de um mesmo lote poderá também, influenciar sua qualidade, com conseqüências na produção de mudas.
Embora seja utilizado na maioria das vezes um substrato comercial, previamente inerte, e sem microrganismos, certos patógenos podem estar presentes (interna ou externamente) nas sementes e causar tombamento de pré e pós-emergência (“damping-off”). Assim, o uso de sementes tratadas diminui a incidência de patógenos, possibilitando uma melhoria no estabelecimento de plântulas e evitando uma disseminação desses microrganismos na lavoura. A sanidade e/ou a limpeza e desinfecção das bandejas deve também ser verificada. As bandejas devem ser lavadas com jatos de água, seguido por uma imersão em solução de hipoclorito de sódio (1 a 2%) por 20 minutos, e após isso devem ser novamente lavadas e secas ao sol.
Em muitos dos casos aquela porcentagem de germinação indicada no rótulo da embalagem de um determinado lote de sementes nem sempre irá corresponder à emergência nas bandejas obtida pelo produtor de mudas; isso se deve ao fato de que as sementes foram analisadas em laboratório sob condições ótimas, inclusive na temperatura ideal para a germinação da espécie em questão. Fatores anteriormente citados, como água, oxigênio, luz, microrganismos, tipo de solo, profundidade de semeadura e outros também poderão influenciar a germinação das sementes. Sementes de hortaliças oriundas de companhias idôneas, geralmente apresentam alta qualidade fisiológica e são garantidas por determinados períodos após a realização dos testes para rotulagem. Entretanto, na maioria das vezes, o produtor de mudas não utiliza todo o volume de semente adquirido, necessitando assim armazená-las. É sabido que sementes tendem a perder viabilidade e vigor com o período de armazenamento, mesmo em condições adequadas.
O que o produtor de mudas deve então, fazer para minimizar este problema e obter o potencial máximo da qualidade do lote de sementes? Visando a manutenção da qualidade das sementes, citamos algumas “dicas” para o produtor de mudas: a) determine a necessidade de sementes com antecedência; b) adquira sementes em quantidade suficiente, evitando assim a sobra; c) armazene as sementes em embalagens fechadas, com dessecante, em geladeira; d) use sementes de embalagens abertas em até seis meses e fechadas em até 12 meses; e) não armazene sementes peletizadas ou osmoticamente condicionadas; f) analise as sementes armazenadas antes de sua utilização.
Finalmente, a utilização de sementes de alta qualidade aliado a um maior conhecimento dos fatores relacionados com a germinação da espécie em questão, permitirá ao produtor de mudas uma maximização do desenvolvimento das plântulas na estufa. A máxima germinação, com maior rapidez e, principalmente com uma maior uniformidade de plântulas poderá garantir o sucesso do empreendimento.
Warley Marcos Nascimento
Embrapa Hortaliças
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