A introdução de uma nova espécie vegetal, de uma variedade ou, mesmo, a adoção de alguma mudança importante nas práticas culturais, pode propiciar que insetos considerados historicamente como de importância secundária adquiram a categoria de pragas primárias. Parece ser este o caso protagonizado pelo percevejo barriga-verde, pelo sistema plantio direto (SPD) e pelo milho cultivado fora de época (safrinha).
O percevejo barriga-verde (ou catarina) é considerado praga secundária da soja na região Centro-Sul do Brasil, com registros das espécies
(Fabricius) e
(Dallas). A distribuição geográfica dos percevejos do gênero Dichelops envolve os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além da Região Sudeste do estado de São Paulo. A encontrada em milho safrinha, no Estado de Mato Grosso do Sul, foi identificada como
(Neodichelops)
(Dallas).
O milho nos estádios iniciais de crescimento é mais sensível ao ataque do percevejo. O inseto pratica injúria pela introdução do estilete e sucção dos conteúdos da planta, com provável injeção de toxinas no sítio de alimentação. Dependendo da intensidade do ataque, ocorre a murcha e morte do milho. Nos locais em que o inseto alimentou-se podem ser vistos pontos escuros nas folhas novas do interior do cartucho. Ataques severos à região de crescimento da planta promovem a emissão de perfilhos, diminuindo drasticamente a produção. As que resistem aos danos, mais tarde, apresentam folhas desenroladas com vários orifícios arredondados. Estes se posicionam em linha reta no sentido transversal da lâmina foliar e, às vezes, rompem-se ao coalescerem, principalmente sob ações dos ventos. Em outros casos há formação de orifícios, também enfileirados em linha reta no sentido da largura da folha, mas expandidos no sentido do comprimento da mesma, sendo aproximadamente retangulares. Há também ocasiões em que ocorre o “encharutamento” das folhas.
Na extremidade anterior da cabeça do barriga-verde nota-se uma reentrância longitudinal profunda, conferindo um aspecto bifurcado àquela região do corpo do inseto. O adulto mede cerca de 10mm de comprimento e apresenta prolongamentos laterais do pronoto, em forma de espinhos. As extremidades destes são escuras, no caso do
. Na base do escutelo há um ponto branco, pequeno, de difícil percepção a olho nu. Sob lupa verifica-se que é uma região terminal, quitinosa, brilhante, esbranquiçada, com a forma de ferradura. Na parte dorsal tem coloração marrom e na ventral, verde. Seus ovos são de coloração verde-azulada, podendo ser depositados sobre as folhas de milho, ou sobre as de invasoras, como o cordão-de-frade,
(L.) R. Br. As ninfas apresentam coloração verde.
Ocorre normalmente em baixas populações na cultura da soja e, aparentemente, multiplica-se em hospedeiros intermediários, até que seja instalada a cultura do milho safrinha. É facilmente encontrado na planta daninha “vassourinha” (
spp.), onde são observados os furos característicos oriundos das punções que o inseto fez quando se alimentou na base do colmo da planta jovem. Os mesmos sintomas podem ser esporadicamente encontrados em plantas do gênero Brachiaria.
A distribuição espacial do inseto no campo aparentemente é influenciada pela vegetação e temperatura ambientes, apresentando maior atividade ao cair da tarde. Dados coletados na região de Dourados também apontam nesse sentido.
A tabela 1
indica que ninfas e adultos de
preferem ambientes de temperaturas amenas, como os proporcionados pelas sombras das ervas daninhas que não foram controladas pelos herbicidas. Com isso o ataque do inseto ao milho não é tão intenso durante as horas mais quentes do dia, mas pode acentuar-se ao entardecer e, provavelmente, à noite. Logo nos primeiros dias após a germinação do milho já é possível ver adultos e ninfas caminhando sobre o solo. Posicionam-se com a cabeça voltada para baixo, na base do colmo do milho, quando estão alimentando-se.
É conveniente que antes da semeadura do milho, o técnico avalie se as ervas daninhas não estão servindo de abrigo para o barriga-verde. Em caso positivo, deve promover o melhor controle possível das invasoras e monitorar a população do percevejo já nos primeiros dias seguintes à germinação do milho. Pesquisas desenvolvidas na região de Dourados mostram que o D. melacanthus pode ser controlado eficientemente, em milho safrinha, com os seguintes inseticidas em gramas de ingrediente ativo por hectare:
• monocrotofós - 150;
• metamidofós - 300;
• paratiom metílico - 480.
Os resultados anteriormente citados foram obtidos nas seguintes condições: aplicações com pulverizador equipado com bico do tipo leque e regulado para liberar 300L ha-1, sob pressão de 40lb./pol.2. Quando possível do ponto de vista prático é conveniente que as pulverizações sejam realizadas no fim da tarde e à noite.
e
Embrapa Agropecuária Oeste
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