A sigatoka negra, considerada como uma das mais sérias doenças das musáceas, é muito mais virulenta do que a sigatoka amarela, praga esta presente há muitos anos em todas as regiões de produção de bananas do Brasil. Onde ela ocorre provoca queda de produtividade com reduções de até 100% na produção comercial de banana se não tratada adequadamente.
A sigatoka negra produz uma maior quantidade de ascosporos e sua esporulação dá-se na face inferior das folhas, fato este que dificulta e eleva os custos para seu controle.
A praga foi identificada pela primeira vez no ano de 1963 na ilha Viti Levu, no arquipélago de Fiji, Pacífico Sul, suplantando a sigatoka amarela e constituindo-se na mais séria enfermidade de folhagens das regiões do Pacífico, Sudeste da Ásia e Filipinas.
No ano de 1969 registra-se a incidência de manchas de coloração negra em cultivos de plátanos em Honduras e em 1972 a doença foi oficialmente registrada naquele país iniciando-se, a partir daí, sua disseminação nas Américas Central e do Sul. Em 1977 aparece em Belice e Guatemala, em 1979 na Nicarágua, em 1980 na Costa Rica e no México, em 1982 no Panamá, entre 1985 e 1986 na Colômbia, em 1987 no Equador e em 1991 na Venezuela.
Em 1998 a doença foi registrada oficialmente no Brasil, nos municípios de Tabatinga e Benjamin Constant, no Estado do Amazonas. A partir desta data a doença vem se disseminando por vários Estados brasileiros, quais sejam Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Pará e, a partir de meados deste ano, nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
Os sintomas podem ser claramente observados a partir da quarta ou quinta folha, embora as infecções ocorram nas folhas vela, um dois ou três.
Observa-se, inicialmente, pontos apresentando leve descoloração entre as nervuras secundárias que posteriormente expandem-se tomando formato de estrias de coloração marrom escura. Com a evolução da doença estas estrias expandem-se radialmente tomando formato de manchas necróticas elíptico-alongadas dispondo-se paralelamente às nervuras secundárias. A partir deste estádio as manchas apresentam centro deprimido com centro acinzentado e halo amarelo proeminente.
Com a evolução da doença, as estrias de coloração marrom escura tomam formato de manchas escuras. Estas manchas normalmente coalescem dando ao limbo foliar uma coloração próxima à negra, aspecto este que justifica o nome atribuído à doença: sigatoka negra.
O uso de variedades resistentes é uma das alternativas para o convívio com a sigatoka negra, constituindo-se em alternativa mais econômica e sócio-ambientalmente correta.
No entanto, o produto gerado com o cultivo de variedades resistentes é, via de regra, desconhecido dos consumidores. Há que se considerar que hoje o mercado está centrado em cima de cultivares do grupo Prata e Subgrupo Cavendish (“Caturras”) e que mudanças de hábitos de consumo carecem de marketing que principalmente mostrem as vantagens do consumo de frutas com sabor diferenciado e que sejam isentas da aplicação de fungicidas.
Diversos materiais podem ser plantados sendo que a maior limitação à expansão dos cultivos é a carência de mudas no país.
Algumas destas variedades resistentes são:
1. FHIA 01 (“Prata-açú”)– tetraplóide AAAB, introduzida de Honduras que produz frutos do tipo Prata. É planta altamente resistente à sigatoka negra e medianamente resistente à sigatoka amarela, resistente ao mal-do-panamá, produz cachos de 20 a 40kg, no Sul do Brasil têm-se comportado com boa tolerância ao frio.
2. FHIA 02 – tetraplóide AAAA, introduzida de Honduras, pertencente ao subgrupo Cavendish. Resistente à sigatoka negra e amarela e ao mal-do-panamá. Produz cachos de até 60kg com frutos do tipo “Nanicão”.
3. Caipira (Yangambi km 5) – oriunda da África Ocidental, foi introduzida no Brasil pela Embrapa Mandioca e Fruticultura. É uma planta rústica, triplóide AAA, de porte alto e que produz cachos com peso entre 15 e 30kg. É resistente à sigatoka negra, amarela e ao mal-do-panamá.
4. Thap maeo (“Maçã da Índia”) – É uma variante da Mysore selecionada pela Embrapa Mandioca e Fruticultura. Apresenta resistência à sigatoka negra e amarela e ao mal-do-panamá. Produz cachos de 20 a 40kg com frutos do tipo maçã.
5. Prata Zulu – Variedade pertencente ao grupo genômico AAB, altamente resistente à sigatoka negra e amarela, sendo no entanto susceptível ao mal-do-panamá. Apresenta frutos do tipo Prata e cachos pesando entre 15 e 33kg.
6. FHIA 18 (“Pratão”) – Variedade tetraplóide AAAB, altamente resistente à sigatoka negra, medianamente resistente à sigatoka amarela e susceptível ao mal-do-panamá. Apresenta frutos do tipo Prata e cachos pesando entre 20 e 30kg.
7. Prata Ken ou Pacovan Ken – É uma variedade tetraplóide AAAB, pertencente ao grupo Prata. É altamente resistente à sigatoka negra e resistente à sigatoka amarela. Produz cachos de até 30kg com frutos do tipo Prata.
8. Ouro – Variedade diplóide AA, resistente à sigatoka negra e ao mal-do-panamá sendo, porém, altamente susceptível à sigatoka amarela. Produz frutos do tipo Ouro em cachos pesando em média 10kg.
Diversas outras variedades resistentes são conhecidas, tais como: Pelipita, Figo, Garantida, Caprichosa, Preciosa, FHIA 21, Ambrósia, Buccaneer e Calipso.
O monitoramento da sigatoka negra, aliado ao sistema de previsão e aviso é a mais importante ferramenta para o efetivo controle da doença. Trata-se de processo que envolve a setorização de áreas, organização dos produtores, capacitação de técnicos e produtores, adequado manejo dos bananais e adequada tecnologia de transporte, aplicação e manipulação de agroquímicos. O sistema envolve o acompanhamento semanal da evolução da doença em bananais estrategicamente distribuídos em bacias hidrográficas que, associado ao monitoramento das condições climáticas, gera o “aviso” que orienta os produtores quanto à necessidade de pulverizações.
Este sistema permite controlar a sigatoka negra com grande eficiência, evitando-se assim aplicações de fungicidas de forma indiscriminada. No controle da sigatoka amarela em Santa Catarina, o sistema de pré-aviso tem permitido economia no uso de insumos agroquímicos (redução do número de aplicações) e ganhos de produtividade (controle mais efetivo/maior número de folhas ativas).
Algumas práticas culturais e/ou manejos dos bananais também são de grande importância para o controle da sigatoka negra pois a não-realização de tais práticas cria ambiente favorável à disseminação da doença nos bananais. Destacam-se: a) adequada drenagem das áreas; b) nutrição balanceada através do monitoramento nutricional (adubações orientadas em função de análises foliares e de solo periódicas); c) espaçamento adequado para cada cultivar; d) desbaste adequado; d) controle de ervas daninhas; e) desfolha e f)“cirurgia” (retirada de pedaços de folhas atacadas por sigatoka).
A sigatoka negra não pode ser controlada efetivamente em uma região de forma isolada nos diversos bananais. Ou seja, é necessário um esforço concentrado por parte de todos os produtores no sentido de seguirem as orientações de combate à praga (pulverizações) no momento adequado. Desta forma, bananais abandonados e bananais não tratados constituem-se em fontes potenciais de inóculo para os demais, fazendo-se necessário sua erradicação. Neste sentido, os Estados que vêm registrando a praga têm adotado medidas legais obrigando a eliminação destas áreas problemáticas.
Outro aspecto importante é o uso de embalagens não contaminadas. Deve-se utilizar somente embalagens de madeira ou papelão novas (de primeiro uso) ou embalagens plásticas sanitizadas. Neste sentido, os Estados que vêm registrando a praga também têm adotado medidas legais obrigando a adoção destas medidas.
A banana é a fruta com maior volume transacionado no comércio internacional, com produção mundial anual em torno de 56 milhões de toneladas sendo o Brasil o terceiro maior produtor mundial possuindo cerca de 550 mil hectares plantados. A evolução da sigatoka negra no país deve ser encarada como fato da maior importância na medida em que envolve milhares de produtores.
Somente em Santa Catarina cerca de 25 mil produtores rurais exploram a cultura, seja como componente de renda da propriedade ou ainda como agricultura de subsistência. Ainda em Santa Catarina, cerca de 5 mil estabelecimentos agrícolas têm na bananicultura sua principal fonte de renda. O Estado de Santa Catarina, um dos maiores produtores nacionais, produz anualmente cerca de 650 mil toneladas da fruta responsáveis por receita de cerca de R$ 100 milhões de reais anuais. Somente em exportações, Santa Catarina participa com 68% do volume de bananas exportado pelo país, representando cerca de US$ 17 milhões de dólares em divisas.
Faz-se necessária uma mobilização de todo o setor no país, produtores, comerciantes, instituições de pesquisa e assistência técnica e governos, no sentido de viabilizar ações que permitam o efetivo enfrentamento da sigatoka negra, quais sejam, ações de pesquisa, assistência técnica, capacitação, produção de mudas de variedades resistentes e crédito.
Epagri
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