No Brasil, predomina o sistema de cultivo de arroz de sequeiro, ocupando 67% da área total utilizada com a orizicultura (atualmente 3,5 milhões de hectares). Contudo, o sistema de arroz irrigado por inundação, assume maior importância como estabilizador da safra brasileira, por ser menos dependente da ocorrência de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da cultura. A orizicultura irrigada ocupa 29% da área cultivada com o cereal no País. Apesar do cultivo do arroz irrigado ser praticado em todas as regiões do Brasil, aproximadamente 70% da área correspondente a este sistema de cultivo (830.000 ha), concentra-se no Rio Grande do Sul, responsável por cerca de 45% da produção nacional. A ação prejudicial de insetos, é um dos principais fatores que afetam a economicidade da cultura no Estado, por impedir melhor aproveitamento do potencial produtivo das cultivares atualmente disponíveis.
Espécies mais frequentes
Diversas espécies de insetos danificam a cultura do arroz irrigado no RS, da semeadura à formação de grãos. De maneira geral, dependendo da parte da planta que atacam, podem ser classificadas em: (1) da parte subterrânea, incluindo larvas e adultos de coleópteros, que danificam sementes e raízes, antes ou depois da inundação do arrozal; (2) da parte aérea, consistindo de insetos mastigadores, sugadores e raspadores de colmos e folhas, sendo os dois primeiros grupos os mais importantes; (3) dos grãos, correspondendo a um complexo de insetos sugadores que afetam diretamente a quantidade e qualidade do produto. As espécies atualmente mais prejudiciais são o cascudo preto (
), pulga-do-arroz (
sp.), lagarta-da-folha (
), gorgulho-aquático (
), percevejo-do-colmo (
) e percevejo-do-grão (
). Outras espécies, como a broca-do-colmo (
) e o pulgão-da-raiz (
), de importância secundária para a cultura, ocasionalmente provocam danos de expressão econômica.
Os insetos ocorrem em 25% da área orizícola do RS (± 207.500 ha), reduzindo em aproximadamente 10% a produtividade (± 500 kg de grãos/ha). Conforme estimativas, baseadas no preço atual de R$ 13,25 atingido pela saca de arroz, as perdas econômicas brutas são da ordem de R$ 132,50 por hectare, o que resultaria em perda total de R$ 27,5 milhões nos 207.500 ha infestados a cada ano. Além das perdas de produtividade, há riscos de prejuízos ambientais (principalmente à fauna aquática), como conseqüência do prevalecente uso irracional de inseticidas químicos. Historicamente, a importância de insetos para o arroz irrigado no RS, tem sido erroneamente associada a gastos com inseticidas químicos, ainda persistindo baixo índice de adoção de critérios recomendados por instituições de pesquisa, para avaliar densidades populacionais e seus efeitos na produtividade da cultura.
Há diferença entre o patamar de prejuízo que ocorre em cada uma das cinco regiões orizícolas do RS. Na Depressão Central, Campanha e Fronteira Oeste, os danos são mais elevados do que no Litoral Norte e Sul. O cultivo contínuo, em pequenas áreas, durante vários anos, é considerado a principal causa de elevados níveis populacionais de insetos, na Depressão Central. Na Fronteira Oeste e Campanha, maiores índices de infestação são atribuídos à temperatura média mais elevada no período de desenvolvimento da cultura e à maior intensidade de lavouras de coxilha, com cultivo de arroz também sobre as taipas, condições favoráveis ao crescimento populacional de várias espécies de insetos. Na região litorânea, as lavouras são implantadas em áreas mais planas, possibilitando maior afastamento de taipas e maior uniformidade da lâmina da água de irrigação, condições em princípio menos favoráveis à expansão da população de insetos.
Situação do MIP
Até ao final da década de 80, o manejo integrado de pragas (MIP) em arroz irrigado no RS, foi pouco considerado em relação a outros componentes-chave do sistema de produção. Contudo, com o paulatino agravamento da problemática de insetos na cultura, instituições de pesquisa no Estado implementaram estratégia de ação, visando melhorias no MIP. Alterações tecnológicas no sistema de produção, como troca de cultivares tradicionais por modernas, expansão do plantio direto e arroz pré-germinado, e cultivo sobre taipas, incluem-se entre as principais causas de mudança da situação de insetos nos arrozais, ora contribuindo para a redução da população de algumas espécies, ora aumentando a população de outras. Concentraram-se esforços de pesquisa em avaliação de danos (níveis populacionais de insetos x níveis de perda de produtividade), estudos bioecológicos, racionalização do controle químico e desenvolvimento de métodos alternativos de controle (resistência varietal, controle biológico e cultural).
Os resultados de pesquisa que possibilitam melhorias do MIP, em arroz irrigado, são repassados aos orizicultores através da publicação interinstitucional, Recomendações Técnicas da Pesquisa para a Cultura do Arroz Irrigado no Sul do Brasil, a qual contém informações que subsidiam a adoção de medidas de controle econômico dos insetos. Contudo, para a evolução do MIP na cultura, é fundamental, por parte dos orizicultores, maior nível de adoção dos procedimentos recomendados. Considerando, a necessidade de conservar ou recuperar condições ambientais em áreas onde são praticados diferentes sistemas de produção de arroz irrigado, a Embrapa Clima Temperado, continuará a concentrar esforços em pesquisas sobre métodos alternativos ao controle químico. Um dos pontos fortes será o estudo da viabilidade do manejo da água de irrigação como método de controle de pragas que ocorrem na fase inicial (de implantação) da cultura. Aspectos sobre bioecologia de insetos serão revistos, devido às mudanças que estão ocorrendo no sistema convencional de cultivo e ao potencial de ação de agentes de controle biológico natural, abundantes no agroecossistema orizícola. A avaliação de impactos ambientais potencialmente decorrentes da aplicação de inseticidas químicos, é outra linha de estudo prioritária que será urgentemente intensificada, forçosamente envolvendo alianças interinstitucionais, entre o setor público e privado.
José Francisco Martins
Embrapa Clima Temperado
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