Visitas técnicas mostram o tamanho da economia chinesa
Conhecer o maior armazém do mundo e uma fábrica fundada por cem mil soldados chineses foi parte da agenda da Expedição China
24.09.2016 | 20:59 (UTC -3)
As visitas técnicas são parte muito importante nas viagens realizadas pela AgroBravo. É principalmente nestes momentos que grupos tem um contato mais próximo com a realidade de cada país e conseguem entender como é o dia a dia de empresas, produtores, cooperativas e feiras agrícolas. Das 32 pessoas que participam da Expedição China nenhum dos integrantes esteve antes em território chinês, o que explica a grande curiosidade de todos por informações sobre os mais variados assuntos, desde a cultura milenar do país até os métodos de produção de alimentos.
De acordo com o diretor da AgroBravo, Julio Bravo, os roteiros sempre são pensados para que o produtor conheça o máximo possível a realidade dos países visitados, principalmente as questões que estão ligadas aos negócios de seus clientes. “Procuramos desenvolver um roteiro baseado nos negócios de nossos clientes possibilitando assim que eles entendam melhor a realidade do país que estão visitando", explica. É o caso da expedição que está percorrendo os caminhos da soja em solo chinês e visitando empresas que importam os grãos produzidos pelos produtores do Brasil.
Nos primeiros quatro dias da expedição foram realizadas seis visitas técnicas, incluindo duas empresas processadoras de soja, uma cooperativa de produtores chineses, a Academia de Ciências Agrícolas de Heilongjiang e a única fábrica do grupo CNH em solo chinês.
MAIOR ARMAZÉM DO MUNDO
No primeiro dia de visitas, o grupo conheceu uma das unidades da empresa Hopefull Group, com capacidade de processar sete mil toneladas de grãos por dia e 600 mil toneladas por ano. Contando com suas outras unidades, a Hopefull Group consegue beneficiar três milhões de toneladas por ano. A planta instalada nos arredores de Beijing possui o maior armazém de grãos do mundo, com capacidade para 800 mil toneladas, e fica ao lado de uma ferrovia pública e distante 175km do terminal portuário por onde entra a maior parte do soja processada pela empresa.
MÁQUINAS PARA PROCESSAMENTO
Na segunda visita do dia o grupo conheceu a Beijing Zhongchuang Huifeng Technology Development, uma empresa especializada na produção de máquinas de pequeno e médio portes para a produção de produtos como massas e queijos de leite de soja, além de derivados de outras culturas. Esta fábrica produz, por exemplo, uma máquina que possibilita moer pequena quantidade de soja, extrair o leite e produzir em menos de uma hora o queijo de soja, tradicionalmente conhecido como tofu uma das principais fontes de proteínas no período que os chineses passaram por dificuldades econômicas e que hoje continua presente em vários pratos de sua culinária.
COOPERATIVA DE PRODUTORES
Uma curiosidade latente entre os brasileiros que fazem parte da expedição diz respeito ao modo de produção agrícola dos chineses, culturas cultivadas, produtividade e outras características da vida no campo. E foi exatamente isso que o grupo conheceu no segundo dia de visitas. Na China, os produtores não são donos de suas terras; moram e trabalham em áreas estatais e possuem direito de explorar da maneira que melhor entendem a parcela destinada a cada um, podendo inclusive arrendar. Esta prática foi instituída em 1980 pelo governo chinês que oferece um pedaço de terra entre 0,5 a 5 hectares distribuídos de acordo com o tamanho da família e região onde vivem.
Alguns produtores exploram sozinhos seu pedaço de terra, mas um exemplo típico de como trabalham os camponeses chineses é a cooperativa de camponeses Man Cun He visitada pelo grupo de produtores brasileiros. Ela é formada por 18 famílias que juntam suas terras e seus trabalhos como forma de aumentar seus rendimentos. Liderados pelo Sr. Yang, um produtor de 80 anos de idade, os camponeses cultivam uma área total de aproximadamente 90 hectares onde produzem soja orgânica em 27 hectares e milho em 55 hectares. De acordo com Yang, a produção de soja alcança 50 sacas/ha.
Foi possível perceber nesta visita que os pequenos produtores não tem muitos recursos para produzir e procuram aproveitar ao máximo os escassos espaços disponíveis. Uma das lavouras de soja da cooperativa era consorciada com uma espécie de planta que o próprio Sr. Yang não soube identificar mas que ele cultiva e, a cada quatro anos, após atingirem determinado tamanho, vende pelo equivalente a US$ 11,00 cada.
PESQUISA AGRÍCOLA
Para conhecer um pouco mais sobre o cultivo das principais culturas na China, os produtores também conheceram a Academia de Ciências Agrícolas, onde o o pesquisador responsável pelo Escritório de Tecnologia da Soja, Huang Heng Liu apresentou as particularidades do cultivo na província de Hei Long Jiang, responsável por 45% de toda soja produzida na China.
A semeadura da soja começa tão logo a temperatura se eleve para 7 ou 8 graus, o que acontece geralmente entre os dias 25 e 10 de maio ao sul da província, onde é mais quente. Como são cinco áreas com temperaturas médias distintas, são necessárias diferentes cultivares em cada uma delas.
As principais doenças da soja nesta região são nematoides, phytoftora, míldio e antracnose, seguidas de outras doenças de menor expressão. Já os insetos que mais tiram o sossego dos produtores são o pulgão e leguminivora glycinivorella, uma lagarta que não existe no Brasil e aparece todos os anos a partir de 6 de agosto causando danos principalmente nas vagens e grãos.
Mas o método de plantio talvez seja a característica que mais chama atenção no cultivo da soja nesta região. Por conta da umidade retida no solo durante o inverno e das altas temperaturas que ocorrem no verão, os chineses encontraram uma maneira de manter a temperatura e umidade do solo mais estáveis, construindo camaleões que podem variar de 60cm a 70cm de largura. Sobre cada camaleão são plantadas duas linhas de plantas distantes 10cm entre elas, proporcionando na média uma entrelinha de aproximadamente 56cm. Atualmente os pesquisadores do Escritório de Tecnologia da Soja estão desenvolvendo experimentos com camaleões de 97cm a 140cm de largura e quatro linhas sobre eles atingindo maior densidade de população. Também são pesquisados camaleões com 50cm de largura com duas fileiras, além do plantio como conhecemos no Brasil, sem camaleões. Ao procurar melhores métodos de cultivo, os pesquisadores querem aumentar a produtividade que atualmente nas regiões ao sul, onde são mais produtivas, a média não passa de 50 sacas/ha.
O governo da China proíbe o plantio de qualquer cultura geneticamente modificada e especificamente na província da Hei Long Jiang a soja transgênica só pode ser utilizada para produção de ração para animais e óleo de soja, que deve conter a identificação de produto com OGM.
UMA FÁBRICA FUNDADA POR SOLDADOS
A Jiusan Group é um grupo empresarial estatal com 12 unidades na China, metade delas na província de Hei Long Jiang e a outra metade em diferentes regiões do país, além de três sucursais de negócios instaladas em São Paulo, Chicago e Hong Kong.
Parte da agenda do quarto dia da viagem foi reservada para conhecer a unidade de Harbin desta empresa que tem uma origem bastante peculiar. O nome Jiusan significa "nove três" em chinês, uma referência a 3 de setembro, data que marca fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, e que aqui se tornou comemorativa pela vitória sobre os japoneses. Com o fim da guerra, cem mil soldados chineses ficaram nesta região e fundaram uma fazenda que posteriormente deu origem a Jiusan Group.
Hoje, as 12 unidades da empresa são responsáveis por moer 12 milhões de toneladas de soja ao ano, sendo processadora com maior capacidade produtiva e terceira em processamento de óleo na China. A unidade de Harbin, que é responsável pelo processamento fino de óleo, somente utiliza soja convencional por causa de regras provinciais que proíbem o processamento de soja transgênica.
MÁQUINAS AGRÍCOLAS
A última visita no quarto dia na China foi a fábrica de máquinas agrícolas do Grupo CNH. Fundada em junho de 2014, a unidade de Harbin é a única fábrica do grupo em solo chinês. Mesmo com uma capacidade produtiva de 5.450 máquinas, em 2015 produziu pouco mais que 2 mil máquinas entre tratores, colheitadeiras, enfardadeiras.
Apesar da agricultura chinesa ser na grande maioria de pequeno e médio porte, a CNH também produz máquinas maiores para atender a fazendas que são administradas por empresas privadas. A linha de tratores produz modelos da Case IH e New Holland com potências entre 150cv e 250cv. Em 2015 foram fabricadas 250 colhedoras, 700 tratores, 1.200 enfardadeiras. Esta fábrica também tem diferença das existentes no Brasil. Por conta de uma demanda baixa em comparação à capacidade da planta, a produção de máquinas é sazonal, o que faz com que em alguns períodos do ano a linha de produção fique inativa, sem montagem e também sem funcionários, que recebem folga e continuam recebendo seus salários.
A Expedição China continua até o dia 28 de setembro, seguindo de Harbin para a cidade de Xangai e finalmente para Dubai nos Emirados Árabes Unidos.
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