Vírus em tomate mudam comportamento de Bemisia tabaci

ToCV e TYLCV interferem diretamente na alimentação da mosca-branca

24.10.2025 | 14:57 (UTC -3)
Revista Cultivar
Foto: Sebastião José de Araújo
Foto: Sebastião José de Araújo

Pesquisadores chineses descobriram que os vírus Tomato chlorosis virus (ToCV) e Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV) modificam de forma distinta o comportamento alimentar da mosca-branca (Bemisia tabaci). O estudo comparou o efeito de infecções simples e coinfecções em plantas de tomate e nos próprios insetos vetores.

Utilizando tecnologia de gráfico de penetração elétrica (EPG), a equipe analisou o tempo e a intensidade das sondagens da mosca-branca durante a alimentação.

Os resultados mostraram que, tanto em infecções isoladas quanto combinadas, os vírus interferem na capacidade da mosca-branca de se alimentar da seiva do floema, parte essencial para sua nutrição e para a transmissão viral.

Coinfecção altera padrão

Na presença do ToCV isolado, as moscas-brancas apresentaram redução significativa no tempo de ingestão de seiva do floema. O comportamento mudou quando as plantas estavam coinfectadas com ToCV e TYLCV.

Embora a ingestão também tenha diminuído, o tempo para alcançar o floema foi menor, indicando um estímulo inicial à alimentação, seguido de interrupção precoce.

Essa modulação mista sugere que a coinfecção favorece a disseminação viral. Ao estimular o início da alimentação e, ao mesmo tempo, reduzir o tempo de permanência, os vírus podem aumentar a movimentação do inseto entre plantas, o que amplia o alcance da infecção.

Efeitos diretos e indiretos

A pesquisa diferenciou os impactos diretos, observados em moscas-brancas virulíferas colocadas em plantas não infectadas, e os efeitos indiretos, percebidos quando insetos saudáveis alimentaram-se em plantas doentes.

Foto: Alice Nagata
Foto: Alice Nagata

Insetos infectados com ToCV ou com ambos os vírus demonstraram menor atividade de sondagem entre células. Além disso, o tempo entre a primeira sondagem e o acesso ao floema caiu pela metade nos insetos com co-infecção. Já o tempo total de ingestão de seiva caiu drasticamente nos indivíduos com os dois vírus.

Essas alterações indicam que os vírus podem modificar o comportamento da mosca-branca não apenas via planta hospedeira, mas também ao interagir diretamente com o organismo do inseto.

Estratégias de dispersão

O estudo indica que infecções por vírus transmitidos de forma semipersistente, como o ToCV, favorecem estratégias que encurtam a alimentação e incentivam a dispersão do vetor. Já vírus persistentes, como o TYLCV, podem melhorar as condições da planta para aumentar a permanência da mosca-branca.

A combinação dos dois tipos de vírus parece explorar ambos os mecanismos: acelera o início da alimentação e reduz sua duração, promovendo a mobilidade do vetor.

Qualidade do hospedeiro

As alterações comportamentais observadas também refletem mudanças fisiológicas nas plantas. Infecções por ToCV reduziram atratividade e palatabilidade para as moscas-brancas. Compostos voláteis produzidos pela planta infectada, como terpenos, foram associados à repulsão dos insetos.

Por outro lado, o TYLCV parece suprimir genes responsáveis pela produção desses compostos, tornando a planta novamente atraente. Na coinfecção, os dois vírus atuam em direções opostas, criando um cenário mais complexo e dinâmico de interação.

Outras informações em doi.org/10.3390/insects16111091

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