Uso de tecnologia na aplicação de produtos químicos

O conhecimento técnico sobre cada operação, como, por exemplo, na aplicação de produtos químicos, continua sendo fundamental para permitir a execução das atividades de forma eficiente

27.05.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

As áreas destinadas aos cultivos agrícolas, comerciais ou não, estão sujeitas à ação de plantas daninhas, insetos e doenças, quando as condições climáticas como temperatura, umidade e intensidade luminosa forem favoráveis ao seu desenvolvimento. Dentre os diversos métodos disponíveis ao manejo integrado destes agentes de perdas, e que apresenta bons resultados em curto prazo, está a aplicação de agroquímicos, desde que realizada de forma eficiente e consciente.

Para que isso se torne possível, deve-se utilizar os princípios da tecnologia de aplicação, visando à deposição correta do ingrediente ativo no alvo biológico, de forma mais econômica e com o mínimo impacto ao meio ambiente. No entanto, para que a aplicação seja realizada de maneira satisfatória, nem sempre é necessário o uso de equipamentos novos, com eletrônica embarcada, sensores e atuadores, por exemplo, mas é necessária, principalmente, a correta utilização dos procedimentos, os quais são fundamentais para a obtenção de aplicações com qualidade.

Estes procedimentos estão relacionados ao conhecimento do tipo de produto a ser aplicado, à finalidade de controle e à dose a ser utilizada, da mesma forma que itens relacionados ao pulverizador como a correta seleção do conjunto de pontas de pulverização, o que possibilitará obter informações sobre pressão de trabalho e tamanho de gotas, espaçamento entre pontas, altura de trabalho em relação ao alvo, seleção do sistema de filtragem, bem como conhecimento relacionado à cultura implantada e à topografia da área para, assim, definir a velocidade de trabalho. De posse destas informações, será possível determinar o volume de aplicação e realizar a calibração do pulverizador.

No entanto, muitas vezes observa-se um conhecimento reduzido sobre os princípios básicos relacionados à regulagem e à calibração de pulverizadores, o que pode ser reflexo da falta de investimento em treinamento dos operadores que realizam as atividades de aplicação de agroquímicos. Esta falta de conhecimento pode resultar não somente em perdas econômicas ao produtor, dada pela ineficiência no controle do alvo ou danos causados pelos efeitos fitotóxicos às culturas, mas também representar riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

REGULAGEM DO PULVERIZADOR

Frequentemente, o ato de regular e calibrar pulverizadores agrícolas é confundido como a mesma atividade, no entanto, são ações distintas. A regulagem a ser realizada está relacionada ao ajuste dos componentes da máquina às características das culturas a serem pulverizadas e aos produtos a serem utilizados. Já a calibração deverá ser realizada após a regulagem, ou de forma periódica, com o objetivo de aferir o volume de calda pulverizado.

O princípio de um bom procedimento de regulagem pode ser considerado quando, previamente ao início das atividades de aplicação, se faz a seleção das pontas a serem utilizadas. O uso de pontas que produzam espectro de gotas médias a grossas se dá preferencialmente para aplicação de herbicidas; já pontas que geram gotas finas são mais utilizadas para aplicação de inseticidas e fungicidas. Este cuidado deve ser levado em consideração para evitar danos às culturas adjacentes por meio da perda de gotas por deriva quando, por exemplo, realizada aplicação de herbicidas.

Portanto, para selecionar as pontas de pulverização devem ser levados em consideração o tipo de produto e a cultura. Esta seleção irá possibilitar ao aplicador informações como, por exemplo, a distância entre pontas na barra de pulverização e a altura de trabalho recomendada pelo fabricante. O uso da altura de trabalho adequada irá permitir melhor distribuição das gotas na faixa, no entanto quando não são observadas estas informações, podem ocorrer dois problemas principais.

O primeiro está relacionado à utilização da barra de pulverização muito baixa, provocando a concentração de produto na área aplicada, o que poderá resultar em necrose e clorose das plantas (perda de plantas) pelo efeito fitotóxico. Desta forma, como existe uma relação da distância entre as pontas na barra e altura de trabalho em relação ao alvo, outro inconveniente que poderá ser observado relaciona-se à ineficiência do controle pela má deposição das gotas. Citando como exemplo o uso de pontas de jato plano, é importante salientar que, para alguns modelos, é necessário que haja o transpasse do leque aspergido, pois tem a finalidade de proporcionar a deposição adequada do produto no alvo em questão.

O segundo problema poderá ocorrer ao ser utilizada uma elevada altura da barra de pulverização em relação ao alvo, o que pode ocasionar perdas por deriva e causar a redução da concentração de ingrediente ativo depositado, afetando negativamente o controle. Além disso, esta perda de gotas por deriva representa possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente quando transportadas pelo vento para áreas não objeto da pulverização.

Relacionando-se ainda as regulagens, outras atividades, como a adequação da velocidade de trabalho e a rotação da tomada de potência (TDP), são de suma importância, uma vez que pequenos erros nesta etapa podem resultar em elevados prejuízos econômicos. Para determinar a velocidade de trabalho, recomenda-se que o reservatório de calda esteja preenchido com a metade da sua capacidade volumétrica e, que durante o deslocamento do conjunto mecanizado (trator + pulverizador) ou pulverizador autopropelido, se for o caso, a TDP esteja acionada.

O uso da altura de trabalho adequada irá permitir melhor distribuição das gotas na faixa
O uso da altura de trabalho adequada irá permitir melhor distribuição das gotas na faixa

DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE TRABALHO

Para determinar a velocidade de deslocamento, é necessário definir a marcha de trabalho que seja compatível com a topografia da área, bem como ajustar a rotação do motor que resulte em 540 rotações por minuto (rpm) na TDP. A rotação da TDP deve ser mantida fixa, pois é na qual que a bomba de pressurização do sistema hidráulico é projetada para obter sua maior eficiência. A coleta do tempo para deslocamento do conjunto deve ser realizada na própria área onde será executada a pulverização, a fim de minimizar possíveis erros na adequação do equipamento.

Por meio do uso de uma trena métrica, duas estacas e um cronômetro, é possível determinar o tempo para percorrer os 50m, distância a qual será considerada para efeito da determinação da velocidade. Salienta-se que é recomendado realizar este procedimento no mínimo três vezes, onde a média dos valores de tempo deverá ser utilizada na equação 01.

Ao realizar o percurso três vezes com o conjunto mecanizado na área a ser pulverizada, considerando uma distância de 50m, obtiveram-se os seguintes tempos: 22, 20 e 21 segundos, sendo a média dos tempos de 21 segundos.

Portanto, substituindo na equação os valores indicados no exemplo, obtém-se a velocidade de trabalho de 8,57km/h.

CALIBRAÇÃO DO PULVERIZADOR

Depois de finalizada a etapa de regulagem, deve ser realizada a verificação do desempenho do pulverizador, caso não esteja de acordo com o planejado, podem ser realizados ajustes finos como, por exemplo, pequenas alterações na pressão de trabalho. Na calibração se destaca a verificação da vazão das pontas (L/min), com o objetivo de determinar o volume de aplicação (L/ha). Esta etapa deve ser conduzida previamente ao início das atividades, com o objetivo de calibrar o pulverizador e, periodicamente para avaliar o desgaste ou a obstrução das pontas de pulverização.

A determinação do volume de aplicação pode ser feita basicamente por duas formas distintas. Uma está relacionada ao uso da caneca graduada (copo medidor), a qual não é a forma recomendada de calibrar, mas representa uma alternativa prática para a verificação diária da calibração. Para este método de calibração, a coleta da vazão de cada ponta deve ser efetuada pelo período igual ao que o conjunto mecanizado levou para percorrer os 50m. Após a coleta, a leitura do volume de aplicação pode ser realizada de forma direta na coluna que representa o espaçamento utilizado entre as pontas (Figura 1).

Determinação da velocidade de deslocamento
Determinação da velocidade de deslocamento

A forma mais precisa para se realizar a calibração dos pulverizadores é por meio da equação de calibração. Para tal, é necessárioo uso de provetas graduadas, as quais serão utilizadas para coletar a vazão das pontas pelo período de um minuto. Após ser obtida a média da coleta de todas as pontas que compõem a barra de pulverização, utiliza-se a equação 02 para determinar o volume de aplicação.

Representação da escala do copo medidor para a determinação do volume de aplicação. Fonte: Rovian Bertinatto, 2019
Representação da escala do copo medidor para a determinação do volume de aplicação. Fonte: Rovian Bertinatto, 2019

O valor obtido de 79,81L/ha representa o volume de aplicação. No entanto, se de acordo com as recomendações técnicas, o volume desejado seja maior, há possibilidade de reduzir a velocidade de trabalho, trocar o conjunto de pontas por outras de maior vazão ou aumentar a pressão de trabalho (atentar para as recomendações do fabricante com relação à máxima pressão de trabalho). Porém, caso o volume de aplicação desejado for menor, será possível aumentar a velocidade de trabalho, trocar o conjunto de pontas por outras de menor vazão ou, ainda, reduzir a pressão de trabalho (neste caso, atentar para a mínima pressão de trabalho recomendada pelo fabricante, para não influenciar negativamente no transpasse das gotas).

Independentemente do ajuste utilizado para adequar o volume de aplicação, se for alterada alguma das características relacionadas acima, após a calibração prévia, será necessário coletar novamente a vazão das pontas e recalcular o volume. É importante destacar que existe uma relação entre vazão e pressão de trabalho, e que a alteração da pressão para adequar o volume de aplicação é uma questão técnica, onde pequenas variações na pressão poderão influenciar no fracionamento de gotas e, consequentemente, na possível perda das gotas finas por deriva.

Assim, o ajuste do volume de aplicação pela alteração da pressão de trabalho deve levar em consideração a equação 03.

Considerando o volume de aplicação de 79,81L/ha obtido no cálculo da calibração mencionado acima e, sabendo-se que a pressão de trabalho foi de 40Lb/in², pode verificar se é possível aumentar a pressão do sistema hidráulico para obter um volume de 120L/ha. Caso não houver esta possibilidade, terá de ser realizada a troca do conjunto de pontas ou, então, reduzir a velocidade de trabalho.

Ao considerar este exemplo, a melhor solução será reduzir a velocidade de trabalho ou alterar o conjunto de pontas por outras que proporcionem maior volume de aplicação, uma vez que pontas de pulverização do tipo jato plano são projetas para trabalharem em uma faixa de pressão que compreende 20Lb/in² a 60Lb/in². Ou seja, a pressão obtida neste caso está acima das características construtivas para este tipo de ponta, o que poderá resultar no seu desgaste acelerado e reduzir a vida útil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A melhoria na qualidade das aplicações de agroquímicos é proporcionada não somente pelo emprego das tecnologias, mas também pelo uso do conhecimento técnico na execução das atividades, permitindo que a utilização dos recursos seja realizada de forma consciente, a fim de preservar o meio ambiente, a saúde dos operadores e buscar pela maior eficiência no controle do alvo.

Alfran Tellechea Martini e
Tiago Rodrigo Francetto,
UFSM – Campus de Cachoeira do Sul
Marcelo Silveira de Farias,
UFSM – Campus de Frederico Westphalen

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