Seis vagas de pós-doutorado com bolsa da FAPESP no Instituto Agronômico
As inscrições podem ser feitas até 30 de outubro de 2018
Reduzir custos de produção e aumentar a liquidez do trigo gaúcho são os objetivos do projeto conduzido pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro/RS) em parceria com a Embrapa Trigo. O trabalho de validação de um sistema de produção de trigo destinado à exportação, com maior retorno econômico possível ao produtor, pretender assegurar a manutenção na área de cultivo com o cereal no Estado.
O volume de produção de trigo no RS oscila entre 2,5 milhões de toneladas (2016) a 1,3 milhão toneladas (2017). A demanda no consumo interno pela indústria, sementes e outros usos têm se mantido em 1 milhão de toneladas, com excedente destinado à panificação nos grandes centros consumidores do Sudeste. Contudo, como o clima no Estado nem sempre é favorável, a safra finaliza, muitas vezes, com um trigo de baixa força de glúten, que nem sempre atende a indústria brasileira de panificados. A falta de liquidez tem sido responsável pela redução da área do cereal no Estado, que encolheu cerca de 40% nos últimos cinco anos (CONAB série histórica).
Para reverter o quadro, a aposta da Fecoagro é investir num trigo com padrão de exportação, destinado aos países da Ásia e Oriente Médio onde o comércio é orientado pelo teor de proteínas nos grãos. “O Rio Grande do Sul, ao contrário do resto do País, é exportador de trigo. Nosso excedente enfrenta sérios problemas de liquidez. Precisamos abrir novos mercados para o trigo gaúcho, resgatando a cultura como uma importante alternativa econômica para o produtor no inverno”, explica o Presidente da Fecoagro/RS, Paulo Pires.
Entretanto, para alavancar o trigo tipo exportação, a setor produtivo precisa baixar os custos de produção, tornando-se mais competitivo no mercado internacional. O projeto consiste na avaliação do sistema de produção nas áreas experimentais das cooperativas, além de um experimento de base na área da Embrapa Trigo (em Coxilha, RS), com adequações na genética e nas práticas de manejo. O trabalho começou em 2016, com duas cooperativas (Cotricampo, de Campo Novo, RS; e Coopatrigo, de São Luiz Gonzaga, RS), ampliado em 2017 para outras duas: Cotripal (Panambi, RS) e Cotrirosa (Santa Rosa, RS). Em cada local foi caracterizado o manejo (insumos e práticas culturais) utilizado pela maioria dos produtores de trigo e definidos ajustes em práticas como adubação de semeadura e cobertura, densidade de semeadura e uso de defensivos. Também, foi testada a substituição da cultivar em uso na região por material com características de potencial produtivo elevado, rusticidade, sanidade e qualidade tecnológica mais apropriada para o sistema de trigo exportação.
Os resultados das validações em cada cooperativa demonstraram que os ajustes no manejo e em escolha de cultivares com foco no sistema para exportação permitiram reduções médias no custo de produção de 8,98% a 18,7% na safra 2016 e de 8,8% a 24,3% na safra 2017 com manutenção dos níveis de rendimento de grãos. Além disso, na maioria das situações, que envolveram uma safra favorável (2016) e outra desfavorável (2017), os ajustes realizados com foco no trigo exportação aumentaram a receita líquida ou reduziram as perdas em relação ao sistema utilizado tradicionalmente.
Do ponto de vista de qualidade tecnológica, na maioria das situações, os parâmetros obtidos foram compatíveis com as exigências para exportação, com valores superiores a peso do hectolitro 78, número de queda acima de 300, teor de proteínas totais nos grãos acima de 12% e força de glúten com valores em faixa aceitável para exportação (que caracterizam trigos das classes comerciais Básico ou Doméstico).
“Os resultados indicam que a validação proposta permitiu verificar a compatibilidade dos sistemas com a redução de custos mantendo o potencial produtivo em níveis elevados e com a qualidade tecnológica demandada pelo mercado externo”, explica o pesquisador João Leonardo Pires.
Os resultados em 2018 ainda dependem do clima até a colheita, mas a expectativa da Fecoagro/RS é comercializar 20% da safra para exportação através de tradings.
Interesse na Copatrigo
Na área experimental da Copatrigo, em São Luiz Gonzaga, RS, foram destinados 10 hectares para a avaliação do projeto. São duas cultivares em uso, um trigo mais rústico e com alto potencial de rendimento de grãos, e outra cultivar com reconhecida qualidade tecnológica. Na safra 2016, com clima favorável para trigo no Estado, a redução de custos de produção no trigo tipo exportação foi de quase -9%; já em 2017, com chuva na maturação e colheita, a redução de custos chegou a -19,7%. “Num ano ruim, não salvamos o trigo, mas diminuímos os prejuízos consideravelmente. Essa é a base do projeto, evitar tudo que possa onerar a lavoura, como pacotes de adubação sem análise de solo, aplicações desnecessárias e produtos milagrosos. Precisamos orientar o produtor para ganhar mais com o trigo fazendo o básico bem feito nas lavouras”, avalia o engenheiro agrônomo Marcos Pilecco.
A experiência já despertou o interesse dos produtores na região da Copatrigo e a expectativa do departamento técnico é levar o projeto para alguns cooperados no próximo ano. Além de negócios para exportação, a Copatrigo também estuda atender a demanda de trigo na alimentação animal a partir da aproximação com cooperativas de Santa Catarina.
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