Tecnologia usa fotônica para obter diagnóstico precoce do HLB dos citros

27.10.2015 | 21:59 (UTC -3)
Fábio Reynol

Um aparelho pouco maior que um tablet e de fácil manuseio é a nova ferramenta para a detecção precoce da principal doença que assola os citros: o huanglongbing (HLB), conhecido também como greening. Desenvolvido pela Embrapa Instrumentação (SP), o Photon-Citrus analisa laranjeiras, limoeiros e outros citros por meio da leitura de um laser disparado contra algumas folhas dessas plantas.

O uso da fotônica no combate à doença rendeu, em outubro, o Sustainability Innovation Student Challenge Award (SISCA), ou Dow-USP Sustentabilidade, à mestranda Anielle Ranulfi, bolsista da Embrapa que concorreu com outros 80 participantes, e foi eleito "trabalho destaque" do 9º Simpósio de Lasers e suas Aplicações, realizado em Recife (PE), no mês de setembro.

A maior vantagem da tecnologia é conseguir diagnosticar o HLB precocemente em plantas que ainda não manifestaram a doença. "O diagnóstico precoce é fundamental, pois, após ser infectada, a planta pode permanecer até dois anos sem apresentar sintomas, período no qual ela contamina outras árvores", esclarece a pesquisadora da Embrapa Débora Milori, coordenadora da equipe que desenvolveu o Photon-Citrus e orientadora de Anielle. Considerado a mais avassaladora doença dos citros, o HLB não tem cura e é disseminado por um inseto, o psilídeo Diaphorina citri.

Para o controle, é necessário diagnosticar a planta doente visualmente, um método que além de errático (precisão em torno de 30%), é também tardio, pois não impede a contaminação de outras plantas durante o período assintomático. Quando a planta doente é detectada e eliminada, ela já foi fonte de contaminação de muitas outras que, por sua vez, passam também a propagar a doença em progressão exponencial.

Até agora, os métodos de controle baseiam-se na produção de mudas sadias, combate ao inseto-vetor e eliminação das plantas nas quais a doença já se manifestou. Um exame de detecção preciso exige métodos laboratoriais caros, como o PCR quantitativo, inviável para ser aplicado em um pomar inteiro. O Photon-Citrus, por sua vez, consegue detectar a doença ainda na fase assintomática, com uma precisão de 80% nesse período, e de mais de 90% em plantas na fase sintomática. "Não existe uma tecnologia similar com aplicação em larga escala e com essa precisão", declara a pesquisadora.

Débora explica que a clorofila e outras substâncias presentes nas plantas, como os metabólitos secundários, possuem a capacidade de emitir luz, chamada de fluorescência. "A planta doente muda o padrão de emissão da fluorescência porque o patógeno altera a estrutura química dessas substâncias", detalha a pesquisadora. Baseando-se nessa propriedade, o Photon-Citrus dispara um laser contra a folha do citros, provoca a fluorescência e faz a leitura dessa luz. Emissões de fluorescência diferentes daquelas observadas em uma planta sadia podem indicar presença de HLB. A análise usa como amostra dez folhas por planta.

O projeto encontra-se em fase de licenciamento do aparelho para uma empresa privada que será responsável por sua produção comercial. A pesquisadora da Embrapa informa que, antes de disponibilizar o equipamento no mercado, a fabricante ainda deverá construir alguns protótipos para aperfeiçoar o uso em campo e validá-los, processo que deverá levar alguns meses.

A pesquisa foi iniciada em 2004, motivada por uma demanda da indústria de sucos relacionada a outro problema, a morte-súbita-dos-citros. Na época, o único meio de diagnosticar a doença era um método invasivo que exigia a abertura na planta, expondo-a a contaminantes.

Enquanto a equipe de Débora se debruçava sobre a questão, um mal bem mais agressivo começou a preocupar a citricultura brasileira. Naquele mesmo ano de 2004, o HLB, então conhecido como greening, foi detectado no Brasil. "Os profissionais voltaram um ano depois e me disseram que a morte-súbita estava num grau de preocupação mais baixo para o setor, enquanto que o greening era a questão de prioridade máxima para a citricultura ", lembra a pesquisadora.

Em 2011, a pesquisadora Cinthia Cabral da Costa, da mesma Unidade da Embrapa, realizou uma simulação computacional para prever a evolução do HLB até o ano de 2020 em São Paulo, estado que concentra 70% da produção nacional de citros. O estudo concluiu que a identificação precoce de plantas doentes e sua erradicação é um método altamente eficaz no controle da doença a longo prazo.

No trabalho, Cinthia utilizou uma série histórica de proliferação da doença e a associou ao método de diagnóstico visual e a hipotética tecnologia de detecção precoce por fotônica (prevendo o Photon-Citrus) com suas respectivas precisões. Projetando um cenário com um método precoce de detecção, com 80% de precisão a partir de 2014, o estudo previu que o HLB estaria praticamente erradicado do estado até o ano de 2020.

Por outro lado, por meio do diagnóstico visual, se para cada árvore detectada com HLB, outra planta contaminada fosse deixada no campo, São Paulo teria todos os seus pomares contaminados antes de 2020. Situação que já ocorreu nos Estados Unidos, que viu seu principal estado citricultor, a Flórida, ter 100% de seus pomares tomados pelo HLB. "Nossas exportações de suco cresceram muito por causa disso", lembra Cinthia.

Débora Milori ressalta que a tecnologia sozinha não garantirá o controle do HLB no Brasil. Se não houver uma política sanitária bem estruturada com forte monitoramento no campo, a simples detecção da doença pode não fazer efeito. "Isso ocorre porque nem todos os citricultores são dispostos a eliminar uma planta doente aparentemente sadia, depois da detecção", conta a pesquisadora.

Algumas vezes, segundo ela, o produtor prefere deixar a planta produzindo até a manifestação da doença, imaginando ser um bom negócio e acaba promovendo a proliferação do HLB. Em outras propriedades, a citricultura não é a principal atividade, o que faz o produtor negligenciá-la. Em todos esses casos, acaba saindo caro também para a vizinhança.

"Um produtor consciente, que controla HLB e elimina plantas doentes assintomáticas, pode ser prejudicado pelo vizinho que mantém árvores contaminadas em sua propriedade", alerta Débora, ressaltando a importância da fiscalização para o sucesso do controle.

Foto: Joana Silva

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