Tarifas dos EUA aumentam volatilidade no mercado de grãos

Dólar em alta e tarifas dos EUA desafiam exportadores brasileiros de soja e milho neste segundo semestre

14.07.2025 | 17:02 (UTC -3)
Mariana Carvalho, edição Revista Cultivar

A Análise do Especialista Grão Direto desta segunda-feira (14/7) aponta que o anúncio de imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros intensificou a volatilidade nos mercados futuros de soja e milho, impactando os preços em Chicago e elevando a cotação do dólar. Esse ambiente de incertezas pressiona as estratégias de comercialização dos produtores brasileiros, que precisam reavaliar suas operações diante do cenário de tensões comerciais. Confira a análise completa:

Como o mercado da soja se comportou?

Relatório de Oferta e Demanda: a produção e os estoques finais globais registraram um aumento. Em relação ao Brasil e à Argentina, os dados de produção da nova safra foram inalterados, com um crescimento dos estoques brasileiros e uma redução dos argentinos. As importações de soja pela China continuam projetadas em 112 milhões de toneladas.

EUA x China: o mercado reage à falta de um acordo concreto entre os EUA e a China e às tarifas impostas ao BRICS, em especial à taxação de 50% do Brasil, deixando o mercado cauteloso e na defensiva.

Dólar reagiu: a semana foi marcada por muita volatilidade, com a moeda norte-americana reagindo ao tarifaço do presidente dos EUA ao Brasil, podendo afetar empresas e produtores estratégicos da economia nacional.

Em Chicago, o contrato de soja para julho de 2025 encerrou a US$10,04 por bushel, com queda expressiva de 4,92% na semana. O contrato para março de 2026 também caiu, fechando a US$ 10,38 por bushel, uma desvalorização de 3,53%. O dólar fez o caminho inverso, subindo 2,40%, encerrando a semana cotado a R$ 5,55. Esse cenário resultou em um movimento misto no mercado físico, com algumas regiões encerrando a semana em alta, enquanto outras, em baixa.

O que esperar do mercado da soja?

Exportações brasileiras: em julho, as exportações brasileiras de soja somaram 11,93 milhões de toneladas, um crescimento de 24% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Anec. A China permaneceu como o maior destino da soja nacional, absorvendo cerca de 76% das exportações no primeiro semestre de 2025. Além da forte demanda chinesa, fatores como a recuperação do mercado global, dificuldades logísticas em países concorrentes e a menor competitividade da soja argentina devido ao aumento das taxas de exportação contribuíram para direcionar mais compradores ao produto brasileiro, consolidando o Brasil como principal fornecedor mundial e sustentando o crescimento anual das exportações. Apesar do volume expressivo, houve uma leve queda em relação a junho, seguindo o padrão sazonal após a colheita.

Brasil x EUA: o anúncio das tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros trouxe volatilidade aos contratos futuros da soja em Chicago, inicialmente pressionando os preços para baixo devido ao receio de queda nas exportações e possíveis retaliações comerciais, mas com potencial de recuperação caso grandes compradores, como a China, aumentem suas compras do Brasil. Ao mesmo tempo, a incerteza eleva o dólar frente ao real, o que favorece os exportadores brasileiros ao tornar a soja mais competitiva no mercado internacional, embora encareça insumos importados e pressione os custos de produção. Além disso, esse cenário pode impulsionar o prêmio pago nos portos brasileiros refletindo o aumento da demanda internacional pela soja brasileira e ajudando a compensar eventuais quedas nos preços em Chicago.

Dólar pode continuar valorizando: o conflito comercial entre Brasil e Estados Unidos, agravado pela imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, provocou forte valorização do dólar frente ao real, refletindo a aversão ao risco dos investidores e a incerteza quanto ao futuro das relações bilaterais. A expectativa de queda nas exportações brasileiras para os EUA reduz o ingresso de dólares no país, enquanto a possibilidade de retaliações e de uma escalada tarifária aumenta a volatilidade cambial e afasta investidores estrangeiros. Esse cenário pressiona ainda mais o câmbio, encarece produtos e insumos importados e pode impactar negativamente a inflação e o crescimento econômico brasileiro.

O cenário atual exige cautela na busca por oportunidades de comercialização da soja. O mercado permanece volátil e, no momento, há poucos fundamentos que sustentem uma alta expressiva nos preços. As análises técnicas reforçam a tendência de baixa, indicando que as cotações podem se aproximar da faixa dos US$ 10,00 por bushel. Apesar desse contexto, fatores como o prêmio nos portos e a variação do dólar podem atuar como importantes contrapontos, criando condições mais favoráveis para negociações pontuais e exigindo atenção redobrada dos produtores para aproveitar eventuais janelas de oportunidade.

Como o mercado do milho se comportou?

Relatório de oferta e demanda: o boletim apontou uma produção e estoques mundiais menores, refletindo a diminuição da expectativa de produção norte-americana. Para o Brasil e Argentina, a produção foi mantida, mas trouxe um acréscimo nos estoques finais brasileiros.

Colheita seguiu avançando o excesso de oferta do cereal no mercado interno manteve as cotações pressionadas. Movimento sazonalmente esperado pelo mercado neste período do ano que deve ser amenizado com a conclusão da colheita, mas o excesso de volume colhido ainda preocupa.

Safra norte-americana: concomitante à colheita brasileira, a safra dos EUA seguiu em pleno desenvolvimento, com grande maioria das regiões produtoras reportando um cenário de muito otimismo com a produção.

Em Chicago, o contrato de milho para julho de 2025 encerrou a US$ 4,03 por bushel, com queda expressiva de 6,50% na semana. Na B3, o contrato com vencimento em julho de 2025 foi no movimento inverso, subindo 1,73%, fechando a R$ 63,00 por saca. Recuo que se repetiu no mercado físico, com baixas generalizadas.

O que esperar do mercado do milho?

Exportações brasileiras: as exportações brasileiras de milho começaram julho em ritmo lento, com embarques de apenas 120 mil toneladas, uma queda de 80,5% em relação ao mesmo período do ano de 2024. O atraso no início da colheita da segunda safra e a menor disponibilidade de grãos colhidos explicam parte dessa retração e, caso continue nesse ritmo, o mês de julho não deve passar de 1 milhão de toneladas exportadas. A China, que foi um importante importador do milho brasileiro em anos anteriores, está menos presente no mercado em 2025 devido a uma grande safra local e à busca por autossuficiência, o que obriga o Brasil a buscar novos mercados, como Irã, Egito e Vietnã, que não têm o mesmo potencial de compra. Apesar disso,  a expectativa é de aceleração dos embarques ao longo dos próximos meses.

A história se repete: o cenário de comercialização do milho brasileiro em 2025 está sendo marcado por uma safra recorde, o que amplia a oferta interna e reforça o Brasil como um dos principais exportadores globais. Contudo, esse volume elevado traz desafios - a oferta abundante pressiona os preços internos, especialmente diante de gargalos logísticos e do déficit de armazenamento, que obriga muitos produtores a vender rapidamente após a colheita, muitas vezes aceitando valores menores para evitar perdas com grãos estocados ao ar livre. Por outro lado, a demanda internacional segue aquecida devido a estoques globais mais apertados e ao aumento do consumo, favorecendo as exportações brasileiras no segundo semestre. Assim, a comercialização em 2025 vem, mais uma vez, exigindo atenção ao ritmo dos embarques, à movimentação dos preços e à infraestrutura logística, para que os produtores possam aproveitar melhores oportunidades e reduzir riscos em um ano de oferta abundante.

Com o avanço da colheita da safrinha e o consequente aumento dos custos logísticos, aliado a uma perspectiva bastante favorável para a produção de milho nos Estados Unidos, o mercado apresenta poucos elementos que sustentem uma reversão consistente na tendência das cotações. No entanto, considerando o movimento de queda registrado nas últimas semanas, também não se desenha um cenário claro para a continuidade desse recuo. O ambiente atual, portanto, sugere estabilidade, com o mercado atento a novos fatores que possam alterar o equilíbrio entre oferta e demanda nos próximos meses.

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