Sensores nanotecnológicos identificam estresse em plantas

Feitos de nanotubos de carbono, esses sensores identificam moléculas sinalizadoras – peróxido de hidrogênio e ácido salicílico

19.04.2024 | 08:39 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações de Sarah McDonnell
Usando sensores, os pesquisadores podem decodificar o estresse das plantas, como na folha desta planta. Aqui, dois tipos de sensores são multiplexados pela injeção de uma nanopartícula de detecção salicílica (destacada em azul claro) ao lado de um sensor de peróxido de hidrogênio (destacado em vermelho). O sensor de referência (destacado em verde) não responde ao estresse para comparação - Foto: autores do estudo
Usando sensores, os pesquisadores podem decodificar o estresse das plantas, como na folha desta planta. Aqui, dois tipos de sensores são multiplexados pela injeção de uma nanopartícula de detecção salicílica (destacada em azul claro) ao lado de um sensor de peróxido de hidrogênio (destacado em vermelho). O sensor de referência (destacado em verde) não responde ao estresse para comparação - Foto: autores do estudo

Pesquisadores do MIT e da Aliança Cingapura-MIT para Pesquisa e Tecnologia (SMART) desenvolveram um par de sensores que podem detectar sinais de estresse em plantas, como calor, luz intensa, ou ataques de insetos e bactérias. Feitos de nanotubos de carbono, esses sensores identificam moléculas sinalizadoras – peróxido de hidrogênio e ácido salicílico – que as plantas utilizam para coordenar suas respostas a tais estresses. O estudo foi publicado na revista Nature Communications.

O professor Michael Strano, do MIT, destaca que os sensores são capazes de informar, em tempo real, o tipo de estresse pelo qual a planta está passando através de mudanças químicas que funcionam como uma "impressão digital" do estresse específico. Sarojam Rajani, do Laboratório de Ciências da Vida Temasek em Cingapura, também liderou a pesquisa.

Em 2020, o laboratório de Strano desenvolveu um sensor para detectar peróxido de hidrogênio, um sinal de socorro das células vegetais. A nova pesquisa expande essa tecnologia para detectar também o ácido salicílico, envolvido em muitos aspectos do crescimento e resposta ao estresse das plantas.

Aplicação Prática e Benefícios

Os sensores são aplicados em solução líquida na parte inferior da folha da planta, entrando através dos estômatos e se alojando no mesofilo, onde ocorre a maior parte da fotossíntese. Quando ativados, os sinais são facilmente detectados por câmeras infravermelhas.

Os pesquisadores testaram os sensores em pak choi (Brassica rapa subsp. Chinensis), expondo as plantas a diferentes estresses: calor, luz intensa, mordidas de insetos e infecções bacterianas. Cada tipo de estresse provocou respostas distintas na produção de peróxido de hidrogênio e ácido salicílico.

Implicações Futuras para a Agricultura

A capacidade de obter informações em tempo real sobre o estado das plantas e de detectar sinais de estresse antes que danos visíveis ocorram pode transformar a agricultura. A tecnologia poderia ser usada para criar "plantas sentinelas", oferecendo aos agricultores alertas antecipados e permitindo intervenções mais eficazes e oportunas.

Além de monitorar, os sensores poderiam futuramente acionar respostas automáticas, como ajustar a temperatura ou a luminosidade em estufas, aumentando a eficiência na gestão agrícola.

Os resultados podem representar um novo "idioma" químico pelo qual as plantas coordenam suas respostas ao ambiente, marcando um avanço significativo na nossa compreensão e capacidade de comunicação com o mundo vegetal.

O artigo dos cientistas tem o seguinte resumo:

"O aumento da exposição a tensões ambientais devido às alterações climáticas afectou negativamente o crescimento e a produtividade das plantas. Após o estresse, as plantas ativam uma cascata de sinalização, envolvendo múltiplas moléculas como H2O2 e hormônios vegetais como o ácido salicílico (SA), levando à resistência ou adaptação ao estresse. No entanto, a ordem temporal e a composição da cascata resultante permanecem em grande parte desconhecidas. Neste estudo desenvolvemos um nanosensor para SA e multiplexamos com nanosensor de H2O2 para monitoramento simultâneo de sinais de H2O2 e SA induzidos por estresse quando plantas de Brassica rapa subsp. Chinensis (Pak choi) foram submetidas a distintos tratamentos de estresse, nomeadamente luz, calor, estresse de patógenos e ferimentos mecânicos. Nanossensores relataram dinâmicas distintas e características de ondas temporais de geração de H2O2 e SA para cada estresse. Com base nesses insights temporais, formulamos um modelo cinético bioquímico que sugere que a forma de onda inicial do H2O2 codifica informações específicas para cada tipo de estresse. Estes resultados demonstram que a multiplexação de sensores pode revelar mecanismos de sinalização de estresse nas plantas, auxiliando no desenvolvimento de culturas resilientes ao clima e em diagnósticos de estresse pré-sintomáticos."

Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1038/s41467-024-47082-1

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