StoneX aponta recuperação do mercado global de cacau
Clima segue como fator-chave, mas safras mais favoráveis fora da África impulsionam superávit de 287 mil toneladas em 2025/26
O plantio da safra de arroz 2025/2026 já começou em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os dois principais estados produtores do grão no Brasil. No entanto, os primeiros meses deste novo ciclo ocorrem sob forte apreensão em toda a cadeia produtiva. Com estoques elevados, retração nas exportações, mudança nos hábitos alimentares da população e preços abaixo do custo de produção, a previsão é de mais um ano com dificuldades, tanto para os produtores quanto para as indústrias do setor.
Segundo dados da Epagri/Cepa, Santa Catarina terá uma área plantada de 143,4 mil hectares, o que representa uma redução de 1,30% em relação à safra anterior. A produção projetada também deve cair, chegando a 1,2 milhão de toneladas, uma queda de 6,14%. Para o engenheiro agrônomo Douglas George de Oliveira, coordenador estadual do Programa de Grãos da Epagri, o cenário reflete não apenas fatores climáticos e estruturais, mas também uma dificuldade crescente dos produtores em manter seus investimentos.
“Temos quase 2 mil hectares de perda. A redução não é alarmante, pois segue uma supersafra, mas o que preocupa é a menor capitalização dos produtores. Com a remuneração mais baixa, há menos investimento e isso impacta diretamente a produtividade”, explica Oliveira.
No município de Nova Veneza (SC), o produtor Claudionir Roman ilustra o dilema de milhares de agricultores da região. Com 120 hectares plantados e expectativa de colher entre 20 e 22 mil sacas, Roman relata que os preços atuais não cobrem os custos de produção. “Todo mundo está arriscando. Só que essa arriscada pode ser fatal lá na frente. Ninguém vê uma luz no fim de tudo. Esperamos que a situação melhore ou se mantenha, pois estamos sem esperança de conseguir pagar as contas. Vamos tentar nos equilibrar, mas sabemos que muitos vão ficar para trás. Se o preço não reagir, vem a quebradeira. Por isso, alguém tem que tomar alguma atitude”, desabafa.
A saca de arroz de 50 kg, que chegou a ser vendida a R$ 92 em fevereiro deste ano, hoje é comercializada a R$ 51. O preço ideal seria de R$ 75, no mínimo, para cobrir os custos básicos da produção.
Além do impacto sobre os agricultores, as indústrias orizícolas também estão enfrentando um dos momentos mais delicados dos últimos anos. Com estruturas complexas, alto número de empregos e custos operacionais elevados, o setor industrial está sendo diretamente afetado pela baixa valorização do grão.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz de Santa Catarina (SindArroz-SC), Walmir Rampinelli, o cenário atual do mercado tem gerado preocupação e desânimo no setor, que segue sem perspectivas de melhora nos preços até o próximo ano.
“Nós, das indústrias, estamos em busca de tratativas para aumentar a exportação. Mas o governo precisa fazer a sua parte, adquirindo, pelo menos, 1 milhão de toneladas para desafogar os estoques de passagem. Dessa forma, gradativamente o mercado poderá voltar ao patamar inicial. Ao mesmo tempo, estamos preocupados para que não ocorram demissões, que podem vir nos próximos meses, o que não queremos que aconteça. Estamos trabalhando para conseguir reerguer todo o nosso segmento, pois precisamos salvar essa cadeia”, afirma Rampinelli.
O cenário também se repete no Rio Grande do Sul, que responde por cerca de 70% da produção nacional. O estado ainda lida com os efeitos das enchentes de 2024, que causaram danos estruturais, perda de maquinário e erosão do solo agrícola, enquanto mantém a expectativa de plantio de 920 mil hectares para a safra atual.
Segundo o presidente do SindArroz-RS, Carlos Eduardo Borba Nunes, os efeitos das enchentes não comprometem a safra gaúcha em si, mas acentuam a fragilidade econômica do setor. “A situação no Rio Grande do Sul está tão difícil quanto em Santa Catarina, tanto para as indústrias quanto para o produtor. Nossas indústrias, assim como as de Santa Catarina, terão que se reinventar. Teremos que fazer uma engenharia para, pelo menos, ultrapassar dois anos com a possibilidade de rentabilidade muito próxima a zero, se não ficarmos no vermelho, inclusive. A situação da indústria já está difícil, vai ficar muito pior e será necessário ter capacidade para suportar dois anos trabalhando sem rentabilidade”, destaca.
Nunes ainda acrescenta que uma cobrança constante neste meio também está diretamente ligada aos governos estaduais do RS e SC. Conforme o presidente do SindArroz-RS, os Estados precisam contribuir para a competitividade das indústrias, equiparando os custos tributários aos do Paraná.
Além dos fatores internos, o setor também sofre pressão do mercado internacional. “O agravamento vem principalmente pelas duas últimas safras da Índia, que produziu 30 milhões de toneladas a mais por ano. Isso afetou o mercado mundial, deixando-o deprimido. Os preços de mercado hoje não viabilizam o produtor nem a indústria. Nós, da indústria, temos que estar conscientes de que esse problema vai se alongar no mínimo por dois anos, até o segundo semestre de 2027. Só aí pode ser que o preço comece a retomar,” projeta Nunes.
Diante do cenário, Rampinelli avalia que existe, mais do que nunca, a necessidade de mobilização conjunta, responsabilidade institucional e ação coordenada entre todos os elos da cadeia. “O que precisamos agora é de ação coordenada. A cadeia produtiva está fazendo a sua parte, mas o setor não vai resistir se continuar sozinho. É preciso sensibilidade por parte do governo e união entre os elos, da lavoura à indústria, para que possamos atravessar esse período crítico e preservar uma atividade que é essencial para a garantia da segurança alimentar do país”, pondera.
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