Rússia e Ucrânia representam 26% do comércio mundial de trigo e 59% da exportação global de óleo de girassol, aponta CIAL

Estudo mostra ainda que os preços do trigo atingiram o nível mais alto nos últimos 13 anos; empresas que dependem desses produtos passam a procurar potenciais fornecedores alternativos

22.03.2022 | 14:10 (UTC -3)
Vinicius Rodrigues Macedo
Estudo mostra ainda que os preços do trigo atingiram o nível mais alto nos últimos 13 anos; empresas que dependem desses produtos passam a procurar potenciais fornecedores alternativos. - Foto: Wenderson Araujo/CNA
Estudo mostra ainda que os preços do trigo atingiram o nível mais alto nos últimos 13 anos; empresas que dependem desses produtos passam a procurar potenciais fornecedores alternativos. - Foto: Wenderson Araujo/CNA

A Rússia e a Ucrânia são os maiores exportadores mundiais de mercadorias específicas. Exemplo disso é que, juntas, as duas nações representam 26% do comércio mundial de trigo e 59% das exportações globais de óleo de girassol. Os números foram divulgados em um relatório da CIAL Dun & Bradstreet, líder em plataformas e dados para gerenciamento de clientes e fornecedores. O estudo mostra ainda que os preços do trigo atingiram o nível mais alto nos últimos 13 anos.

O conflito entre os dois países pode ter efeitos devastadores sobre o abastecimento global. De acordo com o relatório especial “Crise entre a Rússia e a Ucrânia, implicações para o cenário econômico e empresarial mundial”, vários países têm uma alta dependência das exportações russas e ucranianas. O estudo considera que um país tem uma elevada dependência quando importa mais de 50% do total das suas importações de uma determinada mercadoria da Rússia e da Ucrânia.

Por essa definição, o levantamento indica 25 países que têm uma alta dependência para trigo, 24 países para carvão, 16 para gás natural e 10 para petróleo bruto. Muitas nações da União Europeia e países da Europa Oriental se enquadram nessas categorias.

Empresas sediadas no Brasil

O relatório revela que 2,4 mil empresas que dependem de fornecedores russos e ucranianos estão sediadas no Brasil.

Das 374 mil empresas em todo o mundo que dependem de fornecedores russos, 0,4% estão sediadas no Brasil, o que representa um universo de 1.496 empresas. A maior parte do total geral de empresas está sediada nos EUA (90,7%).

Da mesma forma, pelo menos 241 mil empresas do mundo dependem de fornecedores ucranianos, 964 delas em território brasileiro (0,4%). Desse total, mais de 93% delas também estão sediadas nos EUA.

De acordo com o levantamento, existem pelo menos 390 empresas em todo o mundo com fornecedores críticos na Rússia. Fornecedores críticos, conforme o relatório, são definidos como aqueles que fornecem bens e serviços de pelo menos 100 mil dólares e respondem por mais de 5% de todas as faturas.

Os cinco principais países que têm fornecedores críticos na Rússia são os EUA, China, Índia, Japão e Emirados Árabes Unidos. Existem pelo menos 210 empresas em todo o mundo com fornecedores críticos na Ucrânia. Os cinco principais países com maior exposição são os EUA, México, China, Brasil e Canadá.

O relatório divulgado pela CIAL D&B também traz dados sobre os impactos econômicos causados pela guerra entre os dois países, como a interrupção das cadeias de suprimentos de setores selecionados em países específicos, o impacto nos preços e a disponibilidade de commodities como gás natural, petróleo bruto, metal e commodities agrícolas.

“Nosso relatório aponta o nível de dependência por commodities da Rússia e da Ucrânia e os efeitos da interrupção da cadeia de suprimentos. Também analisamos possíveis cenários, como o impacto além da fronteira ucraniana para outras partes do mundo, o impacto das sanções e as prováveis contra-sanções da Rússia”, afirma Marcos Maciel, CEO da CIAL D&B no Brasil.

Fornecedores alternativos

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia ameaça agravar ainda mais as preocupações de abastecimento desses países. Para Marcos Maciel, essa situação já estava crítica devido às restrições da pandemia da Covid-19 e, agora com a guerra, tende a piorar fazendo com que as empresas que dependem desses produtos passem a procurar potenciais fornecedores alternativos.

O relatório indica quais são esses países e os produtos ofertados. O Brasil, inclusive, pode ser um fornecedor alternativo na exportação de milho, ferro, aço e minério de ferro.

“Existem 14.745 relações de fornecedores Tier 1 e 7,6 milhões Tier 2 com entidades russas em todo o mundo. Como resultado, estamos vendo os efeitos cascata das sanções dos EUA, Reino Unido e UE contra as empresas russas -- paralisando ainda mais uma cadeia de abastecimento global já enfraquecida”, explica Marcos Maciel.

De acordo com dados da CIAL, as empresas ucranianas obtêm bens e serviços de pelo menos 55 mil empresas localizadas em outros países. Cerca de 57% dessas empresas estão localizadas nos EUA, China, Índia, Alemanha e Reino Unido. Da mesma forma, as empresas russas obtêm bens e serviços de pelo menos 92 mil empresas localizadas em outros países. Cerca de 55% dessas empresas estão localizadas nos EUA, China, Índia, Alemanha e Reino Unido.

Indústrias impactadas

Segundo dados do relatório da CIAL, a Ucrânia tem mais de 1,5 milhão de empresas ativas. Os cinco principais setores que respondem por 80% de todas as empresas ativas na Ucrânia incluem serviços, comércio atacadista, construção, manufatura e agricultura.

"Juntos, o comércio atacadista, a manufatura e os setores agrícolas são responsáveis por mais de um terço de todas as empresas na Ucrânia. Essas empresas realizam comércio com outras empresas em todo o mundo e, como resultado, qualquer interrupção significativa em suas operações pode ter ramificações para a economia global", analisa Marcos Maciel.

Os dados indicam que a Rússia tem mais de 3,5 milhões de negócios ativos. Os cinco principais setores respondem por quase 80% de todas as empresas ativas na Rússia, incluindo serviços, comércio atacadista, finanças, seguros e imóveis, construção e comércio varejista.

A maioria dessas empresas, segundo o levantamento, poderia ser interrompida se outros países decidissem parar de realizar negócios com entidades russas ou a partir de ameaças à segurança cibernética.

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