Queimada traz prejuízo financeiro a usineiros, diz especialista

30.04.2009 | 20:59 (UTC -3)

A queimada da cana-de-açúcar traz problemas de saúde, tanto à população, quanto aos cortadores de cana. Além desse fator, já conhecido e discutido pelas autoridades, o processo gera prejuízo econômico ao usineiro. Esse fator, ainda pouco conhecido, diminui a empregabilidade e também traz uma perda energética considerável.

“A queimada não prejudica somente a qualidade do ar. Há uma perda energética equivalente a mais de sete mil litros de álcool combustível por hectare”, diz Aldo Roberto Ometto, professor doutor do Departamento de Engenharia de Produção da USP São Carlos. Outro ponto abordado pelo pesquisador, que estudou o ciclo de vida do álcool em seu doutoramento, é o impacto ambiental, quantificado na pesquisa.

No trabalho, concluído em 2005, e que levou o nome de “Avaliação do ciclo de vida do álcool etílico hidratado combustível pelos métodos EDIP, exergia e emergia”, Ometto abordou quatro pontos da produção: o agrícola, o industrial, o transporte e o uso. Em todos eles, o pesquisador conseguiu apontar perdas significativas devido a uma prática cristalizada dos produtores.

Na fase agrícola Ometto afirma que a queimada da cana elimina a palha, uma matéria orgânica que ajudaria o solo, bem como perda energética.“Queimando a cana, perde-se também sacarose [açúcar produzido pelas plantas]”, explica. Com menos sacarose, a quantidade de açúcar e álcool é diminuída.

Por sua vez, a etapa industrial gera um consumo excessivo de água, uma vez que a cana queimada passa por um processo de lavagem. Além disso, a vinhaça poderia gerar um biocomposto e, junto com outros resíduos, melhorando sua aplicabilidade que não sua aplicação in natura.

No que diz respeito a parte econômica, além da maior produtividade, haveria benefícios sociais. “Se não existisse a queimada, haveria uma demanda para a criação de empregos 50% maior, mantendo a produtividade do corte queimado manual”, comenta Ometto. Isso se deve ao número de áreas onde as máquinas não conseguem trabalhar – aproximadamente 50% do solo dedicado à cultura no Brasil– e também à necessidade de mais pessoas para cortar a cana crua manualmente (seria necessário a contratação do triplo de pessoas para o trabalho, bem como um pagamento diferenciado e utilização de equipamentos de proteção adequados à atividade).

A melhoria ecológica da produção de cana pode trazer um aumento na lucratividade das usinas. “Não param de surgir oportunidades, visto que se reduz a quantidade de uso de herbicida, mantém-se a umidade do solo, incorpora-se matéria-orgânica, pode ser gerado mais energia, mas ainda são poucos os que enxergaram que um benefício ecológico aumenta a produtividade”, defende o professor.

Um dos caminhos apontados por ele é a sustentabilidade da fazenda integrada à indústria. Nesse sentido, Ometto é integrante de um projeta que tem por objetivo difundir esse novo meio de uso do solo: o Projeto Geração de Energia Renovável Integrada à Produção de Alimentos (Geripa). Desenvolvido dentro da USP São Carlos, ele tem como coordenadores os professores Romeu Corsini e Geraldo Lombardi.

O modelo oferecido pelo Geripa, segundo o professor, é o mais rentável, ecologicamente mais adequado e socialmente mais justo que o modelo tradicional. Além disso, ele traz mais alternativas ao produtor rural, através da produção de matérias-primas, como o sorgo sacarino, gado e alimentos. Com esses materiais não há a necessidade de comprar outros produtos, uma vez que a fazenda, na entressafra, conseguirá obter os materiais necessários ao plantio e a usina poderá trabalhar até 11 meses ao ano.

Uma das principais dificuldades para essa mudança é cultural, o que impede a melhoria da sustentabilidade do setor “Há uma cultura do produtor de cana já cristalizada, que tem na colheita queimada um método como padrão, infelizmente”, finaliza Ometto.

Michel Lacombe

Portal RIPA

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