Proteína vegetal CB5LP pode revolucionar herbicidas

Estudo identifica uma nova proteína exclusiva de plantas, essencial para a biossíntese de fitoesteróis

16.09.2025 | 14:58 (UTC -3)
Revista Cultivar
Biólogos do Laboratório Brookhaven modificaram plantas de <i>Arabidopsis</i> para produzir menos proteína semelhante ao citocromo b5 (CB5LP). Com duas semanas de idade, as plantas mutantes CB5LP (circuladas em magenta) eram visivelmente menores do que suas contrapartes selvagens, indicando que a CB5LP é essencial para o crescimento e desenvolvimento típicos das plantas - Imagem: Laboratório Nacional Brookhaven
Biólogos do Laboratório Brookhaven modificaram plantas de Arabidopsis para produzir menos proteína semelhante ao citocromo b5 (CB5LP). Com duas semanas de idade, as plantas mutantes CB5LP (circuladas em magenta) eram visivelmente menores do que suas contrapartes selvagens, indicando que a CB5LP é essencial para o crescimento e desenvolvimento típicos das plantas - Imagem: Laboratório Nacional Brookhaven

Equipe de pesquisadores do Brookhaven National Laboratory, dos Estados Unidos, identificou proteína essencial para a biossíntese de fitoesteróis em plantas. Denominada CB5LP, essa proteína do tipo citocromo b5 é exclusiva do reino vegetal. Seu estudo demonstrou que a ausência da CB5LP causa defeitos graves no desenvolvimento do embrião e letalidade nas plântulas de Arabidopsis thaliana.

A descoberta coloca a CB5LP no centro de um processo bioquímico vital: a desmetilação em C-14, etapa essencial da rota dos esteróis vegetais. Essa etapa é catalisada pela enzima CYP51A2, uma citocromo P450 que necessita de elétrons para funcionar. A CB5LP é agora reconhecida como o doador de elétrons exclusivo dessa reação em plantas, papel anteriormente atribuído a proteínas canônicas da mesma família.

Perda da CB5LP

Os pesquisadores demonstraram que a perda da CB5LP compromete a atividade da CYP51A2, provocando o acúmulo de compostos intermediários como o obtusifoliol e a queda na produção de fitoesteróis como o estigmasterol e o sitosterol. Esses fitoesteróis participam da estrutura e fluidez da membrana celular e atuam como precursores de hormônios vegetais.

Experimentos conduzidos com mutantes e linhagens transgênicas de Arabidopsis mostraram que a atividade eletrônica da CB5LP é indispensável. Uma variante com mutações nos dois resíduos de histidina essenciais para ligação ao grupo heme não conseguiu restaurar o crescimento das plântulas. Em contraste, a reintrodução da proteína funcional reverteu os sintomas de letalidade.

A CB5LP apresenta uma topologia inversa em relação aos citocromos b5 clássicos. Enquanto as demais proteínas da família possuem domínio transmembrana na extremidade C-terminal, a CB5LP posiciona esse domínio na região N-terminal. A configuração estrutural não altera sua função de transporte eletrônico, mas destaca sua origem evolutiva distinta.

Pesquisadores do Laboratório Brookhaven: Lijun Qiao, Xianhai Zhao, John Shanklin e Chang-Jun Liu - Foto: David Rahner
Pesquisadores do Laboratório Brookhaven: Lijun Qiao, Xianhai Zhao, John Shanklin e Chang-Jun Liu - Foto: David Rahner

Proteína vegetal

Análises filogenéticas revelaram que proteínas semelhantes à CB5LP ocorrem exclusivamente em vegetais, desde algas vermelhas até angiospermas, e não estão presentes em fungos ou animais. Essa distribuição sugere que a CB5LP representa uma forma ancestral de citocromo b5 que evoluiu especificamente nas linhagens vegetais.

A associação física entre CB5LP e CYP51A2 foi confirmada por ensaios de biotinilação com a enzima TurboID e também por sistemas de marcação proteica baseados em pupilação bacteriana. Ambos indicaram uma interação espacial próxima entre as duas proteínas na membrana do retículo endoplasmático, onde ocorre a biossíntese de esteróis.

Em experimentos in vitro, a coexpressão de CB5LP e CYP51A2 em leveduras aumentou significativamente a conversão do substrato obtusifoliol em produtos desmetilados, desde que o sistema recebesse elétrons de NADPH. A eficiência da CB5LP como transportadora de elétrons mostrou-se superior ao seu mutante inativo.

Estudos comparativos

Estudos comparativos com outros componentes das cadeias de transferência eletrônica, como as redutases ATR1, ATR2 e CBR1, revelaram que sua contribuição varia conforme o tecido analisado. Nas sementes, CBR1 e ATR1 parecem cooperar com CB5LP. Nas plântulas, ATR1 e ATR2 desempenham papel mais ativo. Os citocromos b5 canônicos não participam da reação catalisada pela CYP51A2, reforçando a especificidade funcional da CB5LP.

A ausência de CB5LP também afetou a biossíntese de glucosinolatos, compostos relacionados à defesa contra herbívoros. Não houve alteração significativa na composição de ácidos graxos ou fenólicos. Porém, essas mudanças metabólicas secundárias não explicam a letalidade observada, reforçando que o papel principal da CB5LP reside na rota dos fitoesteróis.

Desenvolvimento de herbicidas

Os resultados indicam que a CB5LP é uma proteína de função essencial em plantas superiores, com atuação direta na biossíntese de esteróis por meio da ativação da enzima CYP51A2. Sua ausência leva a defeitos no desenvolvimento embrionário e morte das plântulas.

Por ser exclusiva de plantas, a CB5LP surge como alvo promissor para o desenvolvimento de herbicidas seletivos. A inibição específica dessa proteína pode bloquear a rota dos esteróis em ervas daninhas sem afetar organismos não vegetais. Essa abordagem pode representar uma nova geração de agroquímicos mais eficientes e com menor impacto ambiental.

Outras informações em doi.org/10.1126/sciadv.ady1719

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