Trigo e cevada poderão ter produção acima da expectativa no RS
A área de cultivo do trigo alcançou 1.458.026 hectares no Estado
Promover a troca de informações e analisar as tendências e os desafios do mercado foram os principais temas abordados na 7ª edição do Encontro da Cadeia Produtiva do Trigo, realizado pelo Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), que reuniu representantes da indústria de moagem, da panificação, da alimentação, produtores, cooperativas e empresas de insumos na manhã de hoje, 11 de novembro, na Fiesp, em São Paulo (SP).
O evento, que tem como principal objetivo integrar o setor produtivo e promover o conhecimento, abordou em quatro painéis o cenário econômico atual, as tendências da cadeia do trigo e o panorama dos mercados consumidores do cereal, além de painéis técnicos sobre a conjuntura mercadológica e inovações.
Para o Presidente do Sindustrigo, Amedeo de San Marzano, o evento se mostrou muito positivo. “Debatemos temas de relevância para o nosso setor, além de promovermos a troca de informações e experiências entre todos os elos da cadeia, proporcionando assim um panorama do nosso mercado e auxiliando a todos nas tomadas de decisão para os próximos meses”.
San Marzano destacou ainda como o setor é dinâmico e unido, citando a Câmara Setorial do Trigo, as atividades do Sindustrigo, assim como a presença de representantes de outras entidades que representam a cadeia produtiva, do produtor ao consumidor final.
A programação teve início com o panorama sobre “Cenário Econômico”, ministrado pelo Economista-Chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita. O economista iniciou o painel trazendo a macroeconomia ao centro do debate, com informações do contexto internacional e os impactos que os mercados americano, europeu e chinês têm sofrido em razão dos efeitos colaterais da pandemia de Covid-19, além da problemática do conflito entre Ucrânia e Rússia.
A consequência desse cenário refletiu em um processo inflacionário global. “A inflação americana decolou. Em setembro, ela surpreendeu e os juros subiram 5,5%, um percentual raro na história da economia americana”, comentou.
Neste ambiente de alta dos juros, o dólar estende o ciclo de força e, hoje, em um dos patamares mais fortes, não tem sinal de reversão, rompendo a paridade do euro. Segundo o economista, a China apresenta sinais modestos de melhora em suas atividades, mas ainda há desafios nos setores imobiliário e de serviços.
Ainda sobre o Brasil, o economista trouxe a evolução de 2,5% do PIB em 2022, mas com previsão de crescimento em torno de 0,5% para o próximo ano. Sobre a inflação, assim como o resto do mundo, o país também foi atingido. “No entanto, a inflação do Brasil tem recuado, mas só deve cair na segunda metade do próximo ano”, finalizou.
O painel “Conjuntura Mercadológica do Trigo” trouxe o Consultor em Gestão de Risco da StoneX, Fábio Lima, que compartilhou sobre o panorama de mercado do cereal. Na esteira do primeiro painel, o cenário para o trigo apresenta alguns desafios. Para o consultor, os preços do cereal estão altos e o setor tem “condenado” a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
No entanto, para Lima, a geopolítica ainda traz incertezas para o setor, dada a concentração da produção de trigo no Mar Negro, mas não é apenas o conflito que resultará em desafios para o setor. O consultor trouxe à lembrança do “primeiro choque” para o setor, em 2020, quando a China dobrou o mercado de importações. E, em 2021, com a “quebra” do Hemisfério Norte, o setor de desestabilizou e, atualmente, a guerra também tem contribuído para essa conjuntura desafiante.
“Foram uma série de acontecimentos ao longo dos anos. Mas, sobre a guerra, devemos ter esse legado de reorganização geopolítica. Vamos levar, para o próximo ano, dúvidas sobre quais países poderemos fazer negócios. Não há como ficarmos fazendo os mesmos negócios como temos feito há 20 anos”, pontuou.
Diante disso, o especialista prevê que a guerra deve continuar afetando toda a cadeia de suprimentos. “Como outros desafios esperados também temos oferta apertada, de estoques muito baixos, além de o custo de produção, que será muito alto, não só no Brasil, mas no mundo todo”, afirmou.
No entanto, para Lima, os preços podem cair se houver garantia da exportação do Mar Negro, se a Rússia reduzir a taxa de exportação. Lima salientou ainda que a recessão e a inflação devem afetar o consumo de bens duráveis e não comida.
Em números, para o Brasil, o consultor informou que a estimativa da StoneX, em relação à produção – safra 2022/23 – será de 10.6 milhões de toneladas do cereal.
A química responsável pela área de Pesquisa & Desenvolvimento da Bakery da Prozyn Biosolutions, Karoline Dornella, trouxe uma pesquisa realizada pela Euromonitor. “Precisamos entender o que o consumidor quer, privilegiando o seu pertencimento, informação, saudabilidade, indulgência, experiência e praticidade”, disse. “A exigência é cada vez maior por produtos 100% naturais, sem conservantes e sem açúcar. O consumidor quer manter o poder de escolha, com informação. As empresas precisam entender o porquê da escolha de uma marca e não de outra”, ressaltou.
Para Karoline, melhoria e conhecimento sobre os ingredientes e processos, aliados a uma comunicação transparente, favorecem o desenvolvimento do mercado. “A escolha do consumidor passa por saber se aquele produto é sustentável, inclusive do ponto de vista da embalagem, com informações mais objetivas, deixando clara a inclusão de aditivos, ou até mesmo a ausência destes, dentro do conceito ‘menos é mais’, muito valorizado atualmente”, afirmou.
Ela abordou também como trazer este apelo para as farinhas de trigo. “Em nossa linha clean label, por exemplo, baseamos em enzimas de maciez para frescor, livres de ADA e emulsificantes, para pães crocantes e macios, a adoção de farinha para pão caseiro, com o apelo da exclusão de aditivos”. O mercado para as padarias também foi destacado. “É importante avaliar o uso de farinha para mistura clean label com foco em produção própria, com a possibilidade de agregar massa madre na indústria visando a inovação”, complementou.
Já durante o painel "Panorama dos Mercados consumidores", contou com a participação do Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) e do Sindicato das Indústrias de Biscoitos e Massas Alimentícias no Estado de São Paulo (Simabesp), Cláudio Zanão, do Diretor do Sindicato dos Industriais de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sampapão), Eduardo Gamboa, e do CEO da Food Consulting, Sério Molinari.
Cláudio Zanão apresentou o mercado de massas, pães e biscoitos, que atinge a cifra de R$ 50,4 bilhões de valor anualmente, com grande representatividade de atuação em toda a cadeia de valor, atingindo número de R$ 4,8 milhões de toneladas em vendas a cada ano. “Mas temos um grande desafio envolvendo a quebra de paradigmas para aumentar a frequência semanal de consumo de nossos produtos”, explicou.
No pós-pandemia, o mercado, segundo Zanão, verificou a intensificação no consumo dentro de casa e a não retomada fora do lar. “A retomada do consumo é desafiada pela menor frequência e volume por ocasião”, detalhou.
Na sequência, Eduardo Gamboa destacou a contribuição dos moinhos para as padarias frente ao cenário macroeconômico. As padarias, segundo ele, atendem a diversos públicos em suas mais variadas necessidades em todas as horas do dia. “Atualmente existem 87 mil padarias no Brasil e 22 mil em SP. No Brasil, elas faturam R$ 106 bilhões, sendo R$ 40 bi somente em SP”, destacou. “São 920 mil empregos diretos no Brasil e 330 mil em SP, com 1,6 milhão de empregos indiretos no país e 560 mil em SP”, ressaltou.
Finalizando o Encontro da Cadeia Produtiva do Trigo de São Paulo, o programa setorial do foodservice foi apresentado por Sério Molinari. Ele destacou que na trajetória de recuperação, o foodservice movimentou perto de R$ 177 bilhões em mercadorias em 2021. “O Brasil é o 5º maior mercado do mundo e qualquer ganho de renda e aumento no poder aquisitivo impulsiona muito nosso mercado”, destacou. “É importante avaliar que saímos da pior década de Produto Interno Bruto per capita em 100 anos. Nunca existiram duas décadas seguidas em queda e essa é, com certeza, uma década de crescimento”, afirmou.
De acordo com Molinari, o movimento do foodservice no Brasil caracteriza-se por uma atividade econômica que gera emprego e renda. “Apesar de ainda inferior a anos passados, o rendimento médio do trabalhador também vem em recuperação”, disse. “Além disso, o pico de inflação nos preços de alimentos já passou e mantém seu movimento de queda”.
Molinari apresentou o dado que aponta a previsão de crescimento de 5% no mercado foodservice em 2023, acima do que se previa. “O desafio para o segmento é fazer melhor do que os seus 'pares' para ganhar mercado, afinal, poucas empresas estão preparadas para este aumento”, disse.
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