Programas para comercialização e escoamento do milho devem priorizar menor distância entre oferta e demanda, defende Aiba

31.05.2012 | 20:59 (UTC -3)
Catarina Guedes

Fortalecer os pólos produtivos próximos às zonas de consumo, dotando-os de infraestrutura de armazenagem e logística, é a opção mais viável para a sustentabilidade econômica da cultura do milho no Brasil. Esta é a base da argumentação da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e de produtores de outros estados representados na reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Milho e Sorgo do Ministério da Agricultura, que aconteceu durante toda a manhã desta quinta-feira (31) no Auditório 1 da Bahia Farm Show, a maior feira de tecnologia e negócios agrícolas do Norte-Nordeste, que prossegue até sábado (2), em Luís Eduardo Magalhães, a 900km da capital Salvador.

A Reunião Ordinária foi comandada pelo presidente da Câmara e também da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho. Esta é a segunda vez consecutiva que o encontro dos representantes de todos os elos da cadeia produtiva do grão acontece na Bahia Farm Show. Estiveram presentes, entre outros, o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli e o ex-ministro dos Transportes, Odacir Klein.

Na oportunidade, o vice-presidente da Aiba, Sérgio Pitt, reforçou o pleito dos produtores do Oeste pela construção de uma estrutura de armazenagem na região. “A logística é muito difícil e cara no percurso até a estrutura da Conab em Salvador e a grande produção de grãos da Bahia se dá no Oeste, que colherá 7 milhões de toneladas nesta safra. Se existe expansão a nível nacional prevista para o sistema de armazenagem da Conab, a prioridade deve ser aqui”, defendeu Sérgio Pitt. Nesta safra, a área plantada com milho no Oeste da Bahia cresceu 60%, com produção de 2,3 milhões de toneladas.

“Não tenho dúvida de que o argumento da Aiba é válido. E a iniciativa privada está disposta a investir, assim como investiu em tecnologia, em logística. Porém, para isso é preciso políticas públicas”, disse Alysson Paolinelli.

Até 2012, a quase totalidade desta produção ficava no Nordeste, onde abastece as granjas de aves e suínos, e também a indústria de produtos para o consumo humano. Este ano, pela primeira vez em sua história, o Oeste da Bahia começou a exportar o excedente da produção para o mercado externo, o que contribuiu para sustentação do preço da commodity.

De acordo com a Aiba, ao longo dos anos, as estratégias de comercialização e escoamento do Governo Federal priorizavam o milho do Centro Oeste para atender à demanda do Nordeste. Em diversos momentos, foi preciso a intervenção do Governo Federal com programas de subvenção para a comercialização e escoamento da safra do cerrado da Bahia. Os produtores queixavam-se de ver os caminhões de milho do Centro-Oeste passando pela porteira das fazendas rumo aos compradores do Nordeste.

“O Nordeste hoje já é autossuficiente, e tem excedente para exportar. O escoamento era feito em uma ordem que não era economicamente viável”, explica Pitt. A primeira exportação da região contabilizou 195 mil toneladas, que foram negociadas com as tradings com a intervenção inicial da Aiba. “A liquidação da exportação está garantindo um valor equivalente ao preço mínimo estipulado pelo Governo Federal”.

A queixa da necessidade por parte do Governo Federal de levar em consideração a menor distância entre a oferta e a demanda não se restringe aos produtores baianos. De acordo com Altaír Fianco, presidente da Aprosoja do Piauí, para transportar o milho de Sinop, no Mato Grosso, até Fortaleza, no Ceará, que é um grande comprador, o milho tem de percorrer 4.000 km.

“Para transportar as 38 toneladas, equivalentes ao um caminhão bitren (633 sacas), consome-se 5,5 litros de óleo diesel por saca transportada. O cidadão pensa que está comendo um frango, quando na verdade está bebendo combustível. O Brasil é o maior exportador de frango do mundo. Para muitos mercados, uma informação como esta é motivo de restrição do consumo”, alertou o produtor piauiense.

Dados apresentados na reunião da Câmara Setorial na manhã desta quinta-feira (31) na Bahia Farm Show apontam que o Brasil vai produzir nessa safra 66 milhões de toneladas de milho. O crescimento da produção brasileira foi em parte motivado pelas quebras que os EUA vêm registrado nas três últimas safras. Este ano, contudo, os americanos devem recuperar as 7 milhões de toneladas que perderam na safra passada, colhendo um total de 375 milhões de toneladas, recorde que recompõe os estoques americanos e os recolocam na exportação.

Segundo o analista de mercado da Conab que explanou sobre o cenário global para o milho durante a reunião, Thomé Guth, o mundo está consumindo mais proteína animal, resultado da melhoria da renda da população. Países emergentes como China, Índia, e o próprio Brasil, demandam mais matérias-primas para ração. Prevê-se que a China vai chegar a consumir 15 milhões de toneladas de milho importado por ano, aproximando-se do Japão, que consome de 14 a 16 milhões. “Eles começam a olhar para o Brasil”, afirmou.

Para o ex-ministro Odacir Klein, é importante que as reuniões da Câmara Setorial aconteçam também fora de Brasília. “Isso a aproxima das realidades regionais”. Ele elogiou ainda a atuação da Aiba. “É uma instituição organizada, que reivindica politicamente com muito embasamento”, afirmou.

A Bahia Farm Show é uma realização da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), em parceria com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Associação das Revendas de Máquinas e Implementos Agrícolas do Oeste da Bahia (Assomiba), Fundação Bahia e Prefeitura Municipal de Luís Eduardo Magalhães.

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