Programa Cana IAC valida eficiência de biológicos no campo

Experimentos com nematicidas e inseticidas mostram eficiência de microrganismos

05.08.2025 | 17:07 (UTC -3)
Carla Gomes

O Programa Cana IAC, do Instituto Agronômico de Campinas (SP), desenvolveu uma série de experimentos com nematicidas e inseticidas biológicos em cana-de-açúcar. Foram feitas avaliações de diferentes produtos, em diversos modos de aplicação e as respectivas respostas obtidas.

Dentre os resultados, destacam-se a eficiência de micro-organismos de uso relativamente novo na canavicultura, como o fungo Cordyceps para controle de cigarrinha-da-cana e a microvepsa Tetrastichus no controle da broca-da-cana. O IAC é a instituição que mais avalia o uso de nematicidas biológicos no manejo de cana no Brasil e compartilha essas informações com o setor sucronergético.

“Sobre os resultados dessas tecnologias mais recentes, de modo geral, as reduções populacionais de broca foram significativas, os índices de intensidade de infestação caíram para menos da metade da área não tratada”, afirma a pesquisadora do IAC, da Diretoria de Pesquisa dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Atualmente, os nematicidas biológicos respondem por cerca de 80% de toda a área da canavicultura no Brasil tratada com estes produtos, segundo a cientista. Trata-se de uma tecnologia bastante adotada pelos canavicultores brasileiros e em poucos anos superou o uso de nematicidas químicos”, comenta.

Além dos nematoides, outras pragas também são combatidas com alta eficiência

biológica. A cigarrinha-da-cana é controlada com o inovador Cordyceps fumosorosea, testado recentemente em estudos conduzidos pelo IAC, que avalia o efeito deste fungo para o controle desta praga que afeta raízes e colmos da cana e pode provocar perdas de até 60% na produtividade. Esta tecnologia recente destaca-se por sua eficiência ao parasitar adultos e ninfas de cigarrinha, diminuindo suas populações. O IAC também segue avaliando fungos de uso tradicional, como Metarhizium anisopliae.  

Já para a broca-da-cana, o Instituto estuda Tetrastichus howardi, microvespa que parasita lagartas e pupas de broca-da-cana, causando-lhes a morte. Apesar de sua adoção na cana ser recente, vem mostrando resultados promissores frente a uma das pragas mais destrutivas dos canaviais e que afeta a produtividade e a qualidade de colmos para a indústria. Somado a essas análises está o uso tradicional de microvespas parasitoides como Cotesia flavipes e Trichogramma galloi.  

De acordo com a cientista, os nematicidas biológicos são constituídos por várias espécies de Bacillus ou por fungos que parasitam nematoides. Muitos produtos são misturas de várias espécies de bacilos ou destes com fungos, resultando em diversos tipos de proteção natural contra pragas.  

Há diferentes modalidades de aplicação dos diversos produtos biológicos. O manejo depende da praga e do produto recomendado. O IAC avalia a maioria das opções em experimentos que envolvem aplicações tanto em cana-planta - a primeira originária do plantio -, como em cana-soca - fruto da rebrota após o primeiro corte.

Esses estudos são desenvolvidos em parceria com o DMLab, usinas e outras empresas do segmento.

Nematoides entomopatogênicos combatem bicudo-da-cana-de-açúcar

Para o controle biológico do bicudo-da-cana-de-açúcar - Sphenophorus levis -, outra vertente é o uso de nematoides entomopatogênicos, vermes microscópicos que vivem no solo e têm a capacidade de infectar e matar insetos.

Essa tecnologia ressurgiu após a chegada de novas cepas importadas, hoje testadas em diferentes condições de campo pelo IAC para avaliar a viabilidade desses nematoides aplicados com a vinhaça, além de outros para definir qual a umidade mínima do solo necessária para o bom desempenho desses organismos. Uma série de ensaios avalia a efetividade desses nematoides entomopatogênicos para controle de pragas de solo, especialmente Sphenophorus levis.

No Brasil, o primeiro trabalho envolvendo controle biológico de pragas por esses nematoides entomopatogênicos, ainda na década de 1990, foi desenvolvido por Leila Luci Dinardo-Miranda, que na ocasião trabalhou com Migdolus fryanus, outra importante praga conhecida como broca-do-rizoma da cana.

Escolha por produtos biológicos ou químicos depende do contexto

A relação custo-benefício do controle biológico na canavicultura varia muito dependendo do produto adotado. “Há produtos biológicos que são mais baratos do que os correspondentes químicos e vice-versa e os preços variam bastante”, diz a pesquisadora que há décadas integra diferentes soluções em manejo de pragas.

Há também uma grande variação de resposta. “Dependendo da praga e da situação, pode ser mais adequado usar o biológico ou o químico e - em alguns casos - pode ser indicado usá-los conjuntamente no manejo. Muitas vezes, eles se complementam”, afirma. Ela explica que nem sempre essas ferramentas são utilizadas isoladamente. Em geral, elas integram um grande programa de manejo integrado de pragas.

Do estado de São Paulo ao Centro-Oeste, o trabalho do Programa Cana IAC tem contribuído diretamente para a adoção de práticas mais sustentáveis, que reduzem a dependência de insumos químicos e promovem maior equilíbrio ecológico nas lavouras.

“O setor sucroenergético é extremamente receptivo ao controle biológico. Quando uma nova ferramenta é validada, há um esforço imediato para testar, adaptar e implementar em larga escala”, diz a pesquisadora do Programa Cana IAC que conduz experimentos em usinas no estado de São Paulo e em todo o Centro-Sul do Brasil.

Controle biológico de cigarrinha e de broca é feito há anos

Para a cigarrinha - inseto ataca as raízes da planta, na fase de ninfa, e as folhas, quando adulto -, o controle biológico é feito, basicamente, à base de fungos que são aplicados na época chuvosa. O Metarhizium anisople é um fungo usado há quase três décadas e no Nordeste este uso tem ainda mais tempo. Porém, nos últimos anos outros fungos estão sendo utilizados também para controle de cigarrinha.

Para controlar a broca-da-cana, atualmente há outros parasitoides de ovos e de lagartas que estão sendo estudados no IAC. É o caso do Tetrastichus howardi, que atua na fase de lagarta e pupa (fase intermediária entre a lagarta e o inseto adulto). Um parasitoide de lagartas muito tradicional é a Cotesia flavipes, usado desde o final da década de 70. Essa vespa é liberada nos canaviais para parasitar as larvas da broca, interrompendo seu ciclo de vida e reduzindo os danos à cultura.  Há também o Trichogramma galloi, parasitoide de ovos que age de forma preventiva, reduzindo rapidamente a população da praga.

A pesquisadora ressalta que esses recursos biológicos podem ser usados em conjunto entre si ou ainda aliados a produtos químicos. 

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