Polissacarídeo de folha de tabaco mostra forte ação contra o TMV

Pesquisadores extraem substância natural de resíduos da indústria fumageira com potencial para substituir pesticidas sintéticos

08.05.2025 | 14:51 (UTC -3)
Revista Cultivar

Substância extraída de folhas de tabaco descartadas apresentou efeitos contra o vírus do mosaico do tabaco (TMV), uma das viroses mais destrutivas para culturas agrícolas. Pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia de Kunming e da Companhia de Tabaco de Yunnan isolaram um polissacarídeo com estrutura definida e propriedades antivirais que superam pesticidas comerciais.

A descoberta transforma um problema ambiental em solução agronômica. Estima-se que 25% das folhas de tabaco produzidas na China sejam descartadas, resultando em mais de 2 milhões de toneladas de resíduo anual. Esse descarte, geralmente queimado ou empilhado, contribui para a poluição.

Ao reaproveitar esse material, os cientistas demonstraram que as folhas possuem alto teor de polissacarídeos — até 20% da composição —, um potencial pouco explorado na proteção de plantas.

O polissacarídeo purificado, denominado DTP, possui massa molecular de 3061 Da e cadeia composta principalmente por galactose, glicose, ácido galacturônico e ácido glicurônico. A extração foi otimizada com uso de água quente e precipitação alcoólica, atingindo rendimento de 21,11% em condições de 3,5 horas de extração, a 90 °C, com razão sólido-líquido de 1:45.

Em testes de eficácia, DTP demonstrou ação protetora e inativadora contra o TMV com taxas de inibição superiores a 76%. Essa atividade superou a do agente químico ningnanmicina, referência no mercado chinês. Além disso, o DTP interferiu diretamente na autoagregação das proteínas de revestimento do vírus, impedindo a montagem da estrutura viral. Ao ser aplicado nas folhas, fragmentou as partículas virais e limitou sua multiplicação.

O composto também ativou mecanismos de defesa das plantas. Aumentou a produção de enzimas antioxidantes como superóxido dismutase (1,83 vezes), catalase (2,73), peroxidase (3,69) e fenilalanina amônia-liase (4,84). Esses aumentos indicam ativação de resistência sistêmica adquirida, com acúmulo de peróxido de hidrogênio e resposta de hipersensibilidade — uma barreira eficaz contra a disseminação do vírus nos tecidos vegetais.

A ação do DTP mostrou-se especialmente relevante nos primeiros sete dias após a aplicação, com redução gradual da atividade viral e normalização dos níveis de estresse oxidativo até o 13º dia. O efeito prolongado sugere que o polissacarídeo pode funcionar como um indutor de resistência duradouro, além de apresentar baixa toxicidade e ser biodegradável.

Do ponto de vista estrutural, o DTP revelou configuração mista de ligações α- e β-glicosídicas, com ramificações que favorecem sua interação com patógenos e células vegetais. Essa complexidade contribui para sua capacidade de bloquear a infecção e estimular respostas imunes na planta.

Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1016/j.pestbp.2025.106443

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