Pesquisas sobre modelagem, manejo integrado de pragas e avaliação toxicológica são apresentados a alunos da Unifesp

19.03.2013 | 20:59 (UTC -3)
Fonte: Embrapa Meio Ambiente

A pesquisadora Maria Conceição Pessoa abordou o uso de técnicas de modelagem e de simulação de sistemas em processos agroambientais. Entre elas, as utilizadas no acompanhamento de dinâmica de princípios ativos de defensivos aplicados em diferentes tipos de solos em região de cultivo de cana-de-açúcar na área de afloramento do Aquífero Guarani em Ribeirão Preto (incluindo aplicações da técnica de simulação de sistemas integrada à Sistema de Informação Geográfica para estimativas regionais de pontos de coleta dos princípios ativos com maior implicação para a qualidade da água subterrânea) com resultados provenientes de projetos realizados em Ribeirão Preto/SP.

Pessoa também falou sobre as aplicações de simulação, resultantes de estudos realizados pelo projeto em rede Agrogases e pelo projeto Carboagro, no acompanhamento da dinâmica de emissão sazonal de metano em cultivo de arroz irrigado por inundação em Pindamonhangaba/SP. Esses estudos possibilitaram a calibração e a validação do simulador Denitrification-Decomposition (DNDC) para estimativas de metano, gás de efeito estufa, considerando manejo adotado e fatores abióticos locais, para subsidiar futuras estratégias de mitigação.

Além disso, apresentou o uso de modelos matemáticos Screening, fundamentados em índices e em inequações matemáticas reconhecidas internacionalmente, utilizados na avaliação do potencial de lixiviação de defensivos e/ou de identificação de matrizes (sedimento ou água) onde tenham maior potencial de estarem presentes em função das características físico-químicas dos produtos aplicados e do local de aplicação -com resultados do Projeto Uso agrícola das áreas de afloramento do Aquífero Botucatu e implicações na qualidade da água subterrânea.

Outro tópico abordado por Pessoa foram as aplicações de modelagem matemática e simulação computacional na avaliação do uso de estratégias de controle (químico ou biológico) em propostas de manejo integrado de pragas, considerando a influência de fatores abioticos locais no desenvolvimento da planta hospedeira, no desenvolvimento dos insetos (praga e bioagente) e na eficiência da aplicação do defensivo. Apresentou, como exemplo, o estudo de caso do bicudo do algodoeiro controlado por inseticida seletivo de contato ou pelo parasitóide Bracon vulgaris, no contexto de uma das propostas de manejo integrado de pragas (MIP) para a região de Campinas/SP.

Discutiu também aplicações de modelagem matemática e simulação de sistemas para a avaliação de estratégias de criação de insetos visando biocontrole de pragas exóticas florestais, como no caso do psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei) controlado por Psyllaephagus bliteus e do percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus) controlado por Cleruchoides noakae, abordadas nas ações do projeto de cooperação técnica do Laboratório de Quarentena Costa Lima da Embrapa Meio Ambiente com o Programa de Proteção Florestal do Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais.

Aplicações de modelos matemáticos empíricos em aquicultura, mais especificamente na determinação da quantidade de ração de tilápia em função da temperatura local, também foi apresentada como resultado proveniente do Projeto Manejo e Gestão Ambiental da Aquicultura, componente do Projeto em Rede Aquabrasil.

O pesquisador Luiz Alexandre Sá discutiu o tema controle de pragas, doenças e plantas invasoras, referindo-se ao controle biológico clássico de pragas e o sistema quarentenário de agentes de biocontrole no país, baseado no intercâmbio de inimigos naturais que podem ser parasitóides, parasitos, predadores e entomopatôgenos, de uma região a outra e/ou entre diferentes países.

Conforme o pesquisador, “A introdução de espécies exóticas que se tornam pragas tem sido um problema crescente para a agricultura, saúde e ambiente no âmbito. O fato dessas pragas deixarem suas regiões de origem sem seus inimigos naturais, capazes de manter suas populações em níveis aceitáveis, contribuem para sua alta população no novo ambiente e o status de praga”.

As espécies exóticas, principalmente as plantas invasoras e também os insetos, são atualmente consideradas em muitos países uma das principais ameaças para a conservação das espécies nativas.

Como se trata usualmente da introdução de um organismo vivo de uma região a outra, riscos ecológicos estão em maior ou menor proporção envolvidos e é neste particular que os laboratórios de quarentena desempenham um papel preponderante. Ainda conforme Sá, “são nestes laboratórios que os inimigos naturais exóticos são introduzidos, tem sua identificação confirmada e onde são retirados os possíveis contaminantes causadores de doenças e hiperparasitóides. Sempre que necessário, é nesse ambiente também que se realizam estudos relativos a seus possíveis impactos indesejáveis no novo ambiente”.

Esses laboratórios propiciam tranquilidade ao público em geral sobre os perigos de importação de organismos exóticos e também protegem os pesquisadores de possíveis introduções acidentais não desejadas. Foram exemplificados três pragas exóticas (de fora do país) recém chegadas infestando hortos florestais de eucalipto em diversos estados brasileiros.

“Estamos procedendo a importação de agentes de controle biológico dessas pragas de florestas, como o psilídeo de concha, o percevejo bronzeado e a vespa da galha, para não comprometer o agronegócio brasileiro na exportação de papel e celulose, produção de carvão vegetal para a siderurgia,lenha, mourões, postes, cercas entre outros produtos derivados da cultura do eucalipto”.

O controle biológico da praga é um método natural que reduz de 30 a até 80% o nível de incidência do inseto nas florestas e se dá por meio de vespinhas, ou sejam, bioagentes de controle importados. O controle químico com inseticidas é um método caro, de alto impacto ambiental e tem efeito temporário nos hortos florestais de eucalipto.

Sá enfatiza que a garantia de segurança de cada introdução de agentes biológicos é de vital importância para manter a imagem do controle biológico clássico como uma forma segura de um controle alternativo de pragas. “Portanto, toda introdução deve ser realizada de maneira oficial, por instituições e pessoas credenciadas, justificando a existência de laboratórios de quarentena para inimigos naturais, cuja função deve ser de facilitar a atuação dos pesquisadores na área de controle biológico, promovendo o uso desta forma de controle”.

Logo após as palestras, os alunos visitaram o Laboratório de Ecotoxicologia e Biossegurança. Foram recebidos pelo pesquisador Claudio Jonsson, que falou sobre o uso intensivo de agroquímicos, lodo de esgoto e biopesticidas, que contribuem na diminuição de perdas de culturas agrícolas e promovem o aumento da produtividade. Contudo esses agentes podem contaminar os corpos de água e ocasionar efeitos adversos nos organismos que habitam estes compartimentos. Neste contexto, estudos de avaliação toxicológica em laboratório com organismos de diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar servem como ferramenta para fornecer informações quanto ao estabelecimento de limites máximos permissíveis, monitorar áreas degradadas e testar a eficiência de processos de remoção de poluentes.

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