Vazio sanitário é oportunidade para proteger a produtividade nas lavouras de soja
Especialista da Ourofino Agrociência dá dicas de manejo, como o controle de plantas daninhas e a eliminação da soja tiguera
A leprose dos citros sempre foi uma doença importante na citricultura brasileira, tanto pelos danos causados à produção, qualidade cosmética da fruta e definhamento das plantas, como pelo alto custo de controle. No entanto, nos últimos cinco anos, a doença tem chamado mais a atenção dos citricultores do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais pelo aumento na participação da queda prematura de frutos. Na safra de 2016/2017, a taxa de queda por leprose foi de 0,25%, correspondendo a 700 mil caixas de 40,8 kg. Na safra de 2020/2021, a leprose derrubou precocemente 5,8 milhões de caixas (taxa de queda de 1,7%) (veja o gráfico abaixo). Além disso, tem se falado muito sobre a dificuldade de controle do ácaro da leprose, observada pela redução do período de controle obtido após a aplicação do acaricida, resultando em um maior número de aplicações por safra.
Até o início dos anos 2000, o controle do ácaro da leprose era baseado na sua densidade populacional e no histórico da presença do vírus da leprose nos talhões. O nível de ação, ou a infestação do ácaro para a aplicação de acaricida, variava de 1 a 10% dos órgãos amostrados com a presença do ácaro, dependendo da aversão do citricultor ao risco. Para estimar o nível de infestação do ácaro no talhão, o monitoramento era realizado a cada 7 ou 10 dias, em 1 a 2% das plantas do talhão, observando-se em cada planta a presença do ácaro em 3 a 5 frutos ou, na ausência de frutos, nos primeiros 30 cm de ramos. Atingido o nível de ação, a aplicação de acaricidas era feita rapidamente observando-se a rotação de produtos de diferentes modos de ação. Conseguia-se assim períodos de controle acima de 300 dias entre a aplicação do acaricida e o momento em que a infestação do ácaro atingia novamente o nível de ação estabelecido. Com este manejo, com menos de duas aplicações por ano, salvo em anos extremamente favoráveis ao ácaro, eram raros os casos de epidemias de leprose nos pomares.
Desde então, algumas mudanças na citricultura têm tornado mais difícil o controle do ácaro da leprose e contribuído para o aumento da doença nos pomares. Veja a seguir alguns erros comuns, orientações e novas descobertas das pesquisas:
O monitoramento da população do ácaro da leprose é essencial para embasar a tomada de ação de controle. A amostragem, como recomendada acima, incorre em erros de estimativa até 70%, sendo comum que diferentes inspetores, amostrando o mesmo talhão no mesmo dia, cheguem a estimativas diferentes de infestação. Além disso, nesta amostragem o mesmo número de frutos e/ou ramos é amostrado por planta independentemente da quantidade de frutos na planta. Para diminuir este erro amostral, a porcentagem de plantas amostradas por talhão e o número de frutos e/ou ramos amostrados por planta devem ser aumentados considerando a carga de frutos na planta. Também, o intervalo entre amostragens deve ser reduzido ou o número de inspetores em cada amostragem aumentado. Porém, com o aumento do custo da mão-de-obra para inspeção de pragas no campo, o monitoramento está cada vez menos intenso. É comum observar intervalos entre inspeções acima de 15 dias, e não raro de 30 dias. Também, se observa uma redução no tamanho da amostra por talhão, com menos de 1% das plantas amostradas e com a observação de menos frutos e/ou ramos por planta. Tudo isso leva a maiores erros da estimativa da densidade populacional do ácaro e a uma detecção muitas vezes bem acima do nível de ação estipulado.
Uma vez que o nível de ação for detectado no talhão, a aplicação do acaricida deveria ser feita imediatamente. Entretanto, na tentativa de reduzir os custos de produção, o parque de equipamentos e pulverizadores está cada vez mais enxuto e, muitas vezes, não há máquinas disponíveis para a aplicação do acaricida no momento da detecção do nível de ação. Desta forma, é comum que a aplicação do acaricida seja feita mais de duas semanas após a detecção do nível de ação, o que faz com que, no momento da aplicação do acaricida, a população do ácaro esteja em uma densidade bem acima do nível de ação e, mesmo que o acaricida tenha a mesma eficiência de controle do ácaro (cause 90% de mortalidade), a população do ácaro sobrevivente à aplicação será maior e, consequentemente, levará menos tempo para atingir novamente o nível de ação, resultando em um menor período de controle do ácaro pelo acaricida.
Para um bom controle do ácaro da leprose, o acaricida deve ser aplicado de modo a ter uma boa deposição e cobertura acima de 50% sobre os frutos, ramos e folhas localizados no interior da planta e por toda sua copa. Aplicação de volume de calda entre 8 a 10 mil L/ha em pomares com plantas adultas era comum, gerando altos custos e desperdício de água e produto. Nos anos 2000, aumentando-se o número de bicos no ramal de pulverização e usando bicos que produzem gotas finas (100 a 200 µm de diâmetro mediano volumétrico), para maior penetração das gotas no interior da copa da planta, foi possível reduzir o volume de calda para 2 a 3 mil L/ha em pomares adultos (100 a 150 mL/m3 de copa), obtendo-se a mesma eficiência de controle do ácaro e sem a necessidade de corrigir a dose do acaricida. Entretanto, não é raro ver citricultores utilizando equipamentos mal regulados e reduzindo o volume de calda de acaricida apenas aumentando a velocidade do turbopulverizador ou alterando a pressão de trabalho sem adotar a tecnologia da maneira correta. Outro problema comum, principalmente em pomares com plantas muito altas (>3,5 m), é o posicionamento do centro da turbina do pulverizador abaixo da altura média da copa das plantas, o que desfavorece a aplicação do acaricida do teço superior da planta.
O adensamento dos pomares na linha de plantio dificulta a passagem dos inspetores de pragas de uma rua para outra, atrapalhando a inspeção do ácaro, e aumenta o contato entre as plantas, o que facilita a dispersão do ácaro de uma planta para a outra. Já o adensamento entre linhas de plantio, com a copa das plantas muito próximas aos bicos de pulverização, muitas vezes até encostando nos bicos, impede a boa formação do leque de pulverização e leva a uma má distribuição de cobertura e deposição da calda aplicada, tendo áreas sem acaricida, reduzindo a eficiência de controle. O ideal é que os bicos de pulverização estejam a pelo menos 40 cm da extremidade da copa da planta.
Como forma de reduzir custos, as misturas de produtos no tanque de pulverização são realizadas e algumas delas podem afetar a eficácia dos acaricidas, devido às alterações no pH da calda e na condutividade elétrica, bem como pela incompatibilidade entre os compostos. A mistura dos fertilizantes foliares fosfito de potássio, sulfato de magnésio e a mistura dos cloretos de zinco e de manganês com o sulfato de magnésio resultaram na diminuição da eficácia dos acaricidas propargite e acrinatrina sobre o ácaro da leprose. Em condições de laboratório, observou-se que a mistura dos inseticidas imidacloprido, bifentrina, cipermetrina e fosmete com o acaricida espirodiclofeno, embora não apresente incompatilidade física e química, reduziu a mortalidade do ácaro da leprose de 10 a 22%. Nenhuma redução da mortalidade foi observada nas misturas dos acaricidas propargite e ciflumetofem com os inseticidas. Uma menor eficiência do acaricida na mortalidade do ácaro da leprose refletirá em menor período de controle do acaricida aplicado.
Aplicações sucessivas de uma mesma molécula acaricida provoca a seleção de populações de ácaros resistentes ao acaricida aplicado, que, consequentemente, perde sua eficiência de controle. Existem relatos da resistência do ácaro da leprose para os acaricidas hexitiazox, dicofol, propargite, flufenoxuron e, mais recentemente, para o espirodiclofeno. Portanto, a rotação de acaricidas de diferentes grupos químicos e modo de ação é recomendada para o manejo do ácaro da leprose. Porém, como atualmente há poucos acaricidas disponíveis e com boa eficiência de controle do ácaro da leprose, a rotação de acaricidas é bastante dificultada. A necessidade de novos acaricidas é urgente.
A presença da pinta preta e do cancro cítrico no cinturão citrícola aumentou consideravelmente o uso de fungicidas ou produtos à base de cobre nos pomares, assim como o controle do psilídeo do greening, a partir de 2004, aumentou o uso e a frequência de inseticidas. Isso acabou por favorecer o ácaro da leprose, visto que muitos inseticidas e fungicidas afetam os seus inimigos naturais (fungos entomopatogênicos, ácaros e insetos predadores). Além disso, é bastante relatado o efeito de inseticidas, principalmente piretróides e neonicotinóides, estimulando a reprodução ou diminuindo a mortalidade de ácaros em diversas culturas. Embora ainda não comprovado para o ácaro da leprose, acredita-se que este efeito possa estar ocorrendo devido às aplicações sucessivas de inseticidas para o controle do psilídeo. As doses dos inseticidas usadas para o controle do psilídeo não causam mortalidade no ácaro da leprose, mas poderiam estimular sua oviposição, aumentar a viabilidade dos ovos ou sua longevidade, o que resultaria no aumento da velocidade de reinfestação do pomar após a aplicação do acaricida.
Condições climáticas favoráveis ao ácaro da leprose e desfavoráveis ao seu controle têm sido observadas no cinturão citrícola nos últimos anos. Períodos com dias longos, alta temperatura, baixa precipitação pluviométrica, baixa umidade relativa do ar e baixa disponibilidade hídrica no solo favorecem o aumento populacional do ácaro da leprose. Além, disso, estas mesmas condições favorecem a evaporação das gotas finas e muito finas, durante a aplicação do acaricida, reduzindo a cobertura e deposição da calda sobre as plantas.
Concluindo, existem diversos motivos responsáveis pelo aumento da dificuldade de controle do ácaro e dos danos de leprose nos pomares. Todos devem ser levados em conta e corrigidos visando o melhor controle do ácaro e da doença.
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